O que 2026 reserva para a já tão pressionada agenda de diversidade e inclusão (D&I) nas empresas no Brasil? Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, passada a 30ª. Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), há espaço para o tema se posicionar melhor nas companhias. Mas a agenda pode sofrer outros baques, como os efeitos da polarização política no debate público em virtude das eleições presidenciais (entenda a seguir).
O fato é que 2025 trouxe grandes desafios para a estabilidade da agenda de D&I nas empresas, que chegou a viver seu auge nos anos mais recentes do pós-pandemia. Desde os primeiros meses do ano, a pauta enfrentou a pressão global das medidas anti-ESG anunciadas pelo presidente Donald Trump nos Estados Unidos e o recuo no engajamento de multinacionais, como a Meta, frente ao tema, que revisaram, diminuíram ou aboliram suas políticas inclusivas.
O que vai diferenciar empresas no próximo ano, segundo ela, é a coragem para continuar evoluindo.
"Podemos ter políticas, programas e eventos, mas quem transforma cultura são as lideranças. 2026 pedirá um novo tipo de líder, capaz de sustentar conversas difíceis, de reconhecer barreiras que muita gente nunca viu, de tomar decisões que incluam impacto e de criar ambientes onde as pessoas não precisem se proteger para trabalhar."
Para Dayrell, o ponto mais urgente para 2026 é fazer com que tudo o que já foi desenvolvido possa ser percebido de forma concreta. Um desses caminhos, também indicado pelas demais analistas, é o desenvolvimento de indicadores e dados que possam dar a dimensão dos resultados dessas iniciativas.
"O tema dos dados não é novo, estamos batendo nessa tecla há bastante tempo, mas eles ganham uma nova importância agora porque, para além de serem a única forma de transformar o tema em estratégia, as organizações também serão mais cobradas em 2026."
Com isso, é necessário uma integração entre dados, formação de liderança e uma cultura organizacional fortalecida.
"É preciso dados robustos e fidedignos para capacitar a liderança e convencê-la a ser uma embaixadora de D&I, seja porque é o certo a se fazer, seja porque é o mais estratégico para o negócio. Mas dados (não devem estar) sozinhos, sem uma comunicação adequada, (pois) impedem que a agenda seja perene e passe por toda a organização, com impacto na cultura e no dia a dia."
Já Genót alerta ainda que 2026 é um ano de eleição no Brasil, logo deve ser esperada uma polarização em torno dos assuntos da agenda de D&I, como já foi visto em outros contextos. "Dizer que essa pauta pertence a um determinado segmento político, rotulando-a como 'de esquerda', por exemplo, é uma tendência comum e já observada no passado."
Como esse movimento já é esperado, isso não deve ser utilizado como motivo para recuar, defende a especialista. "O que precisamos pressionar, como sociedade, é que essa pauta não perca força, independentemente do cenário eleitoral ou dos resultados das eleições presidenciais. O País depende do avanço conjunto das agendas de inclusão e de preservação da floresta".