Cobrir o rosto das crianças com emojis nas fotos não garante proteção, alerta especialista
Professor da USP explica os riscos dessa prática e orienta pais sobre como proteger menores na internet
Especialistas alertam que cobrir o rosto de crianças com emojis em fotos não garante proteção, recomendando evitar a exposição digital como medida mais segura para preservar a privacidade e segurança dos menores.
A discussão sobre a exposição de crianças na internet voltou ao centro do debate após o vídeo do youtuber Felca sobre a chamada “adultização” de menores. Uma prática comum entre pais e responsáveis tem sido publicar fotos de filhos com emojis ou figurinhas sobre o rosto, como forma de “proteger” a identidade. Mas, segundo especialistas, essa medida, apesar de bem-intencionada, não é eficaz.
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“Esconder o rosto das crianças com emojis ou figurinhas não é eficaz, pois em muitos casos é possível ‘reconstruir’ o rosto por meio de inteligências artificiais usadas para reconstrução facial ou deepfakes”, explica o professor Juliano Maranhão, da Faculdade de Direito da USP e diretor do Legal Wings Institute. Ele destaca que até mesmo fotos borradas podem ser revertidas com ferramentas de debluring.
Além do rosto, outros elementos das imagens oferecem riscos: uniformes escolares, objetos pessoais, cenários e metadados --como a localização automática das fotos-- podem facilitar a identificação da criança e abrir brechas para criminosos.
De acordo com Maranhão, “existem diversos métodos para ‘retirar’ os emojis/figurinhas. A partir de algoritmos de machine learning, criminosos conseguem prever o rosto da criança, criando versões realistas”.
Essas imagens, mesmo que não idênticas, podem ser convincentes o suficiente para causar danos --inclusive por meio da manipulação sexualizada de fotos com deepfakes.
Qual é a forma mais segura?
Segundo o professor, não postar imagens é a medida mais eficaz. A exposição digital, mesmo quando controlada, traz riscos como a violação de privacidade, o uso indevido de dados e até o cyberbullying.
Ainda assim, mesmo que os pais evitem postar, há situações em que terceiros podem fotografar a criança em ambientes públicos ou escolares. “Por isso, além da cautela dos pais, é fundamental orientar familiares, escolas e amigos sobre a importância de respeitar a privacidade da criança”, reforça Maranhão.
Se publicar, quais cuidados tomar?
Não há forma totalmente segura, mas algumas práticas reduzem os riscos:
- Evitar mostrar rotinas, locais frequentes e uniformes;
- Não publicar em tempo real, mas apenas depois que o evento terminou;
- Remover metadados das fotos;
- Usar perfis privados e restringir a audiência;
- Evitar imagens constrangedoras ou íntimas;
- Não associar fotos a dados pessoais como nome completo ou aniversário.
Direitos da criança na internet
Maranhão lembra que a proteção das crianças é também uma questão legal. Elas têm garantidos, pela Constituição, o direito à imagem, intimidade e vida privada (art. 5º, X), além da proteção integral e prioritária prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) também assegura tratamento especial às informações de menores, sempre em atenção ao “melhor interesse da criança”.
Com a aprovação do PL 2628/2022, novas regras reforçam esse princípio, obrigando plataformas a adotarem mecanismos automáticos de proteção, supervisão parental e restrições que diminuam riscos de exploração e violência digital.
“Não existe forma totalmente segura de expor crianças na internet”, conclui Maranhão. Cabe aos responsáveis tomar as melhores decisões e, caso optem por compartilhar imagens de menores, que o façam com cautela.