ESTREIA-Vazio existencial torna "Movimento Browniano" laboratório da alma
SÃO PAULO, 25 Out (Reuters) - O título enigmático do filme escrito e dirigido por Nanouk Leopold, "Movimento Browniano", remete a um conceito estudado pelo botânico escocês Robert Brown no século 19, que observou como partículas de pólen se movimentavam aleatoriamente na água, como consequência dos choques das moléculas do fluido nas partículas.
Trazendo a observação para as relações humanas, a diretora holandesa acompanha a obsessão de uma mulher casada em manter relacionamentos sexuais com pessoas desconhecidas, com as quais não demonstra ter nenhuma satisfação.
Seus parceiros, jovens, velhos, feios, bonitos, magros, gordos, são atraídos por ela e gravitam ao seu redor momentaneamente e são afastados em seguida. O filme estreia em São Paulo.
"Movimento Browniano" parece ser realmente uma experiência, a observação da vida humana, mas como estudo inconcluso, interrompido antes da comprovação. No entanto, é a interrupção que motiva Nanouk a prosseguir a observação, agora com as partículas de sua experiência completamente alteradas e em outro ambiente.
A médica Charlotte (a bela alemã Sandra Hüller) vive em Bruxelas e é casada com Max (Dragan Bakema), um construtor de origem indiana, com quem tem um filho pequeno. Ela leva uma vida dupla em um apartamento alugado, onde recebe desconhecidos que encontra no hospital onde trabalha.
O aluguel do imóvel e o ritual que prepara para receber os homens são executados de forma metódica. A atitude de Charlotte parece surpreender os próprios homens, que não acreditam na aventura que estão vivendo. O olhar da médica é distante; não há sofrimento, mas também não há prazer. Ela atrai os homens e também os repele. Ela própria não consegue explicar porque age assim, ao se submeter a acompanhamento psicológico, juntamente com o marido, quando sua vida secreta vem à tona.
Não existe explicação para sua vida paralela. Não havia infelicidade no casamento nem em sua carreira, mas um vazio existencial muito claro. Para o marido, começa a difícil tarefa de aceitar o que houve e dar uma segunda oportunidade à esposa, reiniciando a vida, agora na Índia. Charlotte parece ser uma nova mulher, mas permanece a suspeita de que algo não vai bem.
A mudança de cenário e de cultura coloca outra questão em perspectiva na vida do casal. Max reencontra suas raízes, parece se adaptar muito bem, mas Charlotte se depara com um novo mundo. Pode ser o que ela necessitava para renascer. O casal vai ter que encontrar as respostas.
(Por Luiz Vita, do Cineweb)
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