Opositora venezuelana vai a Oslo, mas não irá à cerimônia de entrega do Nobel da Paz

O Instituto Nobel Norueguês confirmou que Machado não chegara a tempo da cerimônia de entrega do Nobel da Paz em Oslo nesta quarta-feira, mas que ela está bem.

10 dez 2025 - 07h11
(atualizado às 08h11)
María Corina Machado foi premiada por seus "incansáveis esforços para promover os direitos e as liberdades na Venezuela"
María Corina Machado foi premiada por seus "incansáveis esforços para promover os direitos e as liberdades na Venezuela"
Foto: Odd ANDERSEN / AFP via Getty Images / BBC News Brasil

María Corina Machado, líder da oposição venezuelana laureada com o Prêmio Nobel da Paz, não participará nesta quarta-feira (10/12) da cerimônia de entrega do prêmio em Oslo (Noruega), informou o Instituto Nobel Norueguês.

A ida da opositora venezuelana à cerimônia foi cercada de idas e vindas e dúvidas.

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Nas primeiras horas da manhã desta quarta, o Instituto Nobel Norueguês confirmou que ela não estaria no evento. Até aquele momento, porém, seu paradeiro era desconhecido.

Posteriormente, porém, a organização anunciou que a política venezuelana estava bem e que iria, sim, a Oslo, mas não chegaria a tempo da cerimônia.

"A laureada com o Prêmio Nobel da Paz, Maria Corina Machado, fez tudo ao seu alcance para estar presente na cerimônia de hoje. Uma viagem em situação de extremo perigo. Embora não tenha conseguido chegar à cerimônia e aos eventos de hoje, estamos profundamente felizes em confirmar que ela está bem e que estará conosco em Oslo", disse o instituto em nota enviada à imprensa.

Apesar da ausência, a cerimônia está mantida, e será a filha de Machado, Ana Corina Sosa Machado, quem receberá o prêmio e fará um discurso em nome da mãe, segundo afirmou Kristian Berg Harpviken, diretor do instituto e secretário permanente do órgão de seleção, à emissora pública norueguesa NRK.

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O evento de entrega da premiação acontecerá na Prefeitura de Oslo, ao lado do rei Harald 5º, da rainha Sonja e de líderes latino-americanos, entre eles os presidentes da Argentina, Javier Milei, e do Equador, Daniel Noboa.

Em outubro, o comitê do Prêmio Nobel decidiu conceder o prêmio à líder da oposição por seus "esforços incansáveis para promover os direitos e liberdades na Venezuela" e por defender "uma transição justa e pacífica para a democracia".

"María Corina Machado dedicou anos à luta pela liberdade do povo venezuelano", ressaltou a instituição, que acrescentou que "o controle férreo do poder por parte do governo venezuelano e sua repressão contra a população não são fenômenos únicos no mundo".

"Meu Deus... Não tenho palavras", foi a primeira reação da líder da oposição ao saber, em outubro passado, que havia se tornado a primeira venezuelana a receber o prêmio.

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"Este é o feito de um movimento, de uma sociedade. Certamente não mereço um prêmio assim, mas o recebo com humildade e gratidão em nome do povo da Venezuela", afirmou durante conversa telefônica com Harpviken, também presidente do Comitê Norueguês do Prêmio Nobel de Paz.

A presença de María Corina Machado havia sido anunciada semanas antes pelo Instituto Nobel norueguês — por isso se acreditava que ela viajaria até a capital norueguesa.

A líder da oposição não é vista em público desde 09/01, quando liderou uma manifestação em Caracas contra a juramentação do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, para um terceiro mandato consecutivo.

No fim de 2024, Machado informou que passaria à clandestinidade, em meio à onda de repressão com que as autoridades venezuelanas responderam aos protestos desencadeados após os resultados questionados das eleições presidenciais, que deixaram mais de 2 mil detidos, entre eles dezenas de líderes opositores.

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A filha de Machado, Ana Corina, havia viajado a Oslo para acompanhar a mãe e será quem receberá o prêmio em seu nome
Foto: Lise Åserud / NTB / AFP via Getty Images / BBC News Brasil

A líder se tornou a principal voz da dissidência contra o governo de Maduro, no poder desde 2013, quando Hugo Chávez (1954-2013) morreu.

Em outubro de 2023, ela foi escolhida como candidata unificada da oposição nas eleições primárias, mas as autoridades lhe impediram de disputar a eleição presidencial realizada em 28/07/24.

Ainda assim, Machado não ficou de braços cruzados e apoiou o diplomata Edmundo González Urrutia, que, segundo registros obtidos pela oposição, venceu os comícios com 66% dos votos. Mesmo assim, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Maduro vencedor sem apresentar provas que justificassem a decisão.

Machado já era conhecida no país desde 2003, quando, pela organização Súmate, impulsionou um referendo para revogar o mandato do então presidente Chávez.

Em 2010, ela foi eleita deputada. Dois anos depois, em 2012, protagonizou um tenso embate com o então presidente, cuja política de nacionalização de empresas criticou.

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"Expropriar é roubar", disparou ela. Chávez respondeu: "Até de ladrão me chamou. Me chamou de ladrão diante do país".

Desde janeiro, todo o contato com Machado tem ocorrido por meio de suas redes sociais e de videoconferências
Foto: Eva Marie Uzcategui/Bloomberg via Getty Images / BBC News Brasil

'Vamos sentir saudades dela'

O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, advertiu a líder da oposição há algumas semanas que, se ela deixasse o país, seria considerada "fugitiva" e que tentaria prendê-la caso ela tentasse retornar.

Desde 2014, pesa sobre Machado uma proibição de deixar a Venezuela, imposta por um tribunal nacional em resposta à sua suposta participação nos episódios violentos que resultaram da marcha realizada em Caracas em 12/02/2014.

Esse mesmo caso levou à prisão do ex-prefeito e ex-pré-candidato presidencial Leopoldo López. Apesar de já se passar mais de uma década e de Machado nunca ter sido formalmente processada, a restrição judicial permanece vigente.

Por outro lado, o ministro do Interior, Diosdado Cabello, adotou tom menos severo e, nos últimos dias, anunciou publicamente a saída de Machado do país.

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"Vamos sentir saudades dela", disse Cabello em seu programa na televisão estatal.

"A equipe está instalada na Noruega há dias. E, embora a máquina midiática espalhe que ninguém sabe onde ela está, a realidade é menos poética. A mulher deixou o país com a mesma elegância com que Edmundo González organizou sua saída rápida do país. Nada de desaparecimento nem drama, apenas logística operacional e aviões que viajam em silêncio com imunidade diplomática", declarou.

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