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F1: Aston Martin vai mal. Mas Stroll está muito bem

A montadora britânica vem sofrendo nos últimos tempos. Porém a equipe de F1 vai muito bem e pode seguir em frente sem problemas. Entenda

28 dez 2022 - 10h48
(atualizado às 11h33)
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Lawrence Stroll na apresentação do AMR22. Enquanto a montadora sofre, ele vai bem. E a equipe de F1 segue...
Lawrence Stroll na apresentação do AMR22. Enquanto a montadora sofre, ele vai bem. E a equipe de F1 segue...
Foto: Aston Martin F1 / divulgação

A indústria automobilistica vem sofrendo bastante nos últimos anos. Além de estar rediscutindo firmemente o seu papel na sociedade, enfrenta problemas de logística, fornecimento de peças e ainda uma guerra pelo meio. Alguns sofrem mais do que outros. Porém, uma que não faz parte da primeira linha e vem sofrendo bastante, tem surgido nos holofotes: a britânica Aston Martin.

Desde a sua fundação, em 1913, a empresa passou simplesmente por sete falências e teve muito mais problemas do que calmarias ao longo de sua existência. Em janeiro de 2020, após mais uma de suas diversas tempestades, um consórcio de investidores comandado por Lawrence Stroll adquiriu o controle da Aston Martin, que tinha suas ações listadas na Bolsa de Londres.

Este grupo de investidores, que passa por empresários do ramo farmacêutico e equipamentos pesados, passaram a tocar a fábrica. Entretanto, a situação não era tão fácil. Muitos investimentos foram realizados em novas instalações e em uma nova linha de produtos. Porém, os resultados não vinham e motivaram a mudança de comando.

Um pouco antes, em 2018, Stroll, um empresário que fez sua fortuna bilionária no ramo da moda, comandou  um grupo de investidores e comprou a Force India, que era do indiano Vijay Mallya e teve sua intervenção judicial decretada. Neste processo, o consórcio comandado pelo canadense superou a proposta de Dmitri Mazepin (sim, o pai de Nikita Mazepin) e levou o time.

Logo em seguida, Stroll trocou o nome da equipe para Racing Point e não fez segredo de que seu plano era atrelar ao time um nome emblemático. Sua especialidade nos negócios era juntar pessoas e construir marcas. Inicialmente, ele considerou usar o nome Lola e negociou com a família Brabham. Mas não chegou a um bom termo para ambas.

A Aston Martin surgiu como uma oportunidade. A empresa precisava de dinheiro e patinava para conseguir sair do atoleiro. Mesmo assim, era uma marca que tinha um grande apelo entre os fãs de automóveis. Uma das boas sacadas criadas ao longo dos anos foi ter atrelado seu nome ao agente James Bond. Um nome de peso desesperado por dinheiro.

Stroll assumiu o comando e logo depois veio o anúncio de que a Racing Point se tornaria Aston Martin a partir de 2021. Muita gente considerou que a marca inglesa assumiria o time. Em um documento de fevereiro de 2020, quando a equipe ainda era Racing Point, há uma autorização para que possa ter um acordo para que a Aston Martin pudesse ter participação na equipe como uma antecipação do acordo de patrocinio.

Extrato das resoluições escritas dos acionistas da Racing Point em fevereiro de 2020. Aqui já há a previsão de acordo com a Aston Martin
Extrato das resoluições escritas dos acionistas da Racing Point em fevereiro de 2020. Aqui já há a previsão de acordo com a Aston Martin
Foto: The Companies House

Uma rápida visita ao site governamental britânico The Companies House, que disponibiliza diversos dados sobre as empresas do Reino Unido, nos mostra que o time de F1 é Aston Martin só no nome. No balanço financeiro de 2021 e nas anotações dos acionistas da Racing Point de 17/02/2020, é deixado claro que o relacionamento entre a equipe e a montadora é para divulgação da marca, estimado em £20 milhões naquele ano. 

Aqui a descrição da ligação entre a Aston Martin e a equipe. Notar aqui também o detalhamento do salário de Lance Stroll.
Aqui a descrição da ligação entre a Aston Martin e a equipe. Notar aqui também o detalhamento do salário de Lance Stroll.
Foto: AMR GP - The Companies House

O máximo que se fala em alguma participação da Aston Martin no capital da empresa é o balanço de 2021, onde está descrito que a montadora tem o direito de subscrever até 5% do capital da equipe até o final do acordo de patrocínio. Neste mesmo documento, a empresa fala no acordo de patrocínio fechado com a petroleira Aramco, que prevê que os sauditas tem uma opção de comprar 10% das ações do time.

No balanço de 2021, a empresa informa que o acordo de patrocínio com a Aramco prevê a possibilidade de aquisição de parte do capital da empresa pelos sauditas
No balanço de 2021, a empresa informa que o acordo de patrocínio com a Aramco prevê a possibilidade de aquisição de parte do capital da empresa pelos sauditas
Foto: AMR GP / The Companies House

Na divulgação dos resultados financeiros de 2021 e no próprio site governamental, está claro que a AMR GP LTD (nome jurídico do time) só tem 2 diretores: Lawrence Stroll e Silas Chu, seu sócio de longa data em outras empreitadas. Em um determinado ponto é citado que a ligação de patrocínio entre a Aston Martin e a AMR é facilitada pelo fato do controlador da equipe ter uma participação muito importante na montadora como Presidente do Conselho de Administração.

Enquanto a equipe de F1 está com um investimento firme de £200 milhões em uma nova fábrica que deve ficar pronta no 2º semestre de 2023, a montadora vai sofrendo bastante. Stroll previa uma virada rápida nos resultados. Mas tinha que combinar com os adversários...

Desde que Lawrence Stroll assumiu o comando, a Aston Martin vai para o seu segundo CEO e teve a entrada de mais dois acionistas de peso: o Fundo Soberano Saudita e a montadora chinesa Geely. Os sauditas passaram a ser o segundo maior acionista individual, enquanto os chineses foram os últimos a entrar, em outubro deste ano. A Daimler (entra-se Mercedes) já fazia parte da estrutura acionária e hoje conta com menos de 2% das ações, além de fornecer  motores e outras soluções técnicas para a montadora

Desde quando oficialmente entraram na estrutura acionária, com 7,6% das ações, os chineses vem buscando uma possível aquisição do controle da empresa, aproveitando o baixo preço das ações (as ações fecharam dia 27/12 com a cotação de £1,50). O consórcio de Stroll barrou essa tentativa e vem adquirindo mais ações para não perder o comando (hoje, tem pouco mais de 29% das ações, quando este número era de 19% no início do ano).

Gráfico com o preço das ações da Aston Martin em 2022. A situação da montadora não melhora...
Gráfico com o preço das ações da Aston Martin em 2022. A situação da montadora não melhora...
Foto: London Stock Exchange

Mesmo assim, não são poucos os que discordam das estratégias de Stroll. As vendas não reagem e as perdas aumentam, embora se observe uma melhoria nas receitas. Não são poucos os que prevêem que o reinado do canadense na Aston Martin deve acabar logo.

Entretanto, isso não significa que Lawrence Stroll abandone a F1. No quadro atual, o máximo que poderia acontecer seria a equipe deixar de levar o nome da montadora britânica e assumir outra identidade, com o canadense mantendo o controle. Para um potencial interessado em entrar na F1, seria uma belíssima porta de entrada: uma equipe com uma sede que é o estado-da-arte em termos técnicos e pessoal altamente qualificado.

Por isso, podemos dizer que, se a Aston Martin está sofrendo, Lawrence Stroll vai muito bem, obrigado.

Parabólica
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