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A cada branco alvo de brincadeira, há centenas de negros vítimas de racismo

O samba é para todos, mas a ânsia do protagonismo pode ser um problema

22 ago 2025 - 18h36
(atualizado às 18h36)
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Vídeo que viralizou nas redes mostra mulher branca sendo hostilizada em roda de samba
Vídeo que viralizou nas redes mostra mulher branca sendo hostilizada em roda de samba
Foto: Reprodução/Twittwr

Viralizou um vídeo de um samba onde uma mulher loira é tratada com desdém por uma mulher negra. Não se tem informações mais detalhadas sobre o assunto. Não se sabe se tinha alguma troca de farpa pregressa, ou algo nesse sentido. A gravação mostra uma moça branca ligeiramente canhestra, e muito empolgada, sambando perto da roda e no meio de mulheres negras que, aparentemente, não a conheciam. A música que tocava era "Cabelo Pixaim" de Jorge Aragão. Uma das mulheres negras começa a zombar da performance da moça loira e ao final exalta uma outra mulher negra, essa com cabelo black power, de maneira acintosa para ressaltar seu descontentamento.

A internet deu uma visibilidade gigantesca a esse fato. Visibilidade que não se vê em muitos casos de racismo, diga-se de passagem, dizendo inclusive que a moça branca sofreu racismo reverso, coisa que não existe. Particularmente eu não me comporto dessa forma quando vejo brancos performáticos no samba, mas entendo o incômodo de alguns pares de raça, sobretudo quando as música tendem a ressaltar características negras que, muito provavelmente, boa parte das pessoas brancas já hostilizaram. Jamais se pode permitir que abram a boca para chamar uma zoeira no samba de racismo reverso, jamais mesmo.  Porque enquanto pessoas brancas estão sendo alvo de gracejos em roda de samba, pessoas negras estão sendo despidas no meio do mercado para provar que não roubaram nada.

Gente preta dificilmente tem protagonismo em ambientes que não foram construídos e forjados por elas, muito pelo contrário, na maioria dos ambientes pensados, construídos e frequentados por pessoas brancas, negros e negras sofrem com racismo. Racismo do mau atendimento, racismo da invisibilização e o racismo da dificuldade do acesso. Já as pessoas brancas em ambientes negros, se sentem tão confortaveis a ponto de irem para o meio da roda e meter dança e ainda assim, ser alvo de brincadeira de uma única pessoa, e não de todo o ambiente que é o que ocorre quando pessoas negras adentram em locais pensados para exclui-las. Ainda nessa linha de protagonismo, temos que ressaltar, e não sei se foi o caso, a angústia que algumas muitas pessoas brancas sentem de não estarem no centro das atenções e como elas agem de maneira caricata em busca dos holofotes ainda que esses sejam para uma suposta hostilização. Ficar de boa não é uma opção para parte dessa galera.

Eu posso estar enganado, mas eu já vi pessoas negras na oktoberfest, mas nunca vi elas no meio da roda cantando que era descendente do povo que veio da Alemanha. Assim como eu nunca vi pessoas brancas sendo alvo de gracejos em samba cantando “posso até gostar de alguém, mas é você que eu amo”. Pessoas brancas no samba são bem vindas sim. Pagam seu ingresso, consomem suas bebidas, fomentam o negócio, geralmente, geridos por gente negra, zero problemas. O que deve ter acontecido foi que gerou um incômodo uma pessoa branca tentando puxar o protagonismo durante uma música que exaltava a beleza negra que durantes décadas foi tratada como defeito.

O que mais incomoda nessa história é perceber a notoriedade que esse vídeo tomou. Como qualquer incômodo de gente branca vira manchete, como a galera abraça e afaga gente branca com uma facilidade ímpar. Uma pessoa negra reclamando de hostilidade é colocada como mimizenta, que interpretou errado e que está se vitimizando. Uma branca alvo de piada vira mártir de uma causa inexistente. Esse caso, ao meu ver, é mais uma prova escancarada de racismo estrutural e como qualquer bobagem que envolve branco ganha holofote sem o mínimo esforço. Esse é mais o tentáculo da branquitude que fez o famoso mendigato. Qualquer besteirinha envolvendo branco vira viral, preto para gerar empatia só sendo alvo de 80 tiros.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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