A apneia obstrutiva do sono já atinge uma parcela expressiva da população adulta no Brasil. Dados epidemiológicos nacionais e internacionais indicam que entre 33% e 40% dos brasileiros convivem com o distúrbio, que ainda permanece amplamente subdiagnosticado e reconhecido como um problema relevante de saúde pública.
Nesse cenário, a liberação do medicamento Monjauro, em novembro, como terapia auxiliar no tratamento da condição, acrescentou novos elementos ao debate clínico. A medida reforça a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, ampliando também o papel dos cirurgiões-dentistas no acompanhamento e manejo da doença.
Caracterizada por pausas repetidas na respiração durante o sono, a apneia obstrutiva está associada a impactos significativos no sistema cardiovascular, no metabolismo e no desempenho cognitivo, além de comprometer a qualidade de vida.
A prevalência aumenta com a idade: estudos apontam que cerca de 45% dos homens acima dos 40 anos apresentam algum grau do distúrbio.
Entre as mulheres na pós-menopausa, a ocorrência varia de 30% a 35%, enquanto os casos moderados e graves representam aproximadamente 10% a 20% da população adulta, reforçando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.
Odontologia no cuidado integrado da apneia
Para a dentista formada pela USP, Sabrina Balkanyi, o avanço regulatório consolida um papel que por muito tempo foi subestimado. "A apneia é uma doença sistêmica, não apenas um distúrbio do sono. Dentistas capacitados identificam sinais precoces, realizam diagnóstico complementar e participam do tratamento com dispositivos orais que reposicionam a mandíbula e a língua, facilitando a passagem de ar", explica.
Ainda segundo a especialista, a liberação do Monjauro como terapia auxiliar soma-se a outras estratégias já utilizadas, fortalecendo o cuidado integrado.
Na prática clínica, cada vez mais, envolve a atuação conjunta com pneumologistas e otorrinolaringologistas, especialmente em centros que trabalham com medicina do sono.
Dispositivos intraorais e novos recursos terapêuticos
Nos consultórios odontológicos, uma das principais intervenções é a adaptação de aparelhos intraorais personalizados, indicados principalmente para pacientes com quadros leves a moderados ou que não se adaptam ao CPAP.
Esses dispositivos mantêm as vias aéreas abertas durante o sono e apresentam bons resultados quando bem indicados e acompanhados.
"Aparelhos intraorais têm efeito mecânico, mas impactam diretamente a fisiologia da via aérea. Quando associados à perda de peso orientada, higiene do sono e, agora, a terapias auxiliares como o Monjauro, os resultados tendem a ser mais consistentes", avalia Sabrina.
Subdiagnóstico ainda é um desafio
Apesar da alta prevalência, a maioria das pessoas com apneia desconhece a própria condição.
Os sintomas como ronco intenso, sonolência diurna, cefaleia matinal, irritabilidade, boca seca e queda de desempenho cognitivo costumam ser ignorados. "O consultório odontológico pode ser a porta de entrada para a investigação", destaca a especialista.
Para Sabrina Balkanyi, a tendência é clara: a odontologia do futuro estará cada vez mais integrada à saúde sistêmica. "Dentistas atualizados conseguem identificar riscos, orientar tratamentos e acompanhar casos complexos. O paciente ganha qualidade de vida e o sistema de saúde reduz os impactos do diagnóstico tardio", conclui.