“Mais de 40 corpos”: cemitérios clandestinos aumentam cinco vezes no RJ; veja mapa

Levantamento aponta 116 locais de desova de corpos por traficantes, policiais e milícias na Baixada Fluminense

4 set 2025 - 06h08
Resumo
Relatório elaborado desde 2021 aponta que Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Belford Roxo concentram mais da metade dos cemitérios clandestinos. O mapeamento relaciona os locais de desova de corpos à especulação imobiliária.
Prefeitura de Belford Roxo e polícias militar e civil localizam cemitério clandestino na Vila Pauline, em julho de 2025.
Prefeitura de Belford Roxo e polícias militar e civil localizam cemitério clandestino na Vila Pauline, em julho de 2025.
Foto: Prefeitura de Belford Roxo

As áreas de desova de corpos e cemitérios clandestinos chegaram a 116 nas periferias da Baixada Fluminense, mostra mapeamento da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial). O número cresceu quase seis vezes entre 2021 e 2024 – eram 21 locais no primeiro levantamento.

Quem desova corpos são milícias, policiais, grupos de extermínio, matadores e traficantes. “Não há nenhum tipo de registro do Estado do Rio de Janeiro sobre isso; boletins de ocorrência colocam todo mundo como pessoas desaparecidas”, critica Giselle Florentino, diretora executiva do IDMJRacial.

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Os cemitérios clandestinos estão em terrenos baldios, áreas ermas, lixões, linhas férreas e até rios – foram encontrados 13 nos rios Sarapuí, Guandu e Botas. Em linhas férreas, mais 16. “É um dispositivo predominante em áreas de milícias”, diz Florentino, envolvida na produção do relatório Especulação Imobiliária & Desaparecimentos Forçados.

Dos 17 cemitérios clandestinos de Belford Roxo, cinco ficam em áreas de tráfico, enquanto doze estão territórios dominados por milícias. “Não temos ideia de quantas pessoas foram desaparecidas, assassinadas e tiveram seus corpos empilhados nessas áreas”, afirma o relatório.

Entre 2021 e 2024, número de cemitérios clandestinos foi de 21 para 116. Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Belford Roxo concentram mais da metade.
Foto: IDMJRacial

Onde estão os locais clandestinos de desova de corpos

Em Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Belford Roxo, onde milícias aumentam o domínio, estão 55% dos locais mapeados. “Diminuem homicídios e autos de resistência, mas aumenta o número de pessoas desaparecidas e locais de desova de corpos”, explica a diretora do IDMJRacial.

Segundo ela, “desaparecimentos forçados acontecem como uma sequência de violações: pode começar com o sequestro, envolver agressão psicológica e física, tortura, assassinato, esquartejamento, decapitação. Até a ocultação do corpo, é uma somatória de violações”.

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O relatório não mapeia a quantidade de cadáveres. “Se não tiver uma tecnologia de identificação de material genético, fica inviável. Algumas mães ainda conseguem identificar seus filhos, mas na maioria dos casos, a gente pode encontrar um cemitério clandestino com mais de quarenta corpos que não serão identificados”, relata Florentino.

As mortes e os locais de desova não estão conectados apenas ao varejo de drogas ou às disputas pelo monopólio ilegal de serviços nas periferias. Segundo o relatório, são “parte de uma estratégia de domínio dos mercados imobiliários em áreas faveladas e periféricas”, sobretudo por milícias.

Fonte: Redação Terra
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