Absolum revive o espírito dos beat'em ups com alma de roguelite
Um jogo de pancadaria que encontra novo fôlego ao se misturar com o gênero roguelite
O gênero beat 'em up andou meio quieto nos últimos anos. Mesmo com alguns bons retornos, ainda falta espaço para experiências novas que consigam misturar o estilo clássico de pancadaria com algo diferente. É por isso que Absolum chama atenção logo de cara.
Misturar o ritmo direto de um beat 'em up com a imprevisibilidade de um roguelite parece uma ideia arriscada, mas é justamente aí que o jogo brilha. Cada run tem o prazer do combate rápido, o peso de errar um golpe e a empolgação de descobrir algo novo no caminho. Um equilíbrio raro, que mostra como dois gêneros tão diferentes podem andar lado a lado quando há propósito por trás de cada escolha.
Os heróis de Talamh
Absolum nos leva até a terra fantasiosa de Talamh, um local destruído pela magia imposta por magos poderosos. Por causa disso, a magia passou a ser vista com maus olhos por todo o reino. O Rei Sol Azra e seu exército da Ordem Carmesim aproveitaram o momento em que os magos eram vistos como causadores de pânico e caos para escravizá-los.
Com os magos fora de cena, o Rei e seus súditos fiéis começaram a conquistar novos reinos e terras, já que não havia mais ninguém com força suficiente para detê-lo. É nesse cenário que entra em ação nosso grupo de heróis rebeldes, liderados pela alta feiticeira Uchawi, que buscam acabar com essa soberania e enfrentar os príncipes do Rei para trazer a paz a todos.
Após um incidente com a alta feiticeira, o jogo nos apresenta dois dos quatro personagens que são desbloqueados mais adiante da trama. A guerreira de espada longa Galandra e o anão com bacamarte Karl são os que estão disponíveis desde o começo. Entre os dois, a Galandra foi a que mais gostei de usar, principalmente pelo visual que lembra uma versão feminina e azul do Geralt de Rivia.
Falando da história, ela é bem interessante, mesmo que o objetivo principal seja chegar até o Rei. O mundo criado pela desenvolvedora é rico em detalhes, com algumas interações pelos caminhos que escolhemos para expandir o conhecimento sobre aquele universo. O melhor é que não se trata apenas de texto, mas de uma narração feita pela Uchawi com foco visual de fundo explicando cada elemento.
Visualmente, Absolum impressiona pelo cuidado em cada detalhe. A Supamonks conseguiu dar identidade própria a cada fase, mesmo quando ambientada na mesma região. Os cenários parecem saídos das melhores histórias de fantasia, com ossadas de criaturas que lembram dragões ao fundo, cavernas cheias de goblins e tavernas cheias de vida.
Já a trilha sonora merece destaque à parte. Gareth Coker, responsável pela duologia Ori e Halo Infinite, e Mick Gordon, conhecido por DOOM (2016), Prey e o reboot de Killer Instinct, entregam uma composição de peso. O trabalho da dupla em Absolum merece ser lembrado nas premiações do ano entre as melhores trilhas sonoras.
Um jogo Rogue 'em up
O ritmo das partidas é algo que me surpreendeu, principalmente por se tratar de um roguelite. Quando pensamos no gênero, sempre bate aquele receio de atacar demais e perder o progresso ao perecer, tendo que refazer todo o caminho e torcer para conseguir novas habilidades.
Mas a Dotemu e a Guard Crush Games seguiram outro caminho. Em Absolum, atacar sem parar e dominar a arte de desviar e bloquear golpes é essencial. A desenvolvedora aplicou tudo o que aprendeu com Streets of Rage 4 e entregou um combate excelente, com o ritmo de um beat 'em up, que eles mesmos brincam chamando de rogue 'em up.
Todos os confrontos que tive foram divertidos. Os golpes se conectam com fluidez, os inimigos reagem de forma natural, e ainda há um contador de combo recompensador de alcançar números altos. Além da trocação direta, os personagens também podem usar magias que ganham novas variações com o tempo, desbloqueadas com os pontos conquistados em cada run.
Outro ponto que merece destaque são os confrontos contra chefes. Eles têm visuais criativos dentro do contexto do mundo de fantasia e elevam a dificuldade na medida certa. É nesses momentos que saber escolher bem as habilidades adquiridas faz toda a diferença.
Se tratando do lado roguelite, ele traz basicamente o feijão com arroz do gênero. Aquela velha rotina de montar a build certa e escolher bem o que aparece pelo caminho. Mas entre tantos jogos do tipo, Absolum é um dos mais acolhedores nesse sentido. As escolhas para cada tentativa parecem mais claras e menos punitivas.
Há caminhos que servem só para acumular pontos e gastar na base, mas também existem rotas bloqueadas que começam a fazer mais sentido quando encontramos algum personagem que comenta sobre elas. Esse conteúdo secundário é bem interessante, principalmente porque dá aquela sensação de estar explorando algo novo. Como quando abrimos um portão que antes estava bloqueado e, ao voltar lá, encontramos novos personagens e uma missão extra para invadir um castelo.
Fora do combate, temos nossa base principal, onde dá para conversar com os personagens, treinar e aprimorar o herói. Os pontos são conquistados com combos altos e por uma pedrinha que aparece em certas conclusões de fase. Eles servem para liberar novas passivas, como aumento de dano em ataques fracos, além de desbloquear mais magias para os rebeldes que podemos controlar. É na base também que escolhemos com quem vamos tentar a próxima investida até o Rei.
Considerações
Absolum é o tipo de jogo que entende o que faz um bom combate funcionar. Cada run tem propósito, cada acerto tem peso e cada erro ensina alguma coisa. A mistura de gêneros poderia facilmente dar errado, mas a Dotemu e a Guard Crush Games encontraram um meio-termo que mantém o ritmo intenso sem abrir mão da progressão.
O visual impressiona, os personagens têm carisma e a trilha sonora leva o clima de fantasia a outro nível. Tudo parece trabalhar junto para fazer o jogador voltar mais uma vez, mesmo depois de uma derrota. É um daqueles títulos que lembram o motivo pelo qual o gênero beat 'em up ainda merece espaço.
Absolum esta disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5 e Switch.
Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Dotemu.