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Carros encalhados: por que os preços não baixam nem assim?

ANÁLISE: Principais montadoras pararam de produzir em março e isso tem uma razão: manter os preços dos carros nas alturas

30 mar 2023 - 13h03
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Em fevereiro de 2023, quase 130 mil veículos foram vendidos, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus
Em fevereiro de 2023, quase 130 mil veículos foram vendidos, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus
Foto: Nilton Fukuda/Estadão / Estadão

Um dos fatos mais surpreendentes de março foi a paralisação das principais montadoras de carros do Brasil: Stellantis, GM, Volkswagen e Hyundai. O que temos, portanto, é um cenário de carros encalhados nos pátios e nas concessionárias. O estoque está alto e, para não ter que baixar os preços, as fábricas deram um tempo na produção.

Há uma alegação de que o principal motivo foi a falta de peças. Não é bem assim. De fato, ainda existe escassez de componentes (principalmente eletrônicos), mas o que se busca nessas férias fora de época é reduzir a oferta de veículos.

Com os carros encalhados, o movimento natural do mercado seria a redução de preços. Mas a indústria automobilística raramente reduz preços; prefere fazer promoções, feirões, semana disso, dia daquilo etc. Só que isso não está funcionando tanto como já funcionou em outras épocas.

Então as montadoras preferem produzir menos e lucrar mais em cada carro vendido. Se sobrar carro, os preços terão obrigatoriamente que baixar. 

Em 2022, para dar uma ideia, a média de faturamento por carros das principais montadoras foi altíssimo. Na Toyota, R$ 204 mil por carro vendido. Na Jeep, R$ 193,7 mil. Na Nissan, R$ 153 mil. Na Honda, R$ 132,4 mil. Na Chevrolet, R$ 129,5 mil. Na Volkswagen, R$ 115,8 mil. Na Citroën, R$ 115,4 mil. Na Peugeot, R$ 112,8 mil. Na Fiat, R$ 105,5 mil. Na Hyundai, R$ 105 mil.

Somente a Renault teve uma média de faturamento inferior a R$ 100 mil por carro vendido no ano passado (R$ 99,3 mil). Os números são do Guia do Carro, baseado no faturamento total de cada marca (Jato Dynamics) e no volume de vendas (Fenabrave).

Os verdadeiros vilões do carro caro

Mas, a bem da verdade, as montadoras não são as únicas “vilãs” desta situação. A principal causa dos carros encalhados em janeiro e fevereiro (que forçou a parada de março) é a exorbitante taxa de juros determinada pelo Banco Central. Com os juros altíssimos, a classe média não consegue mais comprar carros.

Segundo a Anfavea, atualmente a venda de carros por financiamento representa apenas 30% do total. E as vendas à vista somam 70%. Trata-se de uma anomalia no mercado, pois historicamente (antes da pandemia) sempre foi o contrário: 70% de financiamento e 30% à vista. O resultado é que só quem tem capital guardado consegue comprar carros.

E as pessoas que ainda têm dinheiro para comprar carro são mais exigentes em termos de conteúdo. Por isso, os fabricantes colocaram vários itens de segurança, conveniência e conectividade nos automóveis, elevando seus preços. Para além disso, o planeta tem uma urgência climática que torna a legislação sobre emissões de carbono cada vez mais severa – e isso também impacta no preço dos automóveis.

Para completar, muitos equipamentos, principalmente eletrônicos, são importados, e o real (R$) está muito desvalorizado em relação às principais moedas estrangeiras. 

Para alguns analistas, só existe uma forma de aumentar a produção de veículos, baixar os preços e atender a todas as exigências ambientais e legais: por meio de um grande acordo que envolva as montadoras, o governo e, principalmente, um corte drástico nas taxas de juros dos bancos.

Um dos defensores dessa ideia é Antonio Filosa, CEO da Stellantis na América do Sul, que sugere a criação de um novo programa de carro popular, mais barato do que os atuais, porém com tecnologias que permitam descarbonizar a indústria automobilística brasileira. Seria um programa de renovação de frota. Assim, os brasileiros voltariam a sonhar com um carro zero km.

Guia do Carro
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