Haddad diz que relação com mercado é 'muito difícil' e que 2026 será 'guerra de narrativas'

Segundo ministro da Fazenda, governo herdou um 'inferno' nas contas públicas e indicadores da economia não são reconhecidos

17 dez 2025 - 12h56

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva herdou um "inferno" nas contas públicas do ex-presidente Jair Bolsonaro. Afirmou ainda que a relação com o mercado financeiro é "muito difícil" porque "os indicadores (da economia) não são reconhecidos".

Haddad declarou, ainda, que 2026 será um ano igualmente "muito difícil" por causa da disputa eleitoral e do que ele chamou de "guerra de comunicação". A fala se deu durante a reunião ministerial com Lula na Granja do Torto nesta quarta-feira, 17. Haddad foi um dos ministros a fazer uma fala inicial no encontro.

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"Sobretudo com o mercado financeiro, (é) muito difícil a relação, porque os indicadores não são reconhecidos. É como se Lula tivesse herdado um paraíso e estivesse com problemas nas contas, mas não, ele herdou um inferno, depois de sete anos de direita e extrema-direita", afirmou o ministro.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Em seguida, após reclamar da relação com o mercado financeiro, ele continuou o raciocínio elogiando o presidente: "Manter crescimento, emprego, inflação baixa e em uma tensão artificialmente construída na política e na economia não é para qualquer um".

Haddad disse que há "muitos desafios pela frente". "Vai ser um ano muito difícil, como todos sabem, sobretudo a guerra de comunicação, de narrativas. Vai continuar um inferno na vida de todos nós. É um desafio lidar com essas redes sociais, com (o que é) a verdade", declarou o ministro.

"Nada pode expressar mais o nosso desafio do que o slogan 'Ano que vem será o ano da verdade'. Se a gente transformar o ano que vem no ano da verdade, vamos ter mais quatro anos de trabalho sobre a Presidência do presidente Lula", completou.

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O ministro disse que "a comunicação é um desafio de todos nós, explicar o que a gente fez". Citou que o governo tem "números e símbolos importantes" para serem usados no debate político com a população.

"Tenho visto, sobretudo em função da minha pasta, como as pessoas reconhecem a questão da justiça tributária. Quando a pessoa vê que quem está pagando a conta do andar de baixo pela primeira vez é o andar de cima, isso ressoa na vida das pessoas. Estão vendo o esforço do governo de buscar justiça", exemplificou.

Crescimento sustentável

O ministro defendeu que o crescimento da economia é importante para ajudar no "esforço fiscal" que o governo tem que fazer. "O Brasil não tem saída sem crescimento", disse.

"Começamos a convencer setores expressivos de que era possível sustentar uma economia que cresce mais, porque não penaliza o trabalhador. Estamos dobrando o crescimento médio em relação ao período anterior. Ao mesmo tempo em que sustenta o consumo das famílias, o investimento público e atrai o privado, esse crescimento corrobora o esforço fiscal. O esforço fiscal que tem que fazer é menor do que o que teria que fazer se a economia não estivesse crescendo", argumentou.

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"Quando a economia cresce, ela ajuda a fazer esse acerto de contas. O Brasil não tem saída sem crescimento, não há como resolver os problemas do Brasil sem crescimento. É óbvio que esse crescimento tem que ser sustentável. Estamos crescendo com o menor desemprego e a menor inflação somados", completou.

O ministro da Fazenda citou o Ministério da Defesa como uma das pastas que "não pegou carona na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição", mas disse que o governo está "tentando resolver todas as áreas".

Haddad agradeceu aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, tanto os atuais, quanto os anteriores. Disse que houve um "esforço institucional enorme" feito por Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, Hugo Motta e Davi Alcolumbre para pautar propostas de interesse do governo nesses últimos três anos. Também elogiou os líderes do governo na Câmara, no Senado e no Congresso.

"Somos uma equipe muito integrada sob a liderança de Lula, mas se não fosse o Legislativo e o trabalho que esses líderes (do governo) fizeram para tornar isso realidade, não teríamos a menor condição de chegar até aqui. É natural as tensões entre Poderes, é natural ter divergências, brigar por mais ou por menos, chegar em um meio-termo, negociar, mas a grande verdade é que no meio disso tudo há esforço institucional enorme feito pelos presidentes das duas Casas desde 2023", afirmou.

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Recursos

Haddad chamou de "milagre" o fato de o governo ter conseguido aumentar os recursos voltados a programas sociais, investimentos em infraestrutura e outros gastos, e ao mesmo tempo "melhorar as contas públicas".

"Em todas as áreas, tem mais recurso hoje do que tinha no passado. Às vezes é o dobro, o triplo do que tínhamos há cinco ou seis anos. Sempre que chega um ministro no Ministério da Fazenda, ele está reclamando de falta de recursos. Só que estamos dobrando, triplicando o volume de recursos de cada área", disse.

"Como é possível ampliar todos os programas sociais, os programas de investimento, melhorando as contas públicas, sem penalizar os mais pobres? Qual milagre o governo está operando para melhorar os programas sociais, os programas de investimento e as contas públicas, ao mesmo tempo?", questionou o ministro.

"Alguém vai dizer: 'O governo está desarrumando as contas públicas'. Quando é exatamente o oposto do que está acontecendo", acrescentou.

O ministro reclamou do governo Bolsonaro e do déficit contratado da gestão passada. Afirmou que o Orçamento enviado ao Congresso pela equipe de Bolsonaro previa um déficit de R$ 60 bilhões em 2023, mas outros gastos, como o compromisso em manter o Bolsa Família em R$ 600 e o pagamento de precatórios.

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"Assumimos o país com um déficit contratado de R$ 160 bilhões", disse. Contando outras despesas, como mudanças no BPC e no Fundeb, afirmou Haddad, o presidente "assumiu com conta a pagar de mais de R$ 200 bilhões".

O ministro da Fazenda disse que a previsão do governo é fechar o mandato com um crescimento médio de 2,8% ao ano. Reforçou que seria o maior aumento médio da economia desde os governos passados de Lula.

"O crescimento médio desses três anos é de mais de 3%, previsão nossa é chegar a um crescimento médio de 2,8% (ao fim do mandato). É o maior crescimento desde os governos Lula 1 e 2. Tivemos um vale de lágrimas de baixo crescimento desde então, sobretudo desde 2015, mas estamos retomando esse crescimento", afirmou.

"O volume de serviços prestados está no maior patamar da série histórica, os programas de transferência de renda estão atingindo 1/4 da população brasileira, e são vários programas simultâneos que fazem com que a renda das famílias se sustente no tempo", completou.

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