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Startup Cora demite 13% para tentar entrar no azul até fim de 2024

Fintech brasileira focada em empresas afirma que dispensas acontecem como parte de reestruturação da empresa

3 abr 2023 - 11h57
(atualizado às 12h17)
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A startup Cora realizou na manhã desta segunda-feira, 3, o corte de 13% dos trabalhadores da startup, focada em soluções financeiras para pequenas e médias empresas do Brasil. Ao todo, são 59 pessoas impactadas em todas as áreas do negócio, confirmou a companhia à reportagem.

A Cora afirma que os demitidos devem receber salário adicional, extensão de seis meses do plano de saúde, auxílio de R$ 1,5 mil para pessoas com filhos de até 17 anos, assinatura do LinkedIn Premium (serviço de recolocação no mercado de trabalho da rede social), Zenklub (plataforma de apoio psicológico) e R$ 1,5 mil em compra de notebook. Além disso, uma bolsa de R$ 4.250 vai ser concedida a pessoas de minorias sociais da Cora, como mulheres, pessoas negras e pessoas LGBT+ com salário de até R$ 7 mil.

Segundo o fundador e presidente executivo da Cora, Igor Senra, as demissões vêm após uma nova percepção do cenário macroeconômico, que não apresentou a melhora esperada para o fim deste primeiro trimestre. "Havia uma máxima de que as coisas iriam melhorar", diz o CEO. "Notamos que não há melhora à vista."

Em março, o Silicon Valley Bank (SVB), principal banco para o mercado de tecnologia do mundo, quebrou após ir ao mercado em busca de financiamento — o que causou mais turbulência em um cenário tomado por cautela desde o ano passado. Além disso, o Federal Reserve, autoridade monetária dos Estados Unidos, continua a subir os juros, encarecendo o mercado de crédito.

"Estamos interrompendo vários projetos de longo prazo, e isso significa realocar a energia da empresa em projetos de maior valor no curto prazo", diz Senra. Além disso, a startup reduziu em dois terços os investimentos em marketing desde fevereiro.

O negócio da Cora inclui conta digital gratuita para pessoas jurídicas, com cartão de crédito e débito e transferências habilitados. Além disso, a startup oferece uma plataforma de gestão dos gastos, por onde o empreendedor pode automatizar cobranças e sistemas contábeis.

Em agosto de 2021, a startup levantou US$ 116 milhões numa megarrodada que trouxe investidores de peso, como Greenoaks Capital, Ribbit, Kaszek, QED, Tiger e Tencent.

Neste ano, a Cora foi apontada como um dos nomes promissores do mercado de inovação do Brasil, segundo levantamento da Distrito para mapear os futuros "unicórnios" do mercado — as startups com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão.

Cora busca a lucratividade

A reestruturação na Cora, que inclui as demissões nesta segunda, tem como objetivo colocar a startup no azul até o fim de 2024, tornando o negócio menos dependente de rodadas de investidores e com fôlego para sobreviver a choques.

"O que estamos fazendo agora é ter um plano com mais margem de manobra. Sabemos que problemas acontecem. É importante termos mais solidez para que a gente consiga executar esse plano de continuar crescendo e atingir a lucratividade", justifica o CEO.

Com capital levantado em 2021, o executivo afirma que a startup possui caixa para continuar no mercado, mas que buscar uma nova rodada não é uma opção e que caminhar com as próprias pernas é o melhor caminho: "Não queremos depender de dinheiro externo, porque é algo que não controlamos", diz. "Temos que fazer esses ajustes considerando que não vamos levantar outra rodada."

Crise é grande entre 'unicórnios'

Conhecidas por contratar centenas de funcionários ao mês, as startups têm realizado milhares de demissões pelo mundo — o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de "inverno das startups", após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia nos últimos dois anos.

Segundo especialistas consultados pelo Estadão, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando o apetite dos investidores por risco era maior.

O processo tem sido especialmente duro com as startups maiores, que estão no momento conhecido como "late stage". Nesse estágio de maturidade, as empresas queimam dinheiro velozmente na tentativa de crescer e ganhar mercado - sem o dinheiro, elas precisam preservar caixa para sobreviver.

Entre os unicórnios nacionais que já fizeram demissões em massa nos últimos meses estão 99, Loggi, QuintoAndar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin, Olist, Unico, Hotmart, Dock e Wildlife. A mexicana Kavak, maior unicórnio da América Latina, também fez cortes severos na operação brasileira.

O mais recente dos unicórnios a demitir foi o iFood, que dispensou 355 pessoas, e a Loft, em quarta rodada de cortes.

Estadão
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