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Governo pode estar "um pouco otimista" sobre PIB, diz pesquisadora do Ibre

27 jul 2020 - 09h47
(atualizado às 13h11)
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A expectativa do governo para o desempenho da economia neste ano pode estar "um pouco otimista", avaliou Juliana Damasceno, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), para quem há dúvidas sobre a recuperação da demanda diante do nível de desemprego.

15/10/2015
REUTERS/Bruno Domingos
15/10/2015 REUTERS/Bruno Domingos
Foto: Reuters

De acordo com a pesquisadora, apesar de alguns setores apresentarem resultados positivos na atual conjuntura, outros estão sendo fortemente penalizados, como o automobilístico, com impactos que se propagam para as cadeias produtivas atreladas, o que, na visão dela, pode gerar efeitos de longo prazo.

Segundo ela, os números da arrecadação mostram uma retomada ainda lenta da economia, indicando que desempenho no ano deve ficar atrás da previsão do governo. Ainda de acordo com a pesquisadora, o IPI automóveis, por exemplo, apresenta queda real acumulada no ano de 57,5%, tendo o mês de junho desse ano apresentado queda real de 80,2% comparado ao mesmo mês de 2019.

"A gente não sabe até que ponto a demanda, que é nosso principal indicador de recuperação da economia, vai se recuperar, por causa do desemprego, por causa dos autônomos, que hoje em dia representam a maior parte do nosso mercado de trabalho", afirmou em entrevista à Reuters.

A última projeção do Boletim Macro do Ibre, publicado no último dia 23, aponta para retração da economia de 5,5% neste ano, ante estimativa anterior de queda de 6,4%. O Ministério da Economia prevê contração de 4,7%, enquanto a pesquisa Focus do Banco Central com analistas de mercado mostra mediana dos prognósticos em 5,77%.

"O Brasil tem passado por uma retomada muito mais lenta do que a gente gostaria", disse, citando que, como a crise é global e outros países também estão experimentando quedas na economia, é possível ter parâmetro do que poderia ser a recuperação da atividade doméstica.

O processo de recuperação da economia brasileira vai depender, segundo Damasceno, de como se encaminha a agenda de reformas no país, com especial atenção às relacionadas às contas públicas.

FISCAL

No mês passado, pouco antes de deixar o cargo, o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida afirmou que, em face de um cenário de juros baixos e liquidez elevada no país e no mundo, o Brasil tem uma janela de pouco mais de dois anos para acelerar na aprovação de reformas fiscais.

Na visão de Damasceno, essa estimativa é, sim, possível, mas é preciso levar em conta outros fatores atrelados à dinâmica das contas públicas, como o período eleitoral de 2022.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base no período entre 1995 a 2011 mostra aumento de gastos públicos em anos eleitorais.

Ainda de acordo com Damasceno, o país enfrenta outros gargalos, como a alta taxa de desemprego, resultado da pandemia do coronavírus, bem como a saúde financeira das empresas, em decorrência da crise de saúde. O problema é agravado, de acordo com a pesquisadora, pela dificuldade de se fazer o crédito chegar até a ponta.

"A situação da dívida obviamente vai ser cada vez mais preocupante. A gente precisa casar esse cenário macro com esse cenário fiscal e entender que isso vai ser primordial para que, em um futuro próximo, a gente consiga essa estabilidade que foi aí chamada de dois anos."

De acordo com Damasceno, dentre os principais desafios que o Brasil enfrentará em 2021 está a discussão sobre o teto de gastos --que limita o crescimento das despesas totais do governo federal à variação da inflação do ano anterior até 2026.

O Ministério da Economia prevê inflação medida pelo IPCA de 1,60% em 2020. De acordo com estimativa trazida pelo boletim Focus publicado nesta segunda-feira, o mercado projeta inflação de 1,67% neste ano.

"O desafio (fiscal) se torna cada vez mais apertado, a gente tem um limite muito apertado, e a gente sabe que as despesas mais sacrificadas são, obviamente, as discricionárias. E existe o limite do que a gente chama de 'shutdown' da máquina pública."

Nesse contexto, as projeções do governo para a trajetória da dívida pública, de acordo com a pesquisadora, se apoiam na premissa de um nível de juros baixos por mais alguns anos. Ela, no entanto, reforça que a inflação não é um problema resolvido no país, o que demanda cautela.

Pelas últimas projeções do Tesouro Nacional, divulgadas no início deste mês e que serão revisadas ainda nesta semana, após sofrer um salto de 22,4 pontos neste ano, a dívida bruta deve ficar praticamente estável até alcançar 98,6% do PIB em 2024. A partir daí, entraria em trajetória descendente, encerrando 2029 em 92,2% do PIB.

De acordo com Damasceno, o nível de estabilização previsto pelo Tesouro depende do prêmio de risco do país, sendo que, caso ocorra a deterioração dos níveis de confiança perante os agentes econômicos, pode haver impacto expressivo sobre o câmbio e potencial saída de capital que afete a inflação e, assim, as expectativas para a trajetória da dívida.

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