Assassinatos por motivação política mais que dobraram na Baixada Fluminense nos últimos dois anos, afetando principalmente negros nas periferias, com a maioria dos casos ocorrendo em áreas controladas pelo tráfico.
O relatório Violência e Crime no Cotidiano da Política, lançado hoje (14) pelo Observatório das Favelas, aponta 65 mortes por motivação política na Baixada Fluminense na última década, com aumento constante: nos últimos dois anos, o número subiu de cinco para doze.
Segundo André Rodrigues, coordenador-geral da pesquisa, “a maioria dos casos, sem dúvida, ocorre em áreas periféricas, com concentração na Baixada Fluminense. Mesmo na capital, os casos se concentram na zona norte e oeste”. A Baía de Ilha Grande foi incluída no estudo, embora cidades como Paraty e Angra dos Reis não sejam consideradas periféricas nem violentas no imaginário turístico.
“Elas vêm passando por um processo de disseminação da lógica metropolitana, como a expansão de milicianos. Há cidades entre as mais favelizadas do país, com altas taxas de homicídio, histórico de conflitos por terra, especulação imobiliária e poucos dados mapeados”, explica Leandro Marinho, coordenador-executivo da pesquisa.
A maior parte das estatísticas refere-se ao período entre janeiro de 2022 e junho de 2025, ou seja, aos últimos dois anos e meio. O levantamento inclui meses de grande interesse, como a eleição presidencial mais polarizada da história recente do Brasil e a eleição municipal do ano passado.
Quem são os maiores agressores e vítimas?
Políticos foram autores de 59 casos de agressão, e policiais, de 58, rivalizando também em outra coincidência: todos os casos ocorreram em áreas controladas pelo tráfico, não por milícias, cujos territórios registram uma quantidade muito menor de ações policiais.
Em um terço dos casos de violência política, as agressões foram motivadas por divergências ideológicas, misoginia, transfobia e racismo. Entre 2022 e 2024, os casos contra pessoas negras aumentaram de 17 para 30. No mesmo período, as eleições municipais registraram, pela segunda vez na história do Brasil, o maior percentual de candidatos negros, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O tipo de agressão predominante é verbal. Porém, chama a atenção a quantidade de ameaças, que representa 10%, um índice menor que o de execuções e atentados, com 24%. Isso indica que a maior parte das vítimas foi surpreendida, sendo morta ou atingida por tiros sem aviso prévio, sem oportunidade de adotar medidas de segurança.
O Observatório das Favelas, criado em 2001, é uma organização da sociedade civil do Conjunto de Favelas da Maré. A pesquisa sobre violência política é realizada em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Política e Violência (LEPOV) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e com o Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).