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Telemarketing que virou investidora com reuniões na ONU lembra da infância “em casa simples, de dois cômodos”

Executiva descreve trajetória até o dia em que resolveu arrumar um emprego para pagar escola particular, e deu uma guinada

1 set 2025 - 04h59
(atualizado em 1/10/2025 às 14h34)
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Resumo
Executiva e investidora, Thaís Borges relembra a infância em casas simples da periferia paulistana. Hoje, aos 44 anos, entre reuniões na ONU e projetos no Brasil, apoia mulheres negras empreendedoras que buscam transformar suas realidades.
Thaís Borges, executiva que investe em mulheres negras periféricas após superar infância marcada por pobreza e preconceitos.
Thaís Borges, executiva que investe em mulheres negras periféricas após superar infância marcada por pobreza e preconceitos.
Foto: Divulgação

É fácil ficar sabendo, em alguns cliques, da atuação de Thaís Borges, 44 anos, mulher negra da periferia paulistana, executiva vivendo entre uma reunião na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, e os investimentos em projetos de outras mulheres negras periféricas, no Brasil.

Porém, uma parte pouco conhecida de sua trajetória são os primeiros anos de vida no “quilombo”, conforme explica na entrevista exclusiva a seguir. Antes, a explicação sobre a reunião na ONU: foi no mês passado, no maior encontro brasileiro de sustentabilidade corporativa no exterior, o Sustainable Development Goals (SDGs).

Thaís representou a Ella Impacta, iniciativa global originada na ONU que visa oferecer financiamento para mulheres empreendedoras periféricas. Agora, sim, ela conta como chegou à decisão que mudaria completamente sua trajetória: começar a trabalhar para pagar escola particular.

Thaís no colo da mãe, com o irmão ao lado. Uma das raras ocasiões em que periféricos faziam fotos nos anos nos anos 80 era nos aniversários.
Thaís no colo da mãe, com o irmão ao lado. Uma das raras ocasiões em que periféricos faziam fotos nos anos nos anos 80 era nos aniversários.
Foto: Arquivo pessoal

Qual seu bairro de infância?

Morei na Casa Verde Alta, na zona norte, em uma casa simples de dois cômodos, que carinhosamente chamo até hoje de quilombo, construída no terreno dos meus avós, até hoje compartilhado com boa parte da família e até alguns inquilinos. Depois, meu pai realizou o sonho de comprar nossa casa no Jardim Robru, em Guaianazes, zona leste. Foi lá que vivi parte importante da infância, entre os desafios da estrutura precária e a força de uma família que fazia de tudo para crescer.

Pode descrever o bairro?

Na Casa Verde Alta a rua era asfaltada, mas em Guaianazes, a rua era de terra. A casa onde moramos estava mal construída, sem janelas e sem acabamento. Lembro de presenciar cenas de violência pela fresta dos buracos da parede. Ainda assim, vivemos ali por quase cinco anos, com meu pai tentando aos poucos melhorar a estrutura da casa. Mas não foi possível finalizá-la. Ele acabou vendendo o imóvel ainda inacabado, na tentativa de buscarmos uma vida com um pouco mais de dignidade.

O “quilombo”, propriedade da família de Thaís na Casa Verde Alta, zona norte de São Paulo, onde ela viveu experiências decisivas.
O “quilombo”, propriedade da família de Thaís na Casa Verde Alta, zona norte de São Paulo, onde ela viveu experiências decisivas.
Foto: Arquivo pessoal

Como era sua vida social?

Eu sempre fui uma menina bastante resguardada. Sofri bastante preconceito nas poucas vezes que saía pra brincar com outras meninas da rua, principalmente por causa do meu cabelo crespo. Lembro de sair com tranças de raiz feitas pela minha mãe e voltar com a cabeça cheia de giz que as coleguinhas jogavam. Eu não percebia, mas quando chegava em casa meus pais me repreendiam por eu aceitar e isso machucava. Aos poucos, passaram a não permitir que eu brincasse fora de casa, para me proteger dessas situações.

Além da casa, onde mais te acolhiam?

O único lugar onde eu me sentia verdadeiramente acolhida era na igreja. Lá eu tinha amigos que me respeitavam e me faziam sentir parte de algo bom. Foi também nesse ambiente que comecei a desenvolver minha fé, minha oratória e o senso de comunidade que carrego até hoje.

Da zona norte de São Paulo, passando por Guaianazes, na zona leste, e chegando à ONU, Thaís Borges fez carreira com impacto global.
Da zona norte de São Paulo, passando por Guaianazes, na zona leste, e chegando à ONU, Thaís Borges fez carreira com impacto global.
Foto: Divulgação

Em que seus pais trabalhavam?

Meu pai teve muitos empregos, principalmente em gráficas como impressor off set, sempre foi um dos melhores operadores, mas não conseguia se fixar em emprego e sempre sonhou em empreender. Chegou a montar uma sorveteria, que se tornou o negócio da família por um tempo. Minha mãe, por sua vez, trabalhava meio período como copeira em uma escolinha de um irmão da igreja. Era uma forma de ajudar nas contas sem nos deixar completamente sozinhos.

Esta última pergunta leva ao início da sua trajetória profissional registrada, inclusive, no seu livro Furei a Bolha. A pergunta é sobre escola: você estudou em escola pública?

Sim, estudei em escola pública durante o ensino fundamental. Foi no ensino médio que consegui realizar o sonho de estudar em uma escola particular. Para isso, comecei a trabalhar desde cedo como recepcionista, e com meu próprio esforço paguei os estudos. Foi uma decisão muito importante na minha vida. Estudar em uma escola particular era uma forma de furar a bolha que me cercava, buscar algo além do que me era imposto.

Fonte: Visão do Corre
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