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‘O médico orientou a não me vacinar’, diz atleta com poliomielite

Soraia Alvarenga teve os movimentos das pernas comprometidos aos sete meses; hoje coordena projetos de inclusão para pessoas com deficiência

8 dez 2022 - 05h00
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Soraia se tornou amante de esportes durante a reabilitação
Soraia se tornou amante de esportes durante a reabilitação
Foto: Reprodução

O Brasil não registra casos de poliomielite desde 1989. No entanto, a campanha de vacinação contra a doença deste ano imunizou apenas 34% das crianças entre dois meses e quatro anos de idade, sendo que a expectativa era de que ao menos 95% dessa faixa etária recebessem o imunizante. É o que aponta o Ministério da Saúde. 

Também chamada de paralisia infantil, a poliomielite é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus e afeta principalmente crianças com menos de cinco anos de idade. O vírus pode levar à paralisia permanente de braços e pernas, e até à morte, em alguns casos. 

A educadora física Soraia Alvarenga, 59, recebeu o diagnóstico de poliomielite com sete meses de vida. Ela conta que não foi imunizada na época. “Já existia a vacina, mas o médico orientou minha mãe a não me vacinar. Não sei se foi por falta de informação ou por outro motivo, mas não tomei”, diz. 

“Fiquei com uma sequela que comprometeu os movimentos dos membros inferiores antes mesmo que eu aprendesse a andar”, relata a moradora de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. 

A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que 12 milhões de pessoas em todo o mundo têm algum grau de incapacidade causada por poliomielite, e alerta para o risco da síndrome pós-pólio (SPP), que acomete indivíduos adultos mesmo após anos de tratamento. 

“Antes eu usava muleta. Mas, aos 42 anos, perdi os movimentos das pernas e precisei usar cadeiras de rodas, pois contraí a síndrome”, conta Soraia. Como forma de reabilitação, ela encontrou nos esportes um modo de se movimentar e passou a fazer aulas de tênis, hidroginástica e natação. 

Desde o ano passado, a educadora física conduz a academia MoVida no interior da casa onde mora. Segundo ela, o objetivo do espaço é ser inclusivo e mostrar que todo movimento é vida. 

“Após perder minha mãe para a Covid-19, minha casa ficou enorme. Construí uma piscina de três metros na garagem, um vestiário com banheiro adaptado e tenho duas salas: uma para exercícios com aparelhos que qualquer cadeirante pode usar, e outra para exercícios funcionais”, explica. 

Também é presidente da ADIPPNE (Associação em Defesa da Inclusão e Paradesporto dos Portadores de Necessidades Especiais), organização responsável pela formação de atletas para competições nacionais e internacionais de tênis de mesa no âmbito paralímpico. 

“Com o amparo da USP (Universidade de São Paulo), no centro de treinamento da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), na zona leste da capital, crianças com deficiência de escolas públicas recebem educação esportiva desde 2009”, conta Soraia. 

A educadora física conduz uma academia inclusiva na zona leste de São Paulo
A educadora física conduz uma academia inclusiva na zona leste de São Paulo
Foto: Reprodução

Vacina contra a pólio 

A vacinação é a única forma de prevenção da poliomielite. O esquema vacinal é composto de cinco doses, sendo três injeções (chamada de VIP: vacina inativada poliomielite) e duas “gotinhas” (VOP: vacina oral poliomielite). 

As três primeiras são administradas aos dois, aos quatro e aos seis meses de vida, e as duas últimas aos 15 meses e aos quatro anos de idade como reforço. Todas estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde). 

“Não se trata de crença ou de ideologia política. Trata-se da vida de uma criança”, destaca Soraia. “Consegui vencer diversas adversidades, mas minha vida poderia ter sido muito melhor. Acho que deveria ser aberto um processo contra quem se recusa a vacinar”, finaliza. 

Agência Mural
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