Kombi: exposição celebra "reinado" antes de fim da produção

Antigas ou modernosas, as peruas da Volks lotaram uma exposição neste domingo em meio a histórias ou lamentos pelo fim da fabricação no Brasil

8 dez 2013 - 16h31
(atualizado em 9/12/2013 às 13h35)

Uma exposição de Kombis raras, convencionais ou mais ‘modernosas’ transformou o estacionamento da fábrica da Volkswagem, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), neste domingo, em um espaço de trocas de lembranças entre gerações - da Kombi do vendedor de pamonhas ou de caldo de cana à Kombi de viagem com os pais, na infância.

As histórias foram relembradas entre os ‘Kombi-maníacos’ em uma exposição que reuniu cerca de 170 ‘peruas’, apelido carinhoso pelo qual há décadas o carro é conhecido. Nem o sol forte espantou os participantes, que prestaram homenagens ao veículo fabricado no Brasil desde 1950 – o primeiro protótipo, entretanto, é de 1949 - , mas que sai de linha a partir de janeiro de 2014.

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Entre os colecionadores, estava o dono de uma Kombi ano 1950, primeiro ano de vendas. Depois de um ano e meio de restauro, o veículo, que fora encontrado em uma favela pelo amigo do restaurador Maurício Marx, virou uma das principais atrações da exposição. “Tenho ela há dez anos; só para restaurar foi um ano e meio – parei tudo que fazia na minha oficina para cuidar dela”, diz Marx. “São só 36 unidades como essa no mundo; a minha foi a 35ª”, completa.

Sobre o fim das Kombis a partir de 2014 –e ntre outros motivos, porque não comporta itens básicos de segurança que serão obrigatórios, como airbag -, o restaurador define: “Ela teve uma carreira maravilhosa no Brasil. Que descanse em paz – ou melhor, a minha não vai descansar tão já”, riu.

Reforma de R$ 110 mil; tatuagem de Kombi 

Incrementada, a perua dos comerciantes Sérgio Louza, 68, e Douglas Louza, 41, pai e filho, nasceu a partir de um brinquedo dado pelo filho de Douglas. “Desenhei o projeto a partir do brinquedo”, disse o comerciante. Ao todo, foram gastos R$ 110 mil da reforma/reconstrução da Kombi ano 1968 – R$ 18 mil, só em estofamento de couro – que deu ao veículo direção hidráulica e freio a disco nas quatro rodas.

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Entre os expositores, um trouxe nada menos que quatro Kombis ao evento: uma delas em controle remoto e miniatura, duas reais e uma tatuada no braço. “Foram cinco anos de oficina para restauraras Kombis”, disse o restaurador dono delas, Marcos Antonio Peguin de Oliveira, 56.

Entre os modelos menos comuns estava a Kombi 1983 do geógrafo Rafael Marchesi, 52: fabricado no Brasil por apenas quatro anos (1981 a 1985), tem cabine dupla, carroceria e três portas. E placas pretas – conferida apenas a veículos com mais de 30 anos de fabricação e ainda com as características originais.

“Aprendi a dirigir em Kombi – meu pai era lojista e tinha a Kombi dele para o trabalho. Além disso, fiz faculdade usando Kombi”, relembra.

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Maluco-beleza

Com visual invocado e menções ao maluco-beleza Raul Seixas, a Kombi do aposentado Marco Antonio Bartolomeu, 55, já percorreu o País todo. Mas a sisudez do visual rock and roll da cabine logo dá espaço a um tom mais ameno em uma carroceria improvisada: é nela que estão bonecos de desenhos atuais e de décadas passadas. Criança é quem mais se aproxima? “Que nada, são os adultos, mesmo. Eles vêm, se impressionam e dizem ‘olha, filho, isso é do meu tempo!’”, conta Bartolomeu, que faz questão de fazer uma distinção à reportagem: “Esse carro é antigo, não é velho. O antigo você faz questão de manter arrumado”.

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Já a Kombi do casal Ivonete Barazal, 59, e José Barazal, 73, virou motor-home há 26 anos. “A gente garimpa coisas das cidades, detalhes, além de conhecer gente. Sabemos que é um veículo que não será mais fabricado, mas tudo tem seu momento: se até o 14 Bis teve, por que a Kombi não terá? Mas deixará muitas saudades”, diz Barazal.

Última edição vale R$ 89 mil

Entre tantos modelos de décadas, um que não só estava exposto, mas à venda, era o da Last Edition – como o nome diz, última edição da perua, mas com alguns apetrechos ao colecionador que quase fazem dobrar o valor em relação a um modelo 2014 comum, hoje vendido a R$ 49 mil. Com apenas 1.200 unidades fabricadas e numeradas e em uma mesma cor, a Last Edition custa R$ 89 mil.

Para os organizadores a exposição, mesmo em uma realidade na qual o transporte público se apregoe como o mais viável, a Kombi mostra que pode haver exceções entre os carros comuns.

“A Kombi tem um custo de manutenção muito baixo, uma mecânica idêntica à do Fusca e capacidade para nove pessoas –por um custo hoje de pouco mais de R$ 40 mil. Só por esse valor e pela capacidade de carga, é um veículo extremamente viável”, define o diretor da Sampa Kombi, um dos dez fã-clubes dedicados ao veículo, hoje, no país, e organizador da exposição.

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“É triste encerrar a fabricação, pois é um carro que representa a história das últimas décadas do Brasil e faz parte da vida de qualquer um, seja do vendedor de rua à feira livre ou as viagens com a família. Só a Kombi tem essa memória”, classifica o presidente do Sampa Kombi, Eduardo Gertrait, 38.

Fonte: Terra
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