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A frase que viralizou, mas a Mercedes nunca disse oficialmente

Declaração de que motores a gasolina seriam “uma tecnologia de um século atrás” foi criação de editores de sites em busca de cliques

29 dez 2025 - 06h14
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Jörg Burzer, chefe de desenvolvimento da Mercedes-Benz
Jörg Burzer, chefe de desenvolvimento da Mercedes-Benz
Foto: Mercedes/Divulgação

Nos últimos dias, uma frase atribuída à Mercedes-Benz ganhou força nas redes sociais digitais e em sites de baixa relevância editorial: a de que os motores a gasolina seriam “uma tecnologia de um século atrás”. A afirmação viralizou justamente por soar definitiva – e por supostamente partir de um alto executivo da marca.

O Guia do Carro apurou que essa frase não foi dita nesses termos pela Mercedes, nem publicada assim pela grande imprensa internacional. Mas há, sim, um fato real na origem da história, que acabou sendo ampliado e modificado ao longo do caminho.

Onde a declaração realmente surgiu

A origem do conteúdo está em uma reportagem do portal alemão Golem, especializado em tecnologia e inovação. A publicação entrevistou Jörg Burzer, chefe de desenvolvimento da Mercedes-Benz, durante um evento realizado no Museu da Mercedes-Benz, na Alemanha. Na entrevista, Burzer afirmou que:

  • Os carros elétricos representam, para ele, o melhor conceito de mobilidade;
  • A eletromobilidade oferece maior potencial de inovação, por ser uma tecnologia mais recente;
  • Áreas como baterias, refrigeração e integração de sistemas concentram hoje os avanços mais relevantes.

O executivo também reconheceu que os motores a combustão continuam evoluindo, mas com ganhos cada vez mais incrementais quando comparados ao ritmo de desenvolvimento dos elétricos.

Novo Mercedes-AMG GT 63 S E Performance
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Foto: Mercedes/Divulgação

O que a Golem não publicou

Aqui está o ponto central da distorção, pois a reportagem da Golem:

  • Não traz a frase literal “tecnologia de um século atrás”;
  • Não desqualifica os motores a combustão de forma absoluta;
  • Não afirma que a Mercedes abandonará essa tecnologia.

A comparação feita por Burzer é técnica e contextual, não uma sentença definitiva sobre o fim da combustão. Mas, em tempos de submissão total aos algoritmos, a fala foi distorcida. A partir dessa entrevista, sites menores (inclusive no Brasil) e páginas de redes sociais passaram a:

  • Resumir a comparação técnica em frases de impacto;
  • Atribuir palavras que não aparecem no texto original;
  • Apresentar a opinião pessoal do executivo como posição oficial da empresa.

No Brasil, alguns desses sites transformaram o conteúdo em manchetes categóricas, sem deixar claro que se tratava de uma interpretação ampliada. O resultado foi uma frase chamativa, que ganhou destaque no Google, mas desconectada do contexto real.

E o que diz a grande imprensa

A Reuters, principal agência internacional que cobre a Mercedes, não publicou essa frase nem atribuiu à empresa uma declaração desse teor. Segundo a Reuters:

  • A Mercedes ainda aposta nos elétricos como principal vetor de inovação;
  • A empresa defende uma transição pragmática;
  • Os motores a combustão seguem no portfólio enquanto houver demanda;

Não há, portanto, confirmação oficial de que a marca tenha classificado os motores a gasolina como tecnologia ultrapassada.

Novo Mercedes-AMG GT 63 S E Performance
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Foto: Mercedes/Divulgação

Por que isso importa

Esse episódio ilustra um fenômeno cada vez mais comum: declarações técnicas viram slogans, comparações viram sentenças, nuance vira manchete. Quando isso acontece, o debate sobre eletrificação perde qualidade – e o leitor perde contexto. Por isso, sempre que possível, o Guia do Carro alerta seus leitores sobre exageros ou distorções nas manchetes.

Vale dizer também o Guia do Carro não se considera, não é e não pretende ser o “dono da verdade” factual. Portanto, se surgir alguma prova de que a frase que está nas manchetes realmente foi dita por um alto executivo da Mercedes, faremos a correção sem nenhum constrangimento.

Guia do Carro
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