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Por que em pleno 2022 ainda é confortável ser racista?

Enquanto não combatermos o racismo de forma estrutural, estamos fadados a ver pessoas racistas se sentindo no poder de disseminar o ódio

9 ago 2022 - 05h00
(atualizado às 15h18)
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O momento atual do Brasil legitima esse tipo de pessoa a falar desta maneira
O momento atual do Brasil legitima esse tipo de pessoa a falar desta maneira
Foto: Mais Goiás

Na semana passada, mais um ato racista ganhou notoriedade nas mídias. Dessa vez um homem, depois identificado como Wilho da Silva Brito, de 39 anos, foi filmado falando absurdos de cunho racista e homofóbico. Ele falou coisas como "Não gosto de negros. Se negro prestasse, não era discriminado pela sociedade" e, após ser chamado de racista, falou também "Sou mesmo, quem gosta de macaco é zoológico". Após o vídeo ter repercutido na internet e ganhando espaço nas mídias tradicionais, o racista foi identificado e preso. Para além do racismo, que é o mais importante dessa história, e jamais deve ficar em segundo plano, outros questionamentos devem ser pensados nesse caso.

Primeiro ponto de toda essa situação é como alguém, em pleno 2022, se sente confortável e confiante para ser abertamente racista. Pode ser observado no vídeo que em momento algum o meliante se intimida e repensa suas falas. Ele não hesita nas ofensas, muito pelo contrário, a medida que ele vai falando, vai ganhando mais confiança e sendo cada vez mais incisivo. Não tenho dúvida que ele só conseguiu agir daquela maneira pela sensação de impunidade. Se o Brasil fosse exímio em punir crimes de ódio, como o racismo, ele pensaria duas ou três vezes antes de falar os absurdos que falou.

Outro elemento desse caso que gerou muitas falas foi o fato de que, para uma galera, o Wilho da Silva não é branco. Muitos trataram isso de forma irônica falando coisas como “5 minutos na Europa ele descobre se é branco”, “Esse cara pensa que é ariano, né?”, “Hitler ia ser o primeiro a fazer ele lembrar que não é branco”, “Supremacista pardo/latino” entre outras coisas. Essas falas tiram o foco da discussão, o racismo. 

Tratar esse tipo de situação dessa forma irônica não ajuda a debater e resolver o principal. O fato dele ser pardo, latino ou qualquer outra coisa não muda o fato de ele se sentir confortável com seu racismo.

Essas falas, para ser bem sincero, mais atrapalha do que ajuda. Nós não estamos na Europa, nem nos Estados Unidos e nem na África do Sul. Se ele precisa sair do Brasil para não ser visto como branco, só prova que aqui ele é lido, na maioria dos estados, como branco. Daqui a pouco aparecerá desinformado por aí dizendo que ele sofre racismo da mesma forma que Lázaro Ramos. 

E esse debate acerca do colorismo e do pardismo no Brasil deve ser mais falado, sabe por quê? Nessa conversa de que todo mundo é pardo, ou que só porque fulano não tem cabelo liso, não é branco, que tem um monte de gente que não é negra roubando vagas destinadas a pessoas negras através das cotas. 

E com isso não quero dizer que ele seja branco como os brancos europeus. O que estou dizendo é que temos que parar de importar conceitos, de forma integral, de outros países. Pessoas como Wilho é exatamente o que o governo eugenista almejou quando pensou na miscigenação como forma de extinguir a população negra no Brasil.

Por fim, eu gostaria muito de lembrar que muitas das falas do racista da biblioteca não são novidades. Muitas pessoas do nosso cotidiano pensam exatamente como ele. Há pouco tempo uma tal blogueira, que não vou falar para não dar mídia, falou, sem o menor pudor, que o racismo é "natural e instintivo" porque negros "cometem mais crimes". O momento atual do Brasil legitima esse tipo de pessoaa a falar desta maneira. 

Não por coincidência que em três anos o número de grupos neonazistas cresceu 270% no país. Digo isso porque me preocupa muito quando a sociedade elege uma pessoa para depositar toda a culpa do racismo, pois isso faz que foquemos na consequência e não na causa.

Somos uma sociedade racista e enquanto não combatermos o racismo de forma estrutural, estamos fadados a ver pessoas racistas se sentindo no direito de pôr para fora todo seu ódio e, eventualmente, poderemos vê-las assumindo a presidência e legitimando pensamentos retrógrados.

Fonte: Luã Andrade
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