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Economistas que apoiaram Lula na eleição do terceiro mandato criticam gestão das contas públicas

Governo tem sido alvo de críticas de atores do meio econômico, inclusive de nomes que apoiaram o petista na eleição de 2022, principalmente por conta da questão fiscal

13 mai 2024 - 14h22
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido alvo de críticas de atores do meio econômico, principalmente por conta da questão fiscal. Na semana passada, Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde, presidente e diretor de investimentos da Verde Asset, lamentou ter confiado que o governo Lula trabalharia pelo equilíbrio das contas públicas. Um dia antes, o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, havia apontado, em entrevista ao Estadão, o que chamou de "deterioração explícita" das finanças públicas.

Stuhlberger chegou a declarar publicamente em 2021, ano anterior à última eleição presidencial, que jamais votaria novamente em Jair Bolsonaro, criticando as ações do governo durante a pandemia de covid-19. Já Fraga declarou voto em Lula no segundo turno da eleição de 2022 em nome da defesa da democracia.

Mas outros nomes que declararam apoio ao petista na eleição passada, quando se consolidou um segundo turno entre ele e Bolsonaro, como Pedro Malan, Elena Landau, Henrique Meirelles e Persio Arida também já se mostraram decepcionados com a atuação do governo no campo da economia. Veja o que eles já falaram sobre o terceiro mandato do petista.

Luis Stuhlberger

"Eu me penitencio por ter acreditado que o PT teria alguma seriedade fiscal", afirmou Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde, durante encontro com investidores. Stuhlberger disse que percebeu que sua confiança no governo era um erro quando foi encaminhado o projeto orçamentário de 2025, que ele descreveu como uma "peça de ficção".

Um dos principais investidores do País, Stuhlberger afirmou que todo o espaço para gastos permitido pelo arcabouço já está tomado nos orçamentos dos dois próximos anos, devido às novas despesas criadas pelo governo, e não há mais muito espaço para aumentar impostos - o que, para ele, indica que poderão surgir manobras de contabilidade criativa para que despesas sejam pagas fora do orçamento.

Ele ainda avaliou que os efeitos positivos de reformas realizadas pelos governos de Temer e Bolsonaro, que resultaram em "maior potencial de crescimento" do Brasil, estão sendo "estragados pelo PT".

Armínio Fraga

Ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga afirmou ter ficado surpreso com o fato de a agência de classificação de risco Moody's ter elevado a perspectiva da nota de crédito do País de estável para positiva. Para ele, pelo lado fiscal, o Brasil deveria ter sido rebaixado, por conta do descuido no controle das contas públicas.

"Temos uma deterioração explícita, mas já muito bem percebida, no campo das finanças públicas", afirmou em entrevista ao Estadão. Fraga se juntou a outros economistas ligados ao Plano Real como ele, Pedro Malan, Persio Arida e Edmar Bacha, para declarar apoio a Lula no segundo turno, em 2022.

Fraga apontou que o Congresso tem tido "muito poder e pouca responsabilidade" com a questão fiscal e disse temer que uma piora na economia gere uma guinada política à extrema-direita em 2026, o que ele diz que "seria uma desgraça". Para ele, não é possível enxergar uma trajetória de progresso na área fiscal até agora. Ele aponta que foi um dos primeiros a apoiar publicamente o arcabouço apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, "mas não está dando certo".

Pedro Malan

Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso, também participou da articulação dos economistas ligados ao Plano Real para apoiar Lula no segundo turno em 2022. Em artigo publicado no Estadão em fevereiro, em que analisa os primeiros 400 dias do governo Lula 3, Malan diz, porém, que o pensamento predominante continua sendo o mesmo de 15 anos atrás.

Para ele, o Estado se sobrecarregou de obrigações e é preciso ter claras definições de prioridades, pois, "ao dispersar demais suas atividades, o Estado fica mais suscetível a ceder a interesses isolados, a persistir em promessas que não pode cumprir". "Principalmente quando receitas não recorrentes são utilizadas para financiar gastos que se tornam permanentes - e crescentes -, como vimos em experiências recentes", escreveu.

Malan ainda destacou que, apesar dos esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, inclusive contra o fogo amigo de integrantes do governo e de seu partido, "falta um sistema de regras de responsabilidade fiscal que represente compromisso firme em assegurar a sustentabilidade da trajetória de finanças públicas do País". E, segundo o economista, isso pode impedir o desenvolvimento econômico e social sustentado no longo prazo.

Elena Landau

A economista Elena Landau, coordenadora econômica do programa de campanha à presidência da atual ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que votaria no segundo turno em 2022 "contra a reeleição" de Jair Bolsonaro. Ela também já fez duras críticas ao governo Lula 3.

Em coluna do Estadão de novembro de 2023, por exemplo, ao comentar a fala de Lula de que "dificilmente chegaremos ao déficit zero", sobre a meta de 2024, Elena afirmou que Lula jogou fora a boa vontade que o mercado vinha tendo com seu governo (que vinha mais pelo que ele prometeu). Também criticou o que chamou de "cartilha petista", na qual, segundo ela, é a política monetária que atrapalha a meta fiscal.

"Para eles, a lógica econômica é invertida. Primeiro, vêm as despesas; depois, se corre atrás das receitas. E elas não estão vindo como Haddad previa ou gostaria", afirma. Entre outras coisas, a economista ainda diz que as estatais voltaram a operar politicamente e conselhos são usados para aumentar salários dos amigos, além de afirmar que a política industrial continua baseada em incentivos questionáveis, enquanto a economia se mantém como a mais fechada do mundo.

Henrique Meirelles

Ministro da Fazenda no governo Temer e presidente do Banco Central nos dois primeiros mandatos de Lula, Henrique Meirelles deu apoio à candidatura do petista no primeiro turno em 2022. Mas ele também levantou incertezas sobre a política econômica de Lula ainda durante a eleição, quando disse em entrevista à consultoria Eurasia Group ser preciso "entender qual linha" Lula iria adotar caso eleito. Ele chegou a dizer que, caso o programa de campanha fosse colocado em prática, com desenho semelhante ao que foi feito para o período de Dilma no Planalto, o cenário não deveria ser favorável.

No início de 2023, com Lula já presidente, Meirelles criticou o embate criado pelo petista com o Banco Central. Em abril do ano passado, ele afirmou que a regra do arcabouço fiscal é mais complexa do que a do teto de gastos (criada quando ele era ministro da Fazenda), dizendo que, com o que havia sido apresentado pelo governo até então, não parecia possível atingir o objetivo de conter o crescimento da dívida pública.

Neste ano, Meirelles afirmou que "o compromisso com o déficit zero é um sinal de empenho da Fazenda, o que dá um sinal positivo ao mercado e freia o ímpeto do Congresso e da máquina pública pelo gasto". Ele também apontou que a Fazenda tenta cumprir a meta de 2024 de de déficit zero, mas também disse que teto de gastos funcionou porque limitava despesas, enquanto "o arcabouço fiscal depende muito da receita, algo que o governo deve sempre buscar, mas não tem controle. Assim, cumprir as metas fica sempre mais difícil".

Persio Arida

Outro economista ligado ao Plano Real que participou da articulação pelo voto em Lula no segundo turno de 2022, além de fazer parte da equipe de transição do petista, Persio Arida demonstrou preocupação já no início do governo, segundo entrevista concedida por ele em junho de 2023 ao Valor.

Arida afirmou ao jornal que o começo do governo era "uma sequência de iniciativas e ideias que vão na contramão do que o Brasil precisa", demonstrando preocupação com a falta de uma agenda para as energias limpas e uma reforma do Estado, e criticando medidas como a revisão do marco do saneamento e também os ataques de Lula ao Banco Central.

Apesar das críticas, ele disse ao jornal na época não se arrepender do apoio a Lula, pois esse gesto havia se baseado em outras preocupações além da economia, como a democracia, os direitos humanos e a agenda ambiental. Ele também afirmou então ter esperança em uma correção de rumo.

Estadão
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