Sertralina e pregabalina: remédios que Bolsonaro usa podem causar alucinações?

25 nov 2025 - 05h00
Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro
Foto: Reprodução/Instagram

Nos últimos dias, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou em audiência de custódia que episódios de “paranoia” e uma sensação de que sua tornozeleira eletrônica estava sendo “escutada” teriam relação com medicamentos que vem tomando, entre eles, a sertralina (um antidepressivo do grupo dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina, ISRS) e a pregabalina (um anticonvulsivante usado também para ansiedade e dor neuropática). A declaração, que teria sido o motivo alegado para tentar remover o equipamento, reabriu o debate público: esses remédios podem provocar alucinações? E, se sim, com que frequência e em que circunstâncias? 

"A sertralina, que é um antidepressivo da classe dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), não costuma causar alucinações quando utilizada nas doses habituais e sob acompanhamento médico. Esse efeito é considerado raro e geralmente aparece apenas em situações muito específicas, como uso em doses muito altas, interação com outras substâncias psicoativas, ingestão concomitante de álcool, quadro psiquiátrico prévio com sintomas psicóticos ou presença de condições neurológicas que aumentem a vulnerabilidade, além de idade avançada e comorbidades clínica", explica a médica psiquiatra Cintia Braga.

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Dra. Cintia diz que a pregabalina é indicada para ansiedade generalizada, dor neuropática e algumas condições neurológicas. "Pode raramente estar associada as alterações perceptivas, especialmente quando usada em doses elevadas, em pessoas com sensibilidade maior ao medicamento ou quando há combinação com substâncias depressoras do sistema nervoso central, como álcool, por exemplo. De forma geral, alucinações não são efeitos esperados nem comuns desses remédios quando utilizados de forma adequada e prescritos por um médico.", complementa. 

"A associação pode potencializar sedação, confusão, alteração de julgamento e da memória — embora isso não seja comum. A pregabalina é o medicamento mais frequentemente associado à sedação. Em casos raros, pode desencadear confusão mental, despersonalização, sonhos vívidos ou até delírios leves em pessoas mais vulneráveis", completa Dra Jéssica Martani, médica psiquiatra.

Segundo a especialista,  geralmente quando esses efeitos aparecem, estão relacionados a dose inadequada, interação com álcool ou outras drogas, retirada abrupta ou vulnerabilidade psiquiátrica prévia.

"Na prática clínica, porém, esses medicamentos são considerados seguros quando prescritos e acompanhados corretamente. Em idosos, o risco é maior, devido à metabolização mais lenta, o cérebro mais sensível a sedativos e moduladores de neurotransmissores e mais interação medicamentosa", diz.

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Quais são os principais efeitos colaterais?

A sertralina costuma provocar efeitos colaterais leves e transitórios nas primeiras semanas de uso, como náusea, dor de cabeça, alteração do sono, redução da libido e, em alguns casos, aumento inicial da ansiedade — o que tende a melhorar com o ajuste da dose.

Já a pregabalina pode causar sonolência, tontura, ganho de peso, inchaço nas pernas, visão borrada e redução da coordenação motora. Em ambos os casos, os efeitos adversos geralmente diminuem com o tempo e são manejáveis com acompanhamento médico.

"É importante reforçar que a automedicação aumenta significativamente o risco de efeitos indesejados, inclusive os mais raros. Por isso, qualquer mudança de comportamento, confusão mental ou sintoma fora do habitual deve ser avaliada imediatamente por um profissional de saúde", conclui a Dra. Cintia.

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