Com deficiência, sem negação
Não preciso provar que consigo ser o que não sou mais.
Caminho devagar, com a bengala à direita para permitir algum equilíbrio.
Visitei um prédio em construção, repleto de barreiras e caminhos difíceis. Na entrada, uma longa rampa. Depois, escadas sem corrimão ou luz. Havia obstáculos por todos os lados.
Meu corpo tem cada vez menos mobilidade, está endurecido, pesado e dolorido. Caminho devagar, com a bengala à direita para permitir algum equilíbrio. As sequelas mais severas da síndrome de Charcot-Marie-Tooth chegaram há algum tempo e agora, aos 51 anos, preciso reaprender meus movimentos.
Os pulmões afetados pela asma não funcionam como antes. Puxar o ar me cansa, respirar me deixa exausto.
Tenho restrições, claro, e preciso reconhecer esses limites para vencer cada um, no tempo certo, do melhor jeito.
Não sucumbo à autocomiseração, isso é totalmente desnecessário. Estou outro, diferente, com novas necessidades. Aceitação não é desistência. Negar o avanço das minhas deficiências e buscar uma atitude de herói é a pior escolha.
Não preciso provar que consigo ser o que não sou mais.
Incrível descobrir que o medo de passar por caminhos esburacados, desnivelados ou inclinados é o exato incentivo para continuar.
