O ministro Alexandre de Moraes, do STF, destacou durante o julgamento da AP 2.668 que o Brasil quase retornou a uma ditadura, enfatizando crimes golpistas atribuídos a Jair Bolsonaro e aliados, incluindo planos de assassinatos e ataque às instituições democráticas.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez um discurso em favor da democracia durante a leitura de seu voto no julgamento da Ação Penal (AP) 2.668, que apura tentativa de golpe de Estado, e, ao citar os atos golpistas apontados na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), declarou: "Estamos esquecendo aos poucos que o Brasil quase volta a uma ditadura que durou 20 anos".
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Segundo o ministro, relator da AP, a trama se deu porque 'uma organização criminosa, constituída por um grupo político, não sabe perder eleições', citando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um dos oito réus ligados ao 'núcleo crucial' da tentativa golpista, como líder desse movimento.
"Não sabe que é um princípio democrático e republicano a alternância de poder. Quem perde vira oposição e disputa as próximas eleições. Quem ganha assume e tenta se manter nas eleições, mas tenta se manter pelo voto popular. Não tenta se manter utilizando órgãos do Estado, coagindo, ameaçando gravemente, deslegitimando o Poder Judiciário de seu país e a Justiça Eleitoral", disse Moraes.
"Não tenta se manter com bombas em aeroportos, não tenta se manter com destruição no dia da diplomação do seu adversário político, que venceu. Não tenta se manter organizando a 'Festa da Selma', com invasão e depredação das sedes dos Três Poderes", acrescentou o ministro.
Um pouco adiante em sua fala, Moraes relembrou o 'plano Punhal Verde e Amarelo', apreendido com o general reformado do Exército Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Presidência do governo Bolsonaro, que previa o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022, por envenenamento ou 'uso de químicos para causar um colapso orgânico'.
"Não é possível alguém normalizar todo esse iter criminis desde meados de junho de 2021 até este momento em que, com armamento pesado de forças especiais do Exército, se pretendia matar o presidente do TSE e, com envenenamento ou remédio para induzir a colapso orgânico, pretendia-se matar o presidente eleito da República. Não é possível normalizar", criticou.
"O Brasil demorou para atingir, concretizar sua democracia. Tivemos 20 anos de ditadura, torturas, desrespeito à independência do Poder Judiciário, Poder Legislativo. As pessoas sumiam, eram mortas. Não é possível banalizar esse retorno a esses momentos obscuros da história que já tivemos", disse, ainda, Moraes.