O alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Volker Turk, afirmou nesta sexta-feira que o pior pode estar por vir na escalada da crise no leste do Congo, dizendo que espera que a violência sexual, incluindo incidentes de estupro e escravidão sexual, aumente.
Ele falou em uma reunião de emergência do Conselho de Direitos Humanos da ONU, convocada pelo Congo para investigar as violações maciças de direitos humanos que o país atribui aos rebeldes do grupo M23, apoiados por Ruanda, que tomaram a cidade de Goma e estão conquistando mais território.
"Se nada for feito, o pior pode estar por vir, para o povo do leste da RDC (República Democrática do Congo), mas também para além das fronteiras do país", disse Turk em uma sala lotada de diplomatas e grupos de defesa dos direitos humanos em Genebra. "Todos os que têm influência devem agir com urgência para pôr fim a essa situação trágica."
Turk disse que está "horrorizado" com o surgimento de vários relatos de estupro, estupro coletivo e escravidão sexual. "É provável que isso se agrave nas circunstâncias atuais", disse ele.
O enviado de Ruanda rejeitou as alegações de que o país é responsável, dizendo que tem provas da intenção de um grande ataque por parte de seu vizinho ocidental.
Dezenas de países presentes na reunião condenaram as violações de direitos humanos no Congo, incluindo vários Estados africanos. Os Estados Unidos, anteriormente um membro ativo do conselho, deixou seu assento vazio depois que o presidente Donald Trump anunciou que os EUA estavam saindo do órgão.
O Congo apresentou uma moção solicitando a criação de uma Missão de Apuração de Fatos da ONU, que deverá fornecer um relatório completo sobre os abusos no leste do Congo até setembro de 2025.
A moção deveria ser adotada ainda na sexta-feira, com um memorando interno das Nações Unidas sobre as negociações visto pela Reuters identificando Ruanda como a única voz dissidente.
Embora o conselho não tenha poder legalmente vinculante, seus debates têm peso político e o escrutínio pode aumentar a pressão global sobre os governos. Às vezes, as investigações ordenadas pelo conselho podem levar a processos por crimes de guerra em tribunais internacionais.