Margem Equatorial: Petrobras e Imar lideram projeto de IA para mapear ecossistema da foz do Amazonas
Na fase de mapeamento do ambiente, a Petrobras, à espera de licença para exploração na região, prevê 54 estações de coleta para a malha regional e seis estações para avaliação do local
RIO - No aguardo de uma possível liberação para o início da exploração do primeiro poço na Bacia da Foz do Amazonas, na chamada Margem Equatorial, a Petrobras já se movimenta para mapear a vida costeira e marinha da região. Os processos na margem continental devem ser otimizados pelo uso de Inteligência Artificial (IA) e aprendizado de máquina (machine learning, ML), por meio de um sistema em desenvolvimento por pesquisadores de universidades públicas.
O pesquisador Gustavo Fonseca, do Instituto do Mar (Imar/Unifesp) — Campus Baixada Santista, coordena o grupo com mais de 20 cientistas, além de estagiários, responsável pela criação da ferramenta que irá gerar mapas para orientar os pontos de coleta das amostras biológicas.
"Já participamos do Plano de Caracterização Regional da Baixada Santista, nas atividades de exploração do pré-sal, e, a partir dos aprendizados acumulados ao longo de cinco anos, avançamos com esse braço de IA para modelar cenários em profundidades entre 25 e 3 mil metros", detalha. "Esses modelos estatísticos (mapas) serão úteis para os demais pesquisadores encarregados de apresentar toda a complexidade da região na etapa de caracterização ambiental", afirma.
O projeto, desenvolvido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (Iousp), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é viabilizado por meio de um termo de cooperação tecnológica com a estatal. A Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo (FapUnifesp) gerencia os recursos.
Os modelos estão sendo elaborados a partir de dados diários de satélite coletados por mais de uma década, além de séries ambientais complexas, e incorporam informações recém-obtidas. "Uma única imagem aeroespacial é composta por mais de 200 mil linhas de dados. O desafio é transformar isso em respostas simples para apoiar a tomada de decisão", explica o docente do Imar/Unifesp.
A primeira entrega do trabalho "Modelagem Ecossistêmica da Margem Continental Brasileira e Integração Estatística da Bacia da Foz do Amazonas com ML" está prevista para o fim de 2025.
Na fase de mapeamento do ambiente da Bacia da Foz do Amazonas — que inclui clima, correntes oceânicas, características do solo marinho, composição da água, dos sedimentos e das formas de vida —, a Petrobras prevê 54 estações de coleta para a malha regional e seis estações para avaliar o local. A estimativa é de reunir 288 amostras da malha regional, 36 da foz e 150 da malha de manguezal, totalizando 474 amostras de sedimento.
A estatal responde pela logística das expedições e pelo uso dos navios de pesquisa, enquanto as universidades cuidam do processamento e da análise dos dados. "Um dia de mar pode custar entre US$ 80 mil e US$ 100 mil. Por isso, a qualidade da coleta é essencial", observa. "Com um mapa prévio, que indique as áreas mais representativas das diferenças ecológicas, fornecemos o máximo de informação para que as melhores decisões sejam tomadas", acrescenta.
A conclusão da base de dados está programada para 2029. A expectativa é de que a estatal também utilize o sistema para enquadrar diferentes planos de caracterização sob a mesma abordagem e que parte das informações seja acessível a "outros pesquisadores, órgãos ambientais e também ao público em geral, explica Fonseca.