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Ao vender lojas do Extra, GPA ganha fôlego para investir

Com o fim da marca de hipermercados, cujas lojas vão ficar com o Assaí, mercado espera movimento de aquisições do grupo varejista

18 out 2021 - 11h45
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O Grupo Pão de Açúcar (GPA) deve receber R$ 5,2 bilhões pela venda de 71 lojas do Extra Hiper ao Assaí. Ao acabar com essa bandeira, o grupo ainda tira de suas contas o prejuízo que ela trazia para o balanço. No entanto, mesmo com dinheiro no caixa e negócios mais rentáveis na carteira, o GPA tem um desafio: ganhar escala nacional. Para isso, a empresa diz que vai sair da posição defensiva na qual jogava havia muito tempo e passar a atacar em abertura de novas lojas e, eventualmente, em aquisições de redes regionais.

Especialistas em varejo dizem que, ao estancar as perdas que os hipermercados traziam, o GPA se torna mais leve. Das 32 lojas restantes do Extra Hiper, que não foram vendidas ao Assaí, 14 serão convertidas em supermercados Pão de Açúcar e 14 em mercados Extra. Já as outras 4 serão vendidas nos próximos meses.

No caso dos pontos a ser convertidos para Pão de Açúcar, o presidente do GPA, Jorge Faiçal, diz que a receita vinda de alimentos deve ser mantida no mesmo patamar, mas que a geração de caixa dessas operações deve subir de 3 a 4 pontos porcentuais. Isso porque os supermercados Pão de Açúcar têm margem de lucro bem maior.

Mesmo com todos os esforços para recuperar a bandeira Extra Hiper, a operação ainda não tinha voltado a ser lucrativa. Também não haverá mais as drogarias da marca, que tinham efeito marginal na receita do grupo. "Um GPA sem Extra Hiper se torna muito mais lucrativo", diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail e especialista em varejo. "Muito menor na escala, mas mais rentável."

Porém, é inegável que, mais uma vez, o GPA diminui de tamanho. Na cisão com o Assaí, o GPA perdeu seu maior motor de crescimento. Agora, perde, ao menos, R$ 8,7 bilhões de faturamento por ano, consideradas apenas as lojas vendidas. Em 2020, o conglomerado faturou R$ 55,7 bilhões. Além da escala, o grupo controlado pelo francês Casino perde participação de mercado e parte do poder negociação com a indústria.

Segundo Serrentino, o grupo tomou a decisão estratégica de se capitalizar para investir na expansão do Pão de Açúcar, um negócio com demanda mais estável e modelo econômico sustentável, além de marca forte. Ele define a companhia resultante como "uma rede de proximidade e supermercados premium, com possibilidade de fazer aquisições regionais e nacionalizar a marca".

Novos territórios

De fato, a expansão territorial agora deve ser intensa. A proposta é que, com conversões e expansão, o Pão de Açúcar tenha 100 novas lojas nos próximos três anos. A mesma meta está prevista para a bandeira Minuto. "A empresa sai da defensiva de território e parte para o ataque em seus pontos fortes", diz Faiçal.

Segundo ele, a companhia está atenta a oportunidades ligadas a redes regionais de supermercados, mas ressalva que os estudos ainda são preliminares.

Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), as vendas digitais também devem ser outra avenida de crescimento. "Além do e-commerce clássico, eles têm o marketplace especializado, no qual têm feito algumas coisas interessantes", afirma.

Para ele, os R$ 5,2 bilhões parecem ter sido suficientes para tirar da frente a necessidade de vender mais ativos para alavancar investimentos. O desafio, portanto, é usar os recursos para entregar crescimento.

Novas vendas estão descartadas, segundo Faiçal: "Não existe nenhum plano de desinvestimentos adicionais, seja no Brasil ou na América Latina", afirmou ele a investidores.

Segundo os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, da XP, a transação é positiva para o GPA. Eles lembram que, dos R$ 4 bilhões em recursos líquidos, R$ 1,2 bilhão será usado para reinvestir no negócio, principalmente nos planos de expansão do GPA no Brasil e na aceleração das iniciativas digitais, R$ 500 milhões serão pagos em forma de dividendos (6,7% de rendimento) e o restante será destinado para reduzir dívidas e capital de giro.

O ponto de atenção, para os analistas, é a governança. "Embora o Casino (grupo francês que controla o GPA e o Assaí) não tenha votado na transação, os investidores podem ficar desconfortáveis com os riscos envolvendo partes relacionadas, visto que o Casino continuará procurando alternativas para reduzir o seu nível de alavancagem. No entanto, estimamos que a transação deve gerar valor para os acionistas minoritários do Assaí e do GPA", escrevem Eiger, Suedt e Senday.

Estadão
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