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Araguaia: Exército acha homem que enterrou o guerrilheiro Osvaldão

18 set 2009 - 00h27
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O ex-guerrilheiro e ex-lavrador Josias Gonçalves de Sousa, conhecido por Jonas, 68 anos, revelou dois segredos que guardava havia 35 anos: foi ele quem enterrou o mais famoso guerrilheiro do PCdoB no Araguaia, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão e, com fartura de detalhes, indicou o terreno que escavou para sepultar o corpo do homem mais temido pelas Forças Armadas nos quase três anos de duração do conflito.

O local, anotado pelo grupo chefiado pelo general Mário Lucio Araújo, fica mais ou menos no centro de uma área de 400 m². A área, demarcada na última terça-feira, fica na antiga base do Exército, Marinha e Aeronáutica, na área urbana de Xambioá (TO), para onde o corpo do guerrilheiro foi levado entre fevereiro e março de 1974 quando a guerrilha começava a ser aniquilada pelos pelotões de selva.

Pela descrição, trata-se de um ponto em declive entre as casas que serviam de farmácia e cozinha e um poço artesiano que abastecia a área militar, a cerca de 60 m da margem do Rio Araguaia. O poço ainda está lá, mas as antigas instalações foram consumidas pelo tempo.

Os militares, peritos e geólogos que fazem parte da expedição fizeram um croqui e o georefenciamento via satélite do local para orientar as buscas e escavações que serão realizadas no próximo dia 28. Falta apenas cruzar as informações com o depoimento que será prestado pelo ex-soldado Raimundo Pereira de Melo, que serviu na mesma base.

Jonas é uma das mais importantes testemunhas oculares do episódio. Recrutado pela guerrilha aos 17 anos de idade, se entregou ao Exército em 1973 e, levado para a mesma base em Xambioá, conviveu com vários guerrilheiros presos, que depois seriam executados pelos militares. Um deles foi o estudante de medicina do Rio, Tobias Pereira Júnior que, preso em dezembro de 1973, passou a cuidar da farmácia dos militares até ser fuzilado meses depois.

Jonas participou da guerrilha por cerca de dez meses e livrou-se da morte graças a um depoimento de Tobias informando aos militares que trava-se de um morador e não militante do PCdoB. Foi solto quando já não havia guerrilheiro vivo na área, mas seu nome figurou na lista dos desaparecidos políticos até 2005. Localizado por observadores que ajudam o Exército, até a última terça-feira ainda não havia informações sobre seu paradeiro. Mudou várias vezes de residência por temer represália. Viu também presas na base as guerrilhas desaparecidas Sueli Kanayama, Telma Regina Corrêa e Áurea Elisa Valadão.

"O grupo todo achou que o depoimento dele tem consistência", disse quinta-feira o coronel Amauri Silvestre, o assessor de comunicação do Exército que acompanha a maior expedição já organizada pelo governo para tentar resgatar os corpos dos 59 militantes do PCdoB. A descrição foi acompanhada 25 civis e 12 militares que integram a expedição.

"Ele nunca havia mencionado o local e nem que enterrou o Osvaldão. O relato é forte, coerente e autêntico", afirma a jornalista e pesquisadora Myrian Alves, que integra o grupo como observadora.

A cova

Jonas contou que logo depois da chegada de um helicóptero com o guerrilheiro morto, um oficial se aproximou dele e ordenou: "enterra teu parente". Diz diz ter cavado uma "cova cristã", com sete palmos de fundura. Na terça-feira, quando os integrantes do grupo pediram que explicasse o que era a tal de cova, ele levantou a mão até a altura do peito.

Como é franzino, os militares estimaram em cerca de um metro de profundidade o buraco onde teria sido depositado o corpo do homem que se transformou num mito na região.

Militar, campeão de boxe pelo Botafogo, engenheiro de mina e o quadro mais capacitado que o PCdoB enviou para a região, Osvaldão chegou ao Araguaia no final de 1966 e virou o mais importante comandante da guerrilha. Foi caçador, agricultor, garimpeiro e dono de garimpo. Negro, corpulento, dois metros de altura, era uma figura inconfundível, idolatrada pelos camponeses mas odiada pelos militares.

O mais importante deles, o então major Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, ao se infiltrar na área para levantar as primeiras informações, teria visto Osvaldão em reuniões com garimpeiros. Concluiu que era o guerrilheiro mais preparado. Num dos relatórios sobre a mais importante operação, a Sucuri, Curió recomenda aos militares infiltrados discrição, mas abre uma única exceção: se surgisse oportunidade com certeza de sucesso Osvaldão deveria ser morto.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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