Saiba os elementos do seu dia a dia que causam câncer

28 out 2015 - 10h11
(atualizado às 10h48)
Tabaco, fumo passivo, poluição, exposição excessiva ao sol, álcool e carne processada são substâncias causadoras de câncer, diz OMS
Tabaco, fumo passivo, poluição, exposição excessiva ao sol, álcool e carne processada são substâncias causadoras de câncer, diz OMS
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Na semana em que a OMS (Organização Mundial de Saúde) classificou linguiça, bacon, presunto e outras carnes processadas como substâncias causadoras de câncer, a BBC Brasil pediu à IARC (Agência Internacional de Pesquisa de Câncer), um dos braços da organização, para elaborar uma lista das substâncias cancerígenas, ou situações de risco, mais comumente presentes no dia a dia das pessoas.

"Não é que essas substâncias sejam altamente tóxicas por si só, mas elas são amplamente usadas nas nossas vidas e é por isso que precisamos estar atentos aos danos que causam", disse o porta-voz Nicolas Godin.

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A boa notícia, segundo Godin, é que muitos fatores de vulnerabilidade podem ser evitados.

"Desenvolver a doença é, até certo ponto, também uma questão de estilo de vida", ressalta.

"Na prática, há dois grandes grupos de agentes cancerígenos, os que não podemos evitar e os que podemos. Basta fazer escolhas."

A OMS categoriza em quatro classes o perigo que substâncias ou situações representam à saúde.

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É considerado "comprovadamente cancerígeno aos humanos" os 118 agentes contidos na categoria "1". Os 363 itens da categoria "2A" e "2B" são avaliados como "provável" e "possivelmente" cancerígenos. Itens do grupo "3" são "não classificáveis quanto a sua carcinogenicidade a humanos" e a categoria "4" só possui uma substância considerada "provavelmente não cancerígena aos humanos", o composto orgânico caprolactam.

Veja abaixo a lista das substâncias do grupo 1 mais comuns no nosso dia a dia, preparada pela IARC.

Tabaco chega a matar um em cada dois usuários da substância
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1) Tabaco

De acordo com estimativas da OMS, o tabaco mata até metade dos usuários da substância - que pode ser fumada ou mascada. A cada ano, mais de 5 milhões de pessoas morrem em decorrência do fumo.

"O cigarro é de longe o maior cancerígeno do mundo moderno. Imagine uma pessoa que fumou quatro cigarros ao dia ao longo de 40 anos? Não há como calcular. A toxidade disso é enorme", disse à BBC Brasil Christoph Rochlitz, chefe do departamento de oncologia do Hospital da Universidade da Basileia, na Suíça.

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Fumo passivo mata mais de 600 mil pessoas ao ano ─ do total, 28% são crianças
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2) Fumo passivo

Estar ao lado de uma pessoa fumando pode ser tão mortal quanto fumar, segundo a OMS.

Dados estimam que o fumo passivo mata mais de 600 mil pessoas ao ano. Desse total, 28% são crianças. Em adultos, a exposição à fumaça do tabaco gera sérias doenças cardiorrespiratórias, além, de câncer de pulmão.

O fumo passivo é apontado como causa de morte súbita em bebês. Em mulheres grávidas, ele pode ter o efeito de causar nascimento de bebês com baixo peso.

Qualidade do ar nas 1,6 mil cidades monitoradas pela OMS avança rumo à deterioração
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3) Poluição

A poluição do ar é um problema de saúde pública que independe do estilo de vida dos indivíduos.

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A qualidade do ar nas 1,6 mil cidades monitoradas pela OMS avança rumo à deterioração. Entre os 91 países estudados, os níveis de poluição apresentaram significante piora na última avaliação, divulgada em maio de 2014.

A organização estima que, em 2012, cerca de 3,7 milhões de pessoas com menos de 60 anos morreram em decorrência da exposição à poluição.

"É um fator externo que não se pode controlar e isso depende das políticas públicas ambientais de cada país infelizmente", avalia Rochlitz.

Indivíduos de pele branca são mais suscetíveis ao câncer de pele
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4) Exposição a raios ultravioleta

Melanoma maligno é o tipo de câncer de pele mais letal resultante da exposição excessiva aos raios ultravioleta emitidos pelo Sol.

É a principal causa de morte por câncer de pele. Evitar queimaduras solares, principalmente a superexposição repetida durante a infância, é recomendado.

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Indivíduos de pele branca são mais suscetíveis à doença.

"Mas aí também vai da pessoa querer se proteger. A Austrália, que era campeã em incidência da doença, hoje já apresenta em alguns estudos índices menores de câncer de pele do que os países nórdicos da Europa. Isso se deve à tomada de consciência da população que passou a utilizar protetor solar e mudou seus hábitos", explica Rochlitz.

Fumaça emitida por motores alimentados a diesel contém nitroarenos, compostos resultantes da combustão incompleta do combustível
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5) Fumaça de motores a diesel

A fumaça emitida por motores alimentados a diesel é considerada um agente cancerígeno categoria "1" desde a década de 80, por conter nitroarenos, compostos resultantes da combustão incompleta do combustível.

"Em termos de toxidade, estamos falando de um elemento muito danoso, mas não há como especificar o impacto específico dessa substância, porque as pessoas estão expostas a ela em ambiente abertos", diz Rochlitz.

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Um estudo de 2012 em parceria do Instituto Nacional de Câncer e do Instituto Nacional de Saúde e Segurança do Trabalho dos Estados Unidos constatou aumento no risco de mortes por câncer de pulmão entre mineiros que trabalhavam no subsolo expostos à fumaça de diesel.

6) Contato com químicos formaldeídos

O formaldeído é um químico bastante comum, amplamente utilizado na fabricação de resinas e presente em produtos como solvente de cola.

Trata-se de um gás oriundo da oxidação do metanol, mas também pode ser encontrado na forma líquida, o formol.

O principal risco vem da inalação, que pode resultar em câncer da região do nariz e da faringe, e em leucemia.

"Mas se você não está diretamente exposto ao produto por meio do seu ambiente de trabalho, não deveria se preocupar muito com isso. É uma causa de câncer, mas pode ser evitada", avalia Godin.

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"É um risco ocupacional para pintores. Tintas são complexas e variam muito. Algumas são cancerígenas, mas não é possível apontar um único agente específico", pondera o pesquisador da IACR, Robert Baan.

Tratamento de reposição hormonal e o método anticoncepcional aumentam risco de câncer, como o de mama
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7) Uso de hormônios progesterona e estrogênio em reposição hormonal, ou em pílulas anticoncepcionais

Tema de muita polêmica entre as mulheres, tratamentos de reposição hormonal e métodos anticoncepcionais são apontados como comprovados fatores do aumento de risco de câncer quando há uso de hormônios combinados.

Estudos da OMS de 2007 concluíram que o uso associado de progesterona e estrogênio em mulheres após a menopausa aumentavam as chances de desenvolver câncer de mama.

Pílulas contraceptivas contendo os dois ingredientes também são consideradas carcinogênicas da categoria "1". "Sim, é comprovado que a combinação desses hormônios é cancerígena", assinala Rochlitz.

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A IARC faz a ressalva, porém, de que esses agentes servem para proteger contra câncer de ovário e da mucosa uterina.

No mundo, 76,3 milhões sofrem de alcoolismo
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8) Álcool

"O álcool é uma substância que pode ser boa ou má, dependendo da quantidade e qualidade que você ingere", avalia Rochlitz.

Consta na lista IARC que álcool etanol e álcool metil presentes em bebidas alcoólicas são substâncias comprovadamente cancerígenas do tipo "1".

Rochlitz ressalta, porém, que o consumo moderado de vinho pode ajudar o sistema cardiovascular, segundo pesquisas recentes. Existem 2 bilhões de consumidores de álcool no mundo e, desse total, 76,3 milhões sofrem de alcoolismo, segundo números da OMS.

Bacon, linguiça e presunto podem causar danos à saúde, diz OMS
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9) Carne processada

Adicionado recentemente à lista das substâncias cancerígenas, a carne vermelha processada é amplamente consumida no mundo industrializado.

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Bacon, linguiça e presunto fazem parte do café da manhã da maioria das famílias e abandonar esses ingredientes é a nova recomendação da OMS.

"Um aumento no consumo de 50 gramas ao dia de carne processada representa 18% a mais de chances de desenvolver câncer da região do colo e reto. Eu mesmo vou passar a moderar a dieta", exemplifica Rochlitz.

10) Exposição ao gás radônio

Pouco conhecido fora da tabela periódica, o radônio é um gás radioativo - resíduo da desintegração de rádio e tório presente em rochas - que sobe do solo à superfície. O gás em geral se dilui no ambiente, mas pode ter concentrações perigosas em ambientes fechados. Alguns materiais de construção também são fonte de radônio.

Ele é incolor, inodoro e é a principal causa específica de mortes por câncer de pulmão após o tabaco.

A epidemiologista Lene Veiga, do Conselho Nacional de Energia Nuclear, é a representante brasileira nos encontros da OMS sobre o assunto.

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Ela explica que no Brasil ainda não há um levantamento específico sobre a extensão do problema, mas países desenvolvidos de clima temperado ─ onde as casas têm calefação e isolamento térmico ─ já buscam desenvolver políticas públicas.

"O gás está presente no material de construção. É um fator que não podemos controlar, mas precisamos entender. As pessoas estão expostas a isso inevitavelmente", conclui Veiga.

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