Black blocs são uma tática de protesto surgida na Alemanha nos anos 1980, marcada pelo anonimato e enfrentamento direto, que ganhou destaque no Brasil em 2013, sem ligação a grupos estruturados, mas foi criticada por governos pela violência nas manifestações.
O terceiro a votar no julgamento de Jair Bolsonaro e seus aliados do "núcleo crucial" da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luiz Fux citou em sua sustentação os chamados black blocs. Para Fux, os atos de 8 de Janeiro são comparáveis aos black blocs de 2013 e 2014.
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Entre os exemplos, Fux citou o caso do cinegrafista Santiago Andrade, que morreu após ser atingido por um rojão enquanto cobria um protesto no Rio de Janeiro em fevereiro de 2014, durante a gestão Dilma Rousseff (PT). "Há diversas imagens registradas pela imprensa de pessoas portando bandeiras de partidos políticos durante as práticas criminosas naquela oportunidade", disse o ministro.
O que são os black blocs
Durante as manifestações de junho de 2013, um elemento chamou atenção e rapidamente ganhou destaque no cenário político brasileiro: a tática conhecida como black bloc. De acordo com o historiador Bruno Fiuza, da Universidade de São Paulo, o fenômeno não surgiu no Brasil nem naquele período específico, mas encontrou ali uma dimensão inédita. Segundo ele, "uma das grandes novidades das manifestações de junho de 2013 foi a dimensão e a popularidade que a tática black bloc ganhou no País".
A origem remonta à Alemanha Ocidental dos anos 1980, quando militantes ligados ao movimento autonomista surgido a partir das experiências da autonomia operária italiana passaram a organizar ações diretas contra usinas nucleares e ocupar imóveis urbanos. Foi nesse contexto, diante da repressão policial, que grupos de jovens decidiram vestir-se de preto, cobrir o rosto e adotarem equipamentos de proteção. A imprensa alemã batizou o grupo de Schwarzer Block -- Bloco Negro.
De lá, a tática se espalhou pela Europa e chegou aos Estados Unidos, onde em 1999 ganhou repercussão mundial com os protestos contra a OMC, em Seattle. Fiuza aponta que esse episódio inaugurou uma nova fase, marcada por ataques simbólicos contra logotipos e lojas de grandes marcas globais. Segundo ele, ao atingir símbolos do capitalismo, como McDonald’s ou Gap, os militantes buscavam mostrar que "por trás da fachada divertida e amigável da publicidade corporativa havia um mundo de exploração e violência".
Black blocs no Brasil
No Brasil, o uso do black bloc se consolidou em 2013, quando milhares foram às ruas em protestos contra aumentos nas tarifas de transporte público e em defesa de pautas diversas. As manifestações, como descreve Fiuza, abriram a "caixa de Pandora".
O que distingue a tática é justamente seu caráter coletivo, marcado pelo anonimato e pela disposição ao enfrentamento direto com a polícia. Fiuza ressalta que formar um black bloc não significa pertencer a uma organização estruturada. "Eles apenas optaram por uma determinada tática de luta", explica, afastando a ideia de que o grupo se configura como movimento organizado.
Na época, o governo da então presidente Dilma Rousseff reagiu duramente. Pelo Twitter, Dilma classificou as ações como "barbáries antidemocráticas" e defendeu punição aos responsáveis. Para ela, "agredir e depredar não fazem parte da liberdade de manifestação".