Brasil quer ser monitor oficial de movimentos tectônicos
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na terça-feira documento que revela todos os deslocamentos de terra identificados entre 2003 e 2010 na América Latina e no Caribe, como movimentos de placas tectônicas, rebaixamentos e elevações de solo. O relatório é o primeiro monitoramento da variação das coordenadas de estações da rede Sirgas (Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas). Os dados foram coletados nas 130 estações que integram a rede Sirgas, monitoradas experimentalmente pelo Brasil.
O relatório pode ser o passo decisivo para formalizar o País como centro oficial de combinação de dados sobre variações de coordenadas. O Brasil passaria a ser o responsável pelo monitoramento das alterações de solos nos continentes americanos a partir de agosto. Atualmente, apenas a Alemanha processa oficialmente essas informações.
As estações, que utilizam Sistemas de Navegação Global por Satélites (GNSS, na sigla em inglês), similar à tecnologia norte-americana do Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês), fornecem com precisão latitudes e longitudes de pontos específicos do planeta, além da avaliação dos movimentos de placas tectônicas, que podem causar, ao longo dos anos, deslocamentos de terra. Com esses dados é possível definir de forma atualizada, por exemplo, a localização precisa de fronteiras e garantir mais segurança ao planejamento de obras de infraestrutura que envolvem mais de um país.
Prevenção para terremotos
Com o Sirgas foi possível, por exemplo, identificar um deslocamento de 8 centímetros no Chile, depois do terremoto que atingiu o país no ano passado. Além desse mapeamento, o sistema ainda pode funcionar como alerta sobre possíveis desastres. "Todas as placas têm um movimento: ou estão se afastando ou se encontrando. Quando se encontram, há o perigo dos terremotos. A velocidade desse encontro, quantos milímetros ou centímetros ao ano, é que faz com que possamos ligar uma luz vermelha", explicou Cristina Lobianco, coordenadora de Geodésia do IBGE.
Obras internacionais
Cristina explica que a precisão das coordenadas aliada ao monitoramento dos diversos pontos cobertos pelas estações permitem cálculos mais exatos no planejamento da construção de uma rodovia internacional ou de um gasoduto binacional, como o Gasoduto Brasil-Bolívia, por exemplo. "A gente podia começar a construir um gasoduto no Brasil e não encontrar o trecho da Bolívia por causa de um deslocamento de terra de centímetros".
As estações que funcionam como GPS têm como referência comum o centro da terra. O Brasil aderiu ao GNSS em 2005, seguido por outros países do continente. Até essa adesão, cada país tinha como referência seu próprio sistema de coordenadas. "A origem era diferente, a escala era diferente, então, quando você fazia qualquer cálculo em cima de duas coordenadas, dava resultados diferentes", lembrou a técnica ao explicar os riscos dessa falta de homogeneidade dos sistemas.