F1 em Interlagos: quando os dias preliminares valem o ingresso
O evento principal é no domingo, mas a sexta-feira e o sábado de Fórmula 1 em Interlagos já entregaram mais do que muito evento completo...
Quem já esteve em um Grande Prêmio de Fórmula 1 sabe como funciona: o ingresso vale para os três dias de atividade de pista. A sexta-feira não costuma ter arquibancadas lotadas, sendo ótima par explorar vários pontos e ver qual tem a melhor visão. Conhecer os quiosques e atividades disponíveis para o público. Na pista, os treinos livres, para quem está na arquibancada, são um tanto incompreensíveis. Servem mais para entrar no clima, ver ao vivo os carros, suas cores e formas, escutar os diferentes barulhos de cada motor aprender a distinguir quem é quem. É o dia de ambientação.
O sábado já costuma ser mais cheio que a sexta. As filas ficam maiores. A classificação traz um ambiente de tensão maior por já ter algo em jogo. É o dia de entrar no clima para o que vem a seguir, de criar expectativa.
E o domingo, claro é, o auge. No fim das contas, é o que importa. Todo o evento acontece para a corrida de domingo. Basta você perguntar para qualquer fã se ele puder escolher entre ir sexta e sábado ou apenas domingo, a resposta, quase que invariavelmente, será o domingo. Grosso modo, sexta-feira e sábado são os dias preliminares, e domingo é o que verdadeiramente importa.
Interlagos subvertendo a lógica
Falando sobre 2022, estamos no curso de uma temporada marcada por um grande domínio de Max Verstappen (foram 15 vitórias e contando). O domínio de um piloto traz previsibilidade, o que nunca é uma boa quando se fala em entretenimento. Várias corridas ficaram abaixo do esperado em termos de emoção. Se os eventos principais ficaram aquém, o que dizer dos preliminares?
Mas Interlagos não é uma das pistas mais amadas pelos fãs de Fórmula 1 mundo afora sem motivo. Ciente da alta capacidade do circuito paulistano de entregar ação, a FIA o escolheu para receber o fim de semana sprint mais uma vez (a única pista e ter o formato em 2021 e 2022), e o que se viu foi movimentação e empolgação desde o primeiro dia.
Na sexta-feira, o clima sempre instável de Interlagos proporcionou uma classificação das mais agitadas. No meio da indecisão na escolha de pneus e do timing certo para fugir da chuva, uma das poles mais improváveis de que se tem notícia, com Kevin Magnussen, da pequena Haas.
O sábado teve a corrida sprint. E fica cada vez mais claro que esse formato parece funcionar somente no Brasil. A FIA já tentou em Silverstone, em Monza, em Ímola e na Áustria, e nenhuma delas agradou. Já Interlagos que, como citado, recebeu a sprint pela segunda vez, pode se vangloriar de ter justamente as duas melhores corridas desse modelo já realizadas até hoje.
A sprint 2.0 em Interlagos
Kevin Magnussen segurou a ponta por duas voltas, o que não deixa de ser positivo, já que era esperado que Verstappen o despachasse logo de cara. Com um carro claramente inferior, ele não pôde resistir aos ataques e terminou no 8º lugar.
Verstappen não durou muito na liderança. Seus pneus perderam performance antes do esperado, e ele acabou superado por George Russell – não sem resistir bravamente por três voltas. Poucos depois, Carlos Sainz também alcançou e passou Verstappen. Na manobra, um toque danificou a ponta da asa do Red Bull do holandês.
Já com pneus em mau estado e com o dano na asa, Verstappen foi alcançado também por Lewis Hamilton. A ultrapassagem soou como um gol das arquibancadas de Interlagos. Hamilton, aliás, foi um dos grandes nomes do dia depois de largar em 8º e terminar em 3º. De corrida de recuperação em Interlagos, ele entende!
Perez foi outro que veio crescendo ao longo das 24 voltas, e chegou em 5º, perto de Verstappen. Ele até pediu à equipe que seu colega, já campeão, cedesse lugar. O ponto a mais e uma posição a menos no grid de domingo poderiam ajudar na briga com Charles Leclerc pelo 2º lugar no mundial. Mas a Red Bull, verstappista que só ela, não deu ouvidos.
Não foi só na frente que a corrida teve movimentação. As duplas de Alpine e Aston Martin se enroscaram em brigas caseiras. Logo na primeira volta, Esteban Ocon espremeu Fernando Alonso a Descida do Lago. Ainda na mesma volta, já na subida para os boxes, Alonso tentou passar o colega e tocou em sua traseira, danificando a própria asa (e tomando 5 segundos de pênalti).
Já na equipe verde, Lance Stroll fechou acintosamente a Sebastian Vettel na reta oposta, que teve que ir para a grama para evitar o choque. Stroll acabou punido em 10 segundos. É pouco, dado o histórico. O canadense havia feito absurdo semelhante ainda há pouco, nos Estados Unidos, quando fechou Alonso e causou um acidente que poderia ter sido bem mais grave. Alonso reclama da agressividade de Ocon enquanto companheiro de equipe. Ele está de saída rumo à Aston Martin, onde dividirá garagem com Stroll. O que era ruim, pode ficar pior...
Ainda sobre a sprint, boas atuações também de Vettel, Mick Schumacher e Daniel Ricciardo. As disputas se espalharam do começo ao fim do pelotão, em meia hora de ação ininterrupta.
A corrida principal, nesse domingo, terá a Mercedes na primeira fila pela primeira vez desde 2021. A Red Bull fecha a fila seguinte. Os carros prateados têm sua grande chance no ano de conquistar uma vitória, e Verstappen está focado em ampliar seu recorde de vitórias. O campeonato está decidido, mas isso não impede que a expectativa para o GP de São Paulo esteja lá no alto.
É justo dizer que os dois dias preliminares conseguiram entregar mais ação e emoção do que os três dias completos de várias outras etapas ao longo da temporada. Ao fim da sprint, a sensação era a de que 24 voltas foram muito pouco, e o gosto era de “quero mais”. Para nossa sorte, teremos mais. O domingo promete!