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'Se dependesse só da gente, já estaria resolvido', diz líder indígena sobre crise climática

Txai Suruí, Sinéia do Vale, Naywëni Yawanawá e Kaká Werá falaram sobre ancestralidade e clima no Encontro Futuro Vivo, nesta terça, 26

26 ago 2025 - 13h41
(atualizado às 14h17)
Txai Suruí no Encontro Futuro Vivo
Txai Suruí no Encontro Futuro Vivo
Foto: Lu Aith/Terra

Foi entoando um cântico indígena com a mensagem de reverência à terra – em conexão com o solo, a água, o fogo, o céu, o coração e o outro – que teve início a roda de conversa entre as lideranças Txai Suruí, Sinéia do Vale e Naywëni Yawanawá, com mediação de Kaká Werá, no Encontro Futuro Vivo nesta terça-feira, 26. Juntos, em uma conversa entre gerações e povos, eles falaram sobre a importância da conexão com a ancestralidade em busca de um futuro melhor, em meio à crise climática.

Os povos originários são reconhecidos como os guardiões da floresta, mas a luta pelo fim de sua destruição não é só deles. Em um ano de COP30 no Brasil, Txai Suruí reforçou a importância de um diálogo amplo sobre as questões de clima com a sociedade – que, como pontua, tem que entender a importância de cobrar representantes, governos e empresas.

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“Se dependesse só da gente, já estaria resolvido”, disse a líder indígena do povo suruí, ativista ambiental e agora representante brasileira do Grupo Consultivo de Jovens sobre Mudança Climática da Organização das Nações Unidas (ONU).

Ela explica que os povos indígenas já sentem a mudança do clima há muito tempo, e que falam sobre isso há muito tempo. Cientistas também não negam o que está acontecendo com o planeta e as soluções para mitigar a crise – que giram principalmente em torno da redução das emissões de gases de efeito estufa – também já são evidentes. “Então, o que está faltando?”, questiona.

Se o Brasil, que irá sediar a COP30, quer ser líder na pauta de enfrentamento às mudanças climáticas, ainda é preciso garantir direitos que deveriam já estar assegurados, comenta Txai. Nisso, ela destaca a importância de que não se aceite a exploração de petróleo na Amazônia, que haja um combate efetivo ao garimpo ilegal, que os territórios indígenas sejam demarcados e que todos os biomas sejam protegidos.

“Ouvir os povos indígenas e garantir seus territórios faz parte da solução” – Txai Suruí 

Sabedorias indígenas

“Demarcação dos territórios indígenas é política de clima", diz Sinéia do Vale, que é líder indígena wapichana, enviada especial da COP30 e que trabalha há décadas na linha de frente da causa indígena em Roraima. Não respeitar o território dos povos originários, assim como suas sabedorias, é estar fadado a um fracasso mais rápido, acredita.  

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O Brasil está se preparando para sediar a COP com maior quantidade de indígenas participantes e essa, por exemplo, é uma forma de levar mais sabedoria ancestral a quem decide. “Levantar nossas vozes nos espaços de decisão é muito importante”, frisa.

Naywëni Yawanawá, que é a primeira liderança feminina do povo yawanawá e guardiã do Nipei (a sabedoria das plantas sagradas), explica que essa sabedoria é passada de geração em geração, e que é por ela que nascem as lideranças.

“Liderança é uma semente plantada, regada pelos conselhos dos pais, avós. Se torna árvore que começa a dar frutos do conhecimento, da sua ancestralidade. Minha vida é assim. Não fui escolhida numa reunião. Eu nasci, fui, sou”, afirmou, com muito afeto em sua fala.

“Na nossa ausência, nossos filhos vão continuar. Nós estamos aqui, presentes, para dizer que somos o hoje. O amanhã é a plantinha que nós plantamos hoje” – Naywëni Yawanawá 

Tão grave como as questões de terra, são as invasões nos territórios imateriais, nos saberes dos povos ancestrais, nas visões de mundo, pontua Kaká Werá, líder indígena do povo tapuia, educador e prêmio Jabuti com a obra ‘Apytama – Floresta de Histórias’.

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Ele explica que há um viés, que acompanha o povo brasileiro desde a invasão do Brasil, de que “não há povo indígena, não há cultura, não há sabedoria e não há alma nessas pessoas". Um passado atrelado à escravização. Mas que agora, com uma grande encruzilhada de crises – climáticas e em várias áreas da humanidade – os valores da cultura ancestral, sua diversidade, têm sido trazidos em evidência. Perceberam que na Amazônia, milhões de pessoas conseguiram se desenvolver mantendo a floresta de pé.

“De repente perceberam que esses territórios do coração, do pensamento, de alma, do modo de se relacionar com a vida, que os ancestrais trazem, têm alguma coisa que vem para ajudar a atravessar esse momento. A lidar com esse paradigma que está profundamente arraigado na sociedade humana como um todo, que eu chamo de paradigma da destruição”, diz Kaká Werá.

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Mais sobre o evento

O Terra transmite ao vivo, nesta terça-feira, 26, o Encontro Futuro Vivo – evento que debate ciência climática, ancestralidade, circularidade, relações humanas e o futuro da vida no planeta.

Além do debate sobre ancestralidade, a primeira metade do encontro contou com um painel com um painel dos cientistas Johan Rockström e Carlos Nobre, que abordaram os limites planetários e a urgência das ações humanas diante da chegada da Terra a um ponto de não retorno.

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À tarde, são esperados painéis sobre conexões humanas, neurociência e sustentabilidade, com Denise Fraga, Gabor Maté, Ailton Krenak, Sidarta Ribeiro e outras referências. Gilberto Gil encerrará o evento com um pocket show.

Fonte: Futuro Vivo
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