O delegado Moysés Santana Gomes detalhou a megaoperação que resultou em 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, relatando a presença de mais de 70 traficantes com armas em frente à casa de Doca, líder do Comando Vermelho, que segue foragido. O MP apontou indícios de irregularidades nas mortes registradas.
O delegado Moysés Santana Gomes, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e responsável pela megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão que terminou com 121 mortos, deu detalhes sobre o planejamento da ação policial em depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro. A transcrição do que foi dito consta no relatório enviado pelo MP ao Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira, 12.
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Segundo Gomes, drones da Polícia Civil flagraram mais de 70 traficantes em frente à casa de Edgar Alves de Andrade, o Doca, um dos principais líderes do Comando Vermelho (CV).
"Doca é um traficante de enfrentamento, de confrontar as forças policiais, então, a gente estava preparado para encontrar uma resistência muito grande e sabia que teríamos dificuldades e foi o que acabou de fato acontecendo. Até o início das incursões das forças policiais, nós estávamos com monitoramento aéreo. Então, nós sabíamos que havia um grupo grande de traficantes, que estavam posicionados, no início da operação, em frente à casa do Doca", disse o delegado.
Ele complementou que nos autos da operação há fotos do líder do CV dentro de casa e de homens armados com fuzis e vestindo roupas pretas fazendo sua segurança. Apesar de todo o esforço empregado e das informações do monitoramento aéreo, Doca permanece foragido.
Ainda de acordo com Gomes, a operação do dia 28 de outubro estava sendo planejada há meses e chegou a ser adiada depois que traficantes teriam colocado um muro próximo à entrada pela Fazendinha, no Complexo do Alemão. Mesmo assim, o delegado não acredita que houve vazamento de informações, mas que os traficantes perceberam a movimentação dos efetivos policiais e se adiantaram à operação.
"Uma operação desse tamanho acaba envolvendo uma movimentação muito grande. O Bope teve que deslocar mais de 15 blindados de outros batalhões para o COE", disse. Gomes complementou que uma movimentação desse tamanho só pode significar operação nos complexos da Penha, Alemão ou Salgueiro.
"Por causa do cenário de violência e preparação desses locais. Aquele tipo de estrutura de barricadas, de contenção, do número de fuzis que a gente detecta, tanto nas investigações, quanto nas diligências, nos
monitoramentos, aquela resistência que nós encontramos no Complexo da Penha, por exemplo, a gente só vai encontrar no Complexo do Alemão e no Complexo do Salgueiro", afirmou.
Relatório do MP
O ofício do Ministério Público enviado ao STF contém 367 páginas, entre transcrições de depoimentos de policiais, registros de ordens da operação e relatórios da promotoria sobre a megaoperação. Com relação a este último, há a descrição de casos de 'lesões atípicas' entre os 121 mortos.
O órgão pontuou casos em que as lesões 'destoavam das demais', sendo que em um deles o corpo apresentava característica de alvejamento por arma de fogo a curta distância.
O outro apresentava sinais de decapitação 'produzido por instrumento cortante ou contundente', além de lesão por arma de fogo disparada a distância. Por isso, o órgão classificou os casos como 'fora do contexto esperado para o confronto policial ocorrido'. Os nomes dos mortos não foram divulgados.