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"Numa reunião, gritaram 'travesti'; ensinei a normalizarem minha presença"

Raquel Virgínia, CEO da Nhaí!, criou o evento Contaí Summit para empreendedores LGBTQIA+; o Terra transmite os painéis sexta, 15/07, às 14h

14 jul 2022 - 14h17
(atualizado às 15h18)
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Evento é promovido por Raquel Virgínia, mulher trans e preta, ex Baías e CEO da Nhaí
Evento é promovido por Raquel Virgínia, mulher trans e preta, ex Baías e CEO da Nhaí
Foto: Divulgação

Raquel Virgínia é mulher trans, preta, que nasceu e foi criada na periferia de São Paulo. Apaixonada por música, foi da banda musical de sucesso As Baías, com a qual conquistou duas indicações ao Grammy Latino. Hoje, como CEO da Nhaí!, empresa que ajuda marcas a se reposicionarem e aprender –  em todos os âmbitos e setores – sobre diversidade, Raquel está fazendo história ao olhar para o mercado empreendedor LGBTQIAP+.

Foi assim que criou o Contaí Summit, evento inédito que reúne centenas de lideranças e empreendedores da comunidade para alavancar suas redes de contato, seus aprendizados e seus negócios. A última edição aconteceu no Hotel Unique, em São Paulo, e contou com patrocínio da Avon, Ambev, Meta, Absolut e Chandon. O Terra é parceiro de mídia do evento e transmite os painéis na sexta-feira, dia 15 de julho, a partir das 14h, no Terra, YouTube,TikTok e Twitter de Terra NÓS. A seguir, confira a entrevista com Raquel Virgínia.

Terra NÓS: Conte um pouco da sua trajetória pessoal até se tornar artista.

Raquel: Sou nascida e criada no Jardim Miriam e Grajaú, regiões da periferia da Zona Sul da cidade de São Paulo. Minha mãe me criou de maneira solo, meu pai participou muito pouco. Eu era uma criança muito solitária, embora extrovertida e expansiva criativamente, sempre quis ser artista. Uma época, morei na Bahia, em Salvador, porque um dos meus maiores sonhos era puxar trio elétrico. Fiz faculdade de história na Universidade de São Paulo (USP) e lá fundei a banda “As Baías”, que me rendeu, entre muitas outras coisas, duas indicações ao Grammy Latino.

Terra NÓS: Você lembra de alguém que foi fundamental na sua vida?

Raquel: Não tenho uma única pessoa fundamental, mas o teatro foi fundamental na minha vida. Sempre amei coxia. Eu pedia para entrar em muitas coxias de teatros. Uma vez, Paulo Autran, me deixou ver um ensaio dele e me disse que artistas têm que sonhar e batalhar. Eu tinha 13 anos e aquilo foi muito forte para mim.

Terra NÓS: Quais você acredita que foram suas maiores barreiras na carreira?

Raquel: Acredito que uma grande barreira foi não ter tido ninguém na família com uma trajetória artística profissional. Não tinha ninguém para me dar dicas e alertas, a carreira artística tem muitas ciladas, começar do zero é complicado. No meu caso, nem entendo como zero e sim como -1, pois, além de tudo, sou negra e da periferia. Tudo foi sempre muito suado.

Terra NÓS: Como você superou seus obstáculos? 

Raquel: Superei e sigo superando, tendo muita disciplina e muito estudo. Gosto de conhecer muito o
mercado.

Terra NÓS: Como foi a construção das Baías?

Raquel: As Baías foi um grupo que era sobre paixão pela música. Ali aprendi a amar ainda mais essa arte que é a música popular brasileira. A banda também foi minha primeira conexão com o mercado profissional da arte. Aprendi a ser uma trabalhadora da arte. Porque arte é trabalho, disciplina e estudo. Como, tudo na vida.

Terra NÓS: Como decidiu fundar a Nhaí?


Raquel: Decidi fundar a Nhaí, pois visualizei no mercado a oportunidade de contribuição, para conseguirmos pensar na diversidade de maneira mais competitiva e mais robusta.

Terra NÓS: Como o mercado recebe seu posicionamento e suas ideias? Sente que hoje está mais fácil?

Raquel: O mercado tem absorvido bem nossas ideias. Ainda é novidade olhar a diversidade como potência econômica, mas isso está se tornando um hit, cada vez mais sonoro. São muitas gerações construindo esse repertório.

Terra NÓS: Tem algum exemplo ruim de algum líder de empresa que tenha te marcado? 

Raquel: Já entrei numa sala de reunião e um grupo de homens começou a gritar: “Travesti! Travesti!
Travesti!" como uma torcida de futebol. Mas levei com tranquilidade e, no momento certo, fui didática no sentido de que minha presença não precisa causar tamanha euforia quanto à minha identidade, e que podemos normalizar eu estar ali. Tudo com tranquilidade.

Terra NÓS: Exemplo bom?

Raquel: Todos os meus clientes são exemplos de bons relacionamentos que temos construído. Temos construído algo a muitas mãos. Essa é a potência e a beleza do nosso trabalho: a construção de um mercado com novas posturas e metas, o que requer engajamento e muita
contribuição de muitas partes.

Terra NÓS: Qual seu propósito hoje? Onde quer chegar?

Raquel: Tenho a missão e o propósito de ajudar a transformar a diversidade nessa potência econômica e de inovação que nós somos. Só quero conseguir contribuir para minha comunidade. Sei que podemos muito mais.

Fonte: Redação Nós
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