Empreendedor que trouxe patinetes de volta às ruas quer resolver burocracia com tecnologia em SP
Fundador de empresas como Infracommerce e Seed tenta mudar a história da Prodam
Aos 36 anos, Francisco Forbes se orgulha de ser o nerd da prefeitura de São Paulo. O mais jovem presidente da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam) busca fazer mudanças radicais nos sistemas tecnológicos da capital paulista e salvá-la. Em 2024, o prejuízo da área foi de R$ 33,9 milhões devido ao aumento de despesas.
A Prodam perdeu a exclusividade com o município de São Paulo há quatro anos, o que levou as secretarias a contratarem tecnologia diretamente de outras empresas e a Prodam a perder a fatia do orçamento do município.
Filho do psiquiatra e escritor Jorge Forbes, Francisco anunciou na Rio Innovation Week, evento de tecnologia e inovação realizado no Rio de Janeiro, que a Prodam de São Paulo vai vender seus sistemas a outros municípios que quiserem utilizá-los na gestão pública. A venda será realizada por meio da Prodam Store, que oferecerá, por exemplo, soluções para IPTU.
A aposta não é só na tecnologia, mas na simplificação de processos, uma das principais bandeiras de Forbes na Prodam. "A corrupção é amiga da burocracia", diz. Segundo ele, as propinas envolvidas em etapas de processos importantes para os cidadãos, como regularização de IPTU, normalmente ocorre por pequenos escambos. "Sempre envolvia um Sonho de Valsa ou uma Coca-Cola para cara que resolvia (tais questões)", conta.
Formado em arquitetura, Forbes começou a programar aos 16 anos e foi o fundador da Infracommerce, uma empresa de tecnologia para varejistas, e vendeu sua participação antes da abertura de capital da companhia na Bolsa de Valores. Também fundou e vendeu sua parte na Seed, uma empresa de reconhecimento facial para lojas que fazia monitoramento de clientes de forma semelhante ao que ocorre em sites de compras.
Depois, partiu para outro desafio não relacionado com o varejo, mas com a mobilidade: a Hyperloop Transportations Technologies. Lá, atuou como diretor global de investimentos por quatro anos e ainda permanece como conselheiro da empresa. Hyperloop é um conceito de transporte urbano de alta velocidade que se baseia em conceitos e ideias difundidos por Elon Musk, um dos homens mais ricos do mundo e nome por trás de empresas como X, SpaceX, Tesla, Neuralink e Boring Company.
O trem com levitação magnética que pode acelerar a mais de 1 mil km/h ainda não se materializou, mas Forbes se conectou a outra tendência de mobilidade urbana com tecnologia mais simples e ajudou a trazer ao País a Whoosh, startup russa de patinetes elétricas - conhecida por seus veículos amarelos e robustos que estão nas ruas de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.
Forbes conta que conheceu os fundadores do negócio enquanto estava na Hyperloop e, inicialmente, foi contra a ideia de trazer as patinetes de volta ao mercado brasileiro por causa dos problemas da Grin, que encerrou operações por dificuldades financeiras ligadas à perda da frota. Ele conta que mudou de postura por causa dos equipamentos, que são mais robustos, chegando a pesar 40 kgs, e devido à estratégia de ter pontos fixos para estacionamento. Ele conta que isso simplifica a operação, por exemplo, para a troca de baterias sem carga por baterias com carga cheia e minimiza perdas de frota. Forbes reforça não ter ligação com a Whoosh desde que assumiu a posição na prefeitura.
A relação do empreendedor com o prefeito Ricardo Nunes começou em 2014, quando ainda era vereador e estudava a criação do sistema de videomonitoramento que hoje é chamado de Smart Sampa. À época, Forbes estava criando a Seed, voltada ao monitoramento no varejo. "Ele tinha o sonho de ter um sistema desse e me apresentaram para ele", conta.
Hoje, na prefeitura, um dos principais desafios de Forbes é atualizar a tecnologia e os equipamentos da Prodam. "Ele me disse: 'ou a gente revoluciona ou vamos ter que fechar a Prodam'. Enquanto vereador, ele defendeu a extinção. Disse que, primeiro, a gente precisava trazer a Prodam para 2025", conta Forbes.
A cidade tem o maior datacenter municipal do País e, no processo de atualização que está sendo conduzido agora, boa parte dos processos será executada por meio de computação em nuvem, ou seja, em sistemas privados contratados pela gestão municipal.
"É bem criterioso, mas muita coisa pode ir pra nuvem. Uma reforma cultural na empresa que pode chegar até a substituição da marca. A gente tá fazendo um trabalho agora de rebranding, um trabalho cultural de fazer as pessoas entenderem que a gente agora é uma empresa que compete com mercado", afirma.
A aceleração de iniciativas internas é uma das mudanças que Forbes tem estimulado. Ele diz ter estabelecido a meta de fazer um novo site para a empresa em seis meses, o que seria ágil para seu histórico, mas conseguiu fazê-lo em 20 dias, com auxílio de inteligência artificial.
Forbes reforça que a sua trajetória é marcada por mudanças de rumo, o que é um sinal dos tempos atuais. E, como na tecnologia, a mudança deve permanecer como a constante no seu futuro.