Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

'É preciso entender como o dinheiro de quem polui chegará a quem precisa', diz diretora da Sabesp

Para Rachel Sampaio, a COP-30 é uma oportunidade para reconhecer o valor econômico da biodiversidade, transformando-a em uma fonte de desenvolvimento sustentável

29 out 2025 - 11h10
Compartilhar
Exibir comentários

A Nova Sabesp, que tem a ambição de investir R$ 70 bilhões em São Paulo nos próximos anos, corre para atingir, antes do prazo legal de 2032, a universalização da água e do esgoto - e, provavelmente, lidar com mais uma situação de escassez hídrica no curto prazo. Segundo Rachel Sampaio, diretora de Sustentabilidade da empresa, privatizada em 2024, não existe nada mais favorável à justiça climática do que colocar saneamento ao alcance de todos. Mas não que isso seja fácil.

A executiva se diz otimista com os resultados da COP-30, que será realizada no mês que vem, em Belém. Um dos grandes nós a ser desatado na reunião, segundo ela, é endereçar quem, e como, vai pagar a conta que colocará o planeta no trilho para enfrentar as mudanças climáticas globais.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

A COP-30 vai reunir em Belém representantes de todo o mundo para debater temas como financiamento climático, descarbonização e biodiversidade. Como ligar esses temas ao dia a dia das pessoas?

Essa é uma pergunta superinteressante. Quando se fala em COP-30, a primeira coisa que vem à mente é descarbonização - e, de fato, esse é um tema importante. Mas, no caso do Brasil, o ponto central é o financiamento. Precisamos entender como o dinheiro de quem realmente polui - e não somos nós, mas os Estados Unidos e outros países desenvolvidos - pode chegar às nações que sofrem de forma mais severa os efeitos das mudanças climáticas. O Brasil está entre elas, pela vulnerabilidade da sua população.

Outro aspecto essencial é a biodiversidade. O Brasil abriga uma das maiores biodiversidades do planeta e ainda não conseguimos traduzir em termos econômicos o valor dos serviços ecossistêmicos que ela oferece. A COP-30 é uma oportunidade para isso - para reconhecer o valor econômico da biodiversidade, transformando-a também em uma fonte de desenvolvimento sustentável. E, claro, para valorizar as pessoas que protegem o meio ambiente: comunidades indígenas, povos tradicionais, comunidades rurais. É preciso reconhecer o valor econômico e social do trabalho que essas populações realizam pela preservação ambiental.

Justiça climática global é outro tema relevante?

A COP-30 é justamente o momento de olhar para a justiça climática sob uma ótica integrada. De um lado, temos países que poluem muito; de outro, nações que sentem os impactos de forma mais grave. Para que haja justiça climática global, precisamos criar mecanismos financeiros inovadores que façam o dinheiro chegar a quem sofre os efeitos com mais intensidade. O planeta é um só - e os desequilíbrios ambientais atingem a todos.

Nesse cenário, a Sabesp pode ser vista como uma protagonista?

Sem dúvida. A Sabesp já atua na prática em ações que materializam essa visão. Quando falamos em COP na Amazônia, precisamos olhar para o valor real da biodiversidade, para como ela é mantida, como se paga por isso e como se valoriza quem a protege. Isso passa diretamente pela bioeconomia e pelas soluções baseadas na natureza.

O conceito de soluções baseadas na natureza pode ser aplicado também em São Paulo? Na Mata Atlântica, por exemplo?

A Sabesp vem trabalhando nessa linha ao estruturar sua estratégia florestal. Não se trata apenas de preservar - a preservação já é feita há décadas, seja por resiliência do negócio, seja por obrigação contratual relacionada aos mananciais. O que estamos fazendo agora é desenhar uma estratégia que olhe para isso de maneira economicamente viável e estratégica. Estamos nesse processo: ainda não temos todas as respostas, porque começamos há menos de um ano, mas já sabemos as perguntas certas e estamos trabalhando para construir as respostas.

Você, então, vê a COP-30 com otimismo?

Sim, vejo esse momento com muita esperança. A COP é uma oportunidade histórica para o País e para o mundo. Há muitas oportunidades à frente - se vamos conseguir aproveitá-las integralmente, o futuro vai dizer. Mas elas existem, e vejo a Sabesp como uma protagonista nesse cenário.

Como será a participação da Sabesp em Belém?

Nós estaremos na Blue Zone, o espaço destinado aos órgãos de governo, apresentando a experiência da Sabesp com a universalização do acesso à água e ao saneamento. Esse é um desafio global - vários países enfrentam o mesmo problema.

A Sabesp encontrou formas de atrair capital, de estruturar projetos e de endereçar desafios complexos como esse. Queremos mostrar que essa experiência pode ser replicada não só em outras regiões do Brasil, mas em todo o mundo. E mais: ela pode inspirar outros setores que também enfrentam o desafio de atrair investimento para solucionar questões socioambientais.

Como a sustentabilidade está presente no dia a dia da Sabesp?

O saneamento, por essência, já representa sustentabilidade. Ele envolve o tratamento de água e esgoto e o acesso seguro à água, gerando impactos sociais e ambientais positivos. Ao levar saneamento, ocorre a descarbonização e revitalização dos rios, mas também uma transformação profunda nos territórios atendidos: melhora-se a saúde da população, o que se reflete em mais educação, maior produtividade e melhores oportunidades, especialmente para crianças e mulheres. Além disso, o saneamento estimula o desenvolvimento econômico, tornando as regiões mais prósperas.

A Sabesp, portanto, tem a sustentabilidade em seu próprio core de atuação, aliando impacto social, ambiental e econômico. Sua estratégia corporativa ESG busca colocar essa visão em prática, com forte foco territorial e no equilíbrio entre desenvolvimento e preservação.

Quais os pilares que sustentam essa estratégia corporativa?

A estratégia ESG da Sabesp está estruturada em quatro pilares principais, com foco central na universalização do acesso à água e ao esgoto - objetivo que tornará São Paulo o primeiro Estado brasileiro a atingir a meta, alguns anos antes do previsto no marco do saneamento (2032). A universalização até 2029 é considerada um marco histórico e deve servir de modelo para outras regiões do País. O segundo pilar é o uso e gestão eficiente dos recursos naturais, incluindo a proteção dos mananciais, o uso racional de energia, a gestão da biodiversidade e o aprimoramento da circularidade - especialmente no tratamento do lodo. O terceiro pilar trata do relacionamento com stakeholders, abrangendo colaboradores, investidores e comunidades, essencial para viabilizar as obras e ações necessárias à universalização. O quarto pilar é o da resiliência hídrica, que busca garantir acesso seguro e sustentável à água em um contexto de mudanças climáticas. Nesse campo, a Sabesp executa um plano robusto de segurança hídrica, com obras de integração de bacias e proteção de áreas ambientais no entorno dos mananciais - que já somam 49 mil hectares de florestas preservadas, cerca de 1,5% da Mata Atlântica paulista.

Quais os gargalos mais evidentes para que esses pilares se consolidem?

O desafio da universalização é interessante justamente por ser inédito no Brasil. É também um tema relevante neste momento de COP-30, que estamos chamando de "COP do financiamento". O saneamento está muito relacionado à justiça climática, embora muitas vezes as pessoas não se deem conta disso. O Brasil não é um dos maiores emissores globais, mas é um dos mais afetados, porque nossa população vulnerável ainda não está preparada para enfrentar as mudanças climáticas e não possui a resiliência necessária. O saneamento é um primeiro ponto de resiliência: quando eu levo saneamento a uma comunidade, torno essa população mais adaptável às mudanças climáticas. De forma geral, o saneamento contribui significativamente para a justiça climática.

Não é trivial que estejamos falando de R$ 70 bilhões em investimentos em saneamento no Brasil - verba que a Sabesp pretende aplicar nos próximos anos. Não é por acaso que isso esteja acontecendo. O contrato de concessão da Sabesp foi desenhado de forma a facilitar que os recursos cheguem a quem precisa. Quando se olha para recursos financeiros, é difícil que o dinheiro chegue aos grandes desafios socioambientais. Isso acontece porque existe um desalinhamento entre o benefício público, o interesse público e o interesse privado. A forma como o contrato de concessão da Sabesp foi estruturada viabiliza que o dinheiro chegue a quem precisa, em um formato em que as metas socioambientais são pilares para atingir a performance financeira. Isso é algo muito inovador.

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade