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Da marginalização à liderança

Prostituição, tráfico de drogas e preconceito. Como Bruniely Lemos rompeu a violenta barreira que mantém travestis às margens da sociedade

17 jul 2022 - 05h00
(atualizado em 19/7/2022 às 10h35)
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Bruniely ganhou o prêmio “Juntos Transformamos”, do Instituto Avon, e colocou em prática o projeto “Transborda”, uma associação sem fins lucrativos voltada para pessoas trans
Bruniely ganhou o prêmio “Juntos Transformamos”, do Instituto Avon, e colocou em prática o projeto “Transborda”, uma associação sem fins lucrativos voltada para pessoas trans
Foto: XisGênera / XisGênera

No dia 11 de julho, o Hotel Unique, em São Paulo, foi palco do encontro inédito entre centenas de empreendedores LGBTQIAP+, que após vivências marginalizadas, se tornam protagonistas da conversa, no palco, debaixo dos holofotes, movimentando o mercado brasileiro e assumindo a importância que merecem. 

Dentre os palestrantes do Contaí Summit, está Bruniely Lemos, travesti, 30 anos, nascida e criada em São José dos Campos, atualmente representante da Avon e Conselheira Estadual LGBTQIAP+.

"Para uma mulher trans, ao tomar a decisão de se transicionar, o abandono de familiares e amigos, assim como a exclusão social, são praticamente automáticos. Nesse momento, somos levadas para as margens da sociedade, sem direito a trabalho, saúde, e até afeto. Muitas encontram sobrevivência na prostituição e nas drogas, o que não foi diferente comigo", relata.

 Vinda de uma família evangelizada, muito rígida e sem informações, ao tornar-se a mulher que sempre foi, Bruniely viu todos lhe virarem as costas. 

 "A prostituição é muito violenta, a noite traz um lado sombrio, carregado de delinquentes marginais, traficantes, cafetões, gente de toda espécie. E é esse meio que forma a personalidade de muitas travestis, é ali que aprendemos que precisamos ser fortes se desejamos sobreviver.”

Com medo de entrar para as estatísticas – a expectativa de vida de travestis no Brasil é baixíssima – Bruniely saiu da prostituição e entrou no tráfico de drogas. Pouco tempo depois, foi presa em flagrante.

"Fui parar numa penitenciária masculina perto do Mato Grosso do Sul, chamada, Parque dos Monstros. Nunca me imaginei naquele lugar, sendo violada de todas as formas. Ali, refleti sobre minha vida, sobretudo o que eu fiz na minha adolescência".

Ao conquistar a liberdade, Bruniely saiu decidida a mudar e lutar contra a marginalização de pessoas trans. Tinha dificuldade para conseguir um emprego por ser ex-presidiária e travesti. Apesar de ter vários cursos de cabelo e maquiagem, os salões não a aceitavam.

"Comecei a ter pensamentos suicidas e negativos. Foi quando uma senhora me abordou em frente a um supermercado em São José dos Campos", relata.

Era uma revendedora de produtos Avon e estava cadastrando novas representantes na região compartilhando sua história de independência financeira graças àquela função. 

 "Eu sabia que naquele momento minha vida ia mudar. Fui aceita como revendedora e abracei aquela oportunidade que só dependia de mim. Comecei a ofertar gratuitamente para as meninas curso de beleza, automaquiagem, uma consultoria de beleza delas e vendia os produtos".

Com o sucesso nas vendas, Bruniely se viu reconhecida, foi convidada a fazer parte do programa “Empresárias da Beleza” e tornou-se líder de uma equipe. Uma mulher que viveu na pele a marginalização social, estava agora em um lugar de liderança.

“Naquele momento, eu me ajoelhei e chorei. Eu, Bruniely, empresária e líder de uma equipe. Cheguei a gerenciar 250 representantes por cinco anos”.

Em 2018, Bruniely ganhou o prêmio “Juntos Transformamos”, do Instituto Avon, e colocou em prática o projeto “Transborda”, uma associação sem fins lucrativos voltada exclusivamente para pessoas trans, enfrentando a violência, promovendo e garantindo direitos para essa população. 

Atualmente a associação, conta com mais de 300 pessoas trans assistidas, desde os 10 anos até aos 63 anos de idade. 

 “Quando vemos pessoas LGBTQIAP+ se encontrando para fazer e falar de negócio, para falar desse mercado de trabalho que nos exclui e nos silencia com dor, nos sentimos reconhecidas e fortalecidas", comemora.

Você sabe o que significa o “T” da sigla LGBTQIA+?:
Fonte: Redação Nós
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