COP 30: as principais tendências que definirão o futuro dos carros
Conferência global sobre o clima que acontece em Belém (PA) também discute mobilidade e seu ciclo de vida
A COP 30, realizada em Belém, destaca o papel do Brasil na descarbonização da mobilidade, com ênfase no uso de biocombustíveis, tecnologia flex e na redução da pegada de carbono ao longo do ciclo de vida dos veículos, posicionando o país como referência global na área.
A 30ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que acontece entre os dias 10 a 21 de novembro em Belém (PA), reúne diversas nações para debater os rumos da saúde do planeta. Porém, engana-se quem pensa que isso não tem nada a ver com carros. Montadoras como General Motors e GWM forneceram seus modelos para transporte durante o evento. Ao contrário do que se pensa, lá também se discute o futuro da mobilidade.
Ok, se há discussão sobre mobilidade na COP 30, do quê estamos falando exatamente? Muitas coisas permeiam as conversas sobre o tema, e algumas delas foram elucidadas por Masao Ukon, Diretor executivo e sócio-sênior do BCG do Boston Consulting Group (BCG).
A descarbonização no Brasil no longo prazo é um desses desafios. "Quando a gente pensa nas emissões dos veículos, não pode olhar somente a emissão do escapamento. A gente precisa olhar o ciclo de vida completo do veículo, desde a matéria-prima para sua construção, seu uso, as emissões e seu descarte", explica Masao.
E isso faz sentido. As emissões medidas durante o ciclo de vida de um veículo automotor, chamada "do berço ao túmulo" ajudam a entender quais são os principais agentes poluidores existentes na cadeia da mobilidade nacional. Em um estudo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) junto ao BCG, foi possível determinar que o modal de transportes é o terceiro maior emissor de gases poluentes do País, por exemplo.
Dentro desse fato, quem encabeça nas emissões são os veículos pesados, com 58% de todas as emissões em transportes. Em segundo lugar vem os veículos leves, com 34%. Mesmo assim, a resposta para tentar frear tais emissões, por meio da descarbonização, tem sido positiva no Brasil.
"Por aqui, a nossa frota tem algumas características interessantes que podem ser usadas como arsenal na descarbonização, como a tecnologia flex, que permite a utilização de uma combinação de combustíveis entre etanol e gasolina, independente da mistura. Qualquer combinação com o etanol tem a vantagem de quando você olha esse ciclo completo. Ele tem uma pegada de carbono muito menor do que a gasolina por ser um combustível renovável, um biocombustível", complemente o executivo.
Biocombustíveis e pegada menor de carbono colocam a frota nacional nas discussões da COP 30
Apesar dos avanços, o planeta requer respostas rápidas para sua crise de poluentes, então a descarbonização não pode esperar até o descarte para começar a surtir efeito. Nisso, entram os biocombustíveis. O Brasil ainda caminha a passos curtos na adoção de híbridos e elétricos, então o uso de combustíveis renováveis ajuda a acelerar o processo de descarbonização, além de elevar o País a uma posição de destaque frente a outras nações, ainda muito dependentes de matérias-primas poluentes, por exemplo.
Ainda segundo o estudo Anfavea/BCG, no segmento de veículos leves, revela-se que o Brasil é o país com menor nível de emissões entre todas as regiões avaliadas. O destaque vai para os modelos elétricos a bateria (BEVs) e para os que utilizam etanol, especialmente os híbridos (HEVs). O resultado se explica pelo papel do etanol, que surge como uma solução prática e eficiente para a frota atual, apresentando uma pegada de carbono semelhante, e em alguns casos até menor, à dos veículos elétricos, quando analisado todo o ciclo de vida do automóvel.
Contudo, elétricos são soluções a longo prazo, uma vez que o processo de fabricação das baterias ainda é danoso ao ambiente. Entretanto, apesar das emissões, o Brasil ainda tem uma pegada de carbono menor que a da China, ainda muito dependente do carvão para se "mover", por exemplo.
"O Brasil já parte de uma pegada de carbono menor, sustentada por uma matriz elétrica renovável e décadas de experiência no uso de biocombustíveis e frota flex. O estudo quantifica este ponto de partida e mostra o potencial de redução futura ao avançar em ganhos de eficiência ao longo das diferentes etapas da cadeia produtiva e de uso. São caminhos que permitem o país acelerar sua jornada de descarbonização automotiva e permanecer na vanguarda global", explica Masao.
Seja como for, o centro das atenções da COP 30, no que diz respeito a mobilidade, está no potencial do Brasil para mostrar seus artifícios para melhorar a pegada de carbono. Assim como participar mais ativamente da descarbonização de sua frota, e promovendo o uso de biocombustíveis e alternativas mais limpas para seu modal de transportes. Parece muita coisa, e de fato é.
"Então acho que na COP 30, o Brasil pode, sim, trazer exemplos e contribuições para o mundo, mas também aprender. Vai ser uma boa troca, uma oportunidade para tentar avançar nessas pautas tão importantes", conclui o executivo.