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Guerra comercial afeta exportações e OMC revê para baixo a expansão

América do Sul terá expansão de vendas abaixo da média mundial; escalada tarifária entre as maiores economias do mundo pode retirar 17% do crescimento do comércio mundial

27 set 2018 - 07h32
(atualizado às 08h26)
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GENEBRA - A Organização Mundial do Comércio (OMC) revê para baixo o crescimento das exportações em 2018, diante de um cenário de tensão e escalada tarifária. A guerra comercial entre EUA e China já atingiu bilhões de dólares, com efeitos para além dos dois países.

Há cinco meses, a projeção era de uma expansão do comércio mundial de 4,4%. Para 2019, o crescimento seria de 4%. Em 2017, a expansão em volume foi de 4,7% e, em valores, chegou a 10,7%, o melhor desde 2011 e atingindo US$ 17 trilhões. Nada disso, porém, previa a proliferação de medidas protecionistas.

Agora, a projeção é de que o comércio em 2018 tenha uma expansão de 3,9%, com um impacto ainda maior em 2019, quando os efeitos das novas barreiras começarão a ser sentidos em diversos mercados. No ano que vem, a taxa de expansão não deve passar de 3,7%.

Na avaliação da OMC, o impacto direto na economia das barreiras adotadas são modestos no momento. Mas é a incerteza que amplia sua repercussão, levando investidores a adiarem projetos de produção. Políticas monetárias em países desenvolvidos também têm afetado os emergentes, criando volatilidade para suas moedas.

"Ainda que o comércio continue forte, essa revisão para baixo reflete o aumento da tensão que estamos vendo entre grandes parceiros comerciais", disse o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo. "Mais do que nunca, é fundamental que governos trabalhem suas diferenças."

Reveja: nova fase da guerra comercial

Na América do Sul, as projeções para 2018 apontam para uma expansão do comércio abaixo da média mundial, de 2,8%. Em 2019, ela será de apenas 2,6%. No setor das importações, o continente deve registrar um aumento de 3,6% em 2018 e 4% em 2019.

Escalada tarifária

Nesta semana, Azevêdo estimou que a escalada tarifária entre as maiores economias do mundo poderia retirar 17% do crescimento do comércio mundial e 1,9% do aumento do Produto Interno Bruto (PIB).

"O cenário de uma guerra comercial completa, com o rompimento da cooperação do comércio internacional, teria um efeito dramático", disse Azevêdo, durante um evento que contou com a participação da chanceler alemã, Angela Merkel. "Ele retiraria cerca de 17% do crescimento do comércio global e 1,9% do aumento do PIB", afirmou ele.

"Não existiriam vencedores em tal cenário. Todas as regiões seriam afetadas e, na Europa, o golpe ao PIB seria de cerca de 1,7%", disse. "Claramente não podemos deixar isso acontecer." Azevêdo não deu detalhes de qual seria a base do cálculo e nem os valores absolutos.

Ele voltou a alertar que a tensão tem aumentado rapidamente nos últimos meses. "Novas tarifas até agora cobrem centenas de bilhões de dólares em comércio e mais medidas foram propostas. Atualmente, não há um fim à vista", alertou.

Reveja: EUA listam US$ 200 bi de produtos chineses a serem tarifados

Azevêdo questionou aqueles que tentam minimizar o impacto da crise, alertando que as medidas por enquanto afetam apenas 2,5% do comércio mundial e que a expansão da economia global tem sido relativamente positiva.

"Claro, isso tudo é verdade. Mas, ao mesmo tempo, sinais de alerta estão sendo emitidos", disse. "Uma continuação na escalada da tensão colocaria uma ameaça à estabilidade, aos empregos e ao tipo de crescimento que vemos hoje."

Segundo ele, há uma discrepância entre o momento de implementação de barreiras e seus efeitos na economia real. "Mas talvez já estejamos vendo alguns dos efeitos iniciais", alertou. "Indicadores apontam que empresários estão segurando investimentos que criariam empregos. Demandas de exportação estão em queda", ressaltou Azevêdo.

Estadão
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