Cartão de crédito ou Pix? Na região da Rua 25 de Março, a pergunta poderia ser facilmente substituída por outra: Parcelinha ou desconto? Isso porque os meios de pagamento continuam dividindo as preferências dos consumidores na tradicional região de comércio popular no centro de São Paulo, segundo lojistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast.
À frente da loja Império das Festas, onde atua há meio século, o empresário libanês Pierre Sfeier, de 69 anos, acompanhou de perto a evolução dos meios de pagamento, incluindo o surgimento das primeiras máquinas de cartão a carbono. Em 2020, com a chegada do Pix, o lojista aderiu rapidamente à nova ferramenta de transação. Para ele, o meio é seguro e não tem segredo. "Dinheiro entrou na conta e eu já libero a mercadoria", diz ele.
Entre os consumidores da loja, a popularidade também foi imediata, seja pelos descontos oferecidos nessa forma de pagamento ou simplesmente pela praticidade. Mas embora o Pix esteja muito presente no dia a dia, no Império das Festas o cartão de crédito ainda lidera. "A maioria escolhe cartão porque pode dividir, por exemplo, em quatro parcelas. O Pix é só uma vez", ressalta o empresário.
O cenário que Sfeier observa na loja é semelhante ao que aponta o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Ele explica que as pesquisas de intenção de compra apontam a preferência do Pix tanto no varejo popular quanto no comércio em geral. Gamboa afirma, por outro lado, que a possibilidade de dividir o pagamento ainda é atraente para os consumidores, muita das vezes pela falta de orçamento.
Segundo dados do Banco Central, o Pix representou mais de 53% dos pagamentos realizados no País entre julho e setembro de 2025, com 20,5 bilhões de transações e valor total de R$ 9,2 bilhões. Já o cartão de crédito, segundo meio mais utilizado, teve 5,4 bilhões de transações (14% do total), somando R$ 11,5 bilhões no período, e também apresenta trajetória de crescimento desde o lançamento do Pix. Enquanto isso, o uso de cartões de débito vem se mantendo estável, com 4,2 bilhões de transações (11%) no terceiro trimestre e total de R$ 4 bilhões.
"O cartão de crédito ainda se mantém forte porque oferece ao consumidor a possibilidade de parcelar as compras, muitas vezes sem juros. Esse continua sendo o grande diferencial do crédito", afirma o economista da ACSP.
Esse é o caso de Stefanie Aline Moreira, de 36 anos, que diz optar pelo cartão de crédito por planejamento financeiro, embora goste da praticidade do Pix. "Assim não fica tão pesado, porque nesta época tenho gastos com Natal, aniversário, aí vem o ano-novo. Então, é muita coisa."
A preferência pelo parcelamento também é uma realidade na loja de perfumes da imigrante libanesa Clara Nur Purane, onde o preço dos produtos varia entre R$ 150 a R$ 1.500. Ela conta que os clientes pedem com frequência para dividir no cartão de crédito: "Parcelamos bastante aqui. Todo mundo quer parcelar".
Como muitos dos lojistas da 25 de Março, Clara prefere receber no Pix, para evitar as taxas das maquininhas, que para ela ficam entre 2% (débito) e 5% (crédito). "No Pix, eu faço R$ 20 de desconto na maioria das vezes. Depende do perfume."
Como o Estadão mostrou em reportagem recente, o comércio varejista foi um dos setores mais impactados pelo Pix, que se tornou uma importante ferramenta de redução de custos e aumento de dinheiro em caixa. Por isso, lojistas têm incentivado seu uso em troca de descontos. Embora não existam estatísticas específicas sobre quantos estabelecimentos físicos e online usam o Pix, a percepção a partir dos dados do BC é de que o meio tem avançado no comércio.
Dados da União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco) apontam que entre 45% e 60% das transações de vendas das lojas da região são feitas atualmente por meio do Pix.
Cartão da loja
Há 36 anos atuando na sede da varejista Armarinhos Fernando, o gerente Amaro Ferreira, de 53, confirma que a tendência do público é escolher o Pix quando o assunto é ter desconto. Mas a loja também incentiva o uso do cartão de crédito próprio, como diversas gigantes do ramo, com o qual é possível parcelar em até oito vezes sem juros, segundo o site da Armarinhos Fernando.
"Os clientes parcelam até pela facilidade. Agora, quando optam pelo desconto ou é em espécie ou via Pix", diz Ferreira.
Já o dinheiro em espécie, antes imprescindível para quem ia fazer compras na 25 de Março, agora vem se tornando mais raro nos caixas das lojas. "Hoje em dia, ninguém mais anda com o dinheiro e o Pix trouxe muita facilidade", diz Vitória Almeida, que comanda uma loja de vestuário e acessórios com o marido no Shopping 25 de Março. "Todo mundo tem celular, virou uma ferramenta fundamental. A maioria aqui, acho que 85%, paga por meio do celular e Pix", confirma Vitória. (Reportagem de: Alexandre Barreto, Gabriel Gonçalves, Jadson Luigi, Kayllani Lima Silva, Letícia Correia, Vanessa Araujo e Vinícius Novelli)
15º Curso Estadão/Broadcast de Jornalismo Econômico Coordenação e edição: Carla Miranda e Simone Cavalcanti; Equipe: Victor Hugo Mendes, Marisa Oliveira e Eliane Damaceno