PUBLICIDADE

Luis Stuhlberger: 'Se governo tivesse se limitado a precatórios, mercado teria comprado'

Presidente da gestora Verde Asset Management diz que intenção populista do governo, de querer gastar mais para garantir votos nas urnas em 2022, acabou gerando ruídos no mercado e provocando descontentamento entre investidores com o projeto

30 nov 2021 - 22h04
Compartilhar
Exibir comentários

O sócio fundador e presidente da gestora Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, afirmou na noite desta terça-feira, 30, que os gastos do governo este ano não vão subir tanto e a situação das contas fiscais do Brasil será no final melhor do que se previa anteriormente. Mas a intenção populista do governo, de querer gastar mais para garantir votos nas urnas em 2022, acabou gerando ruídos no mercado e provocando descontentamento entre investidores.

"Se o governo tivesse se limitado a resolver o problema dos precatórios e não tomar medida eleitoreira, o mercado teria comprado (a mudança)", afirmou o gestor.

O governo Jair Bolsonaro até agora não tinha viés populista, destacou o gestor. "Mesmo com os gastos adicionais, não chega aos pés do que a esquerda fez, do que o PT fez", disse Stuhlberger.

O governo gastou R$ 600 bilhões a mais na pandemia e a reação dos investidores foi de entendimento, ressaltou o gestor. Mesmo o custo do programa social, de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), "não é o fim do mundo". O problema foi o viés populista das últimas medidas do Planalto.

"Não estamos em situação (fiscal) tão ruim", completou, destacando que este ano o Brasil vai ter "superávit primário zero", melhor do que o déficit fiscal de R$ 300 bilhões a R$ 400 bilhões projetado anteriormente para 2021. "O gasto público este ano está menor do que começou.

Se a PEC dos Precatórios fosse vendida desde o primeiro momento como está saindo na proposta do Senado, aprovada em comissão do Senado nesta terça, não teria sido tão ruim.

"Agora a pasta de dente saiu do tubo e você não pode colocar ela de volta", disse Stuhlberger em live, ressaltando que "contabilidade criativa e manobra eleitoral" para a mesma despesa acaba passando imagem muito pior do País, sobretudo perto de eleições.

"De maneira mais bem vendida e honesta não teríamos passado por isso", afirmou Stuhlberger ao ser questionado sobre os recentes eventos fiscais em Brasília.

Sobre o teto de gastos, Stuhlberger afirmou que quando o mecanismo foi concebido para limitar a alta dos gastos públicos, no governo de Michel Temer, a expectativa era de que se a economia crescesse e o governo gastasse só até o limite da inflação do ano, em cinco anos não se precisaria mais do teto. "O que aconteceu foi que o PIB cresceu muito pouco, e junto com a pandemia."

'Inflação alta tira mais votos do que desemprego'

O sócio fundador da Verde Asset afirmou também que a inflação alta tira mais votos do que o desemprego e as crises políticas. E isso vale para o Brasil e os Estados Unidos.

Por isso, com a popularidade do presidente Joe Biden caindo muito por causa da inflação alta e persistente na maior economia do mundo, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai ter que ser mais firme. Hoje, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, sinalizou que pode reduzir em ritmo mais forte as compras de ativos.

O comportamento da inflação, avalia o gestor do fundo multimercado Verde, tira a ilusão que o poder dos bancos centrais é ilimitado. "A gente está acostumado que o Fed e o BCE (Banco Central Europeu) podem tudo", disse em live. Nesse ambiente de impressão ilimitada de dinheiro nos últimos anos, a visão do mercado é de impotência diante desse poder, ressaltou Stuhlberger.

"Mas hoje apareceu a conta. A popularidade de Biden está caindo muito por conta da inflação, chegou o inimigo", disse Stuhlberger, destacando que este é o aviso de que os bancos centrais não podem tudo. "Podem continuar com os juros baixos, mas têm que lidar com a inflação e a inflação tira mais voto que desemprego e crise política".

Stuhlberger conversou no início da noite desta terça com o sócio da Skopos, Pedro Cerize.

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade