Atrás do balcão de sua loja de conveniência, cercado por fileiras de salgadinhos, sanduíches e bebidas alcoólicas, Muhammed Rabani fica olhando para as imagens de suas câmeras de segurança, preparado para a chegada de um ladrão a qualquer momento.
Muhammed já se acostumou, com um certo cansaço, ao crime. "É todo dia", diz ele. Ele estima que isso esteja custando ao negócio da família em Stockton-on-Tees, no condado de Durham, no interior da Inglaterra, cerca de 900 libras (R$ 6,5 mil) por mês.
Quando perguntado se os ladrões chegam a ser violentos, ele levanta a mão para mostrar um corte coberto por um curativo. No dia anterior, ele enfrentou um ladrão que tentou roubar uma caixa de chocolates: "Eu disse para ele parar... e ele me bateu."
Os crimes de furto em lojas registrados pela polícia na Inglaterra e no País de Gales aumentaram 13% no ano até junho de 2025, com 529.994 casos registrados, de acordo com o Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS). O ONS afirmou que houve "aumentos acentuados" nos furtos em lojas desde a pandemia do coronavírus.
Na Escócia, a situação é semelhante. As estatísticas de crimes registadas pela polícia escocesa para o ano que terminou em setembro de 2025 mostraram um aumento de 15%, passando de 42.271 para 48.564 ocorrências de furto em lojas.
Cleveland — que abrange Stockton-on-Tees, bem como áreas como Middlesbrough e Redcar — parece ser a capital dos furtos em lojas na Inglaterra e no País de Gales. As estatísticas mostram que sua força policial registrou o maior número de crimes de furto em lojas — com 13,6 crimes por mil habitantes.
E com a temporada de compras de fim de ano a todo vapor, os varejistas estão se preparando para um aumento nos furtos em lojas.
"Sempre vemos um pico no período que antecede o Natal — há uma enorme demanda por mercadorias roubadas", diz a criminologista Emmeline Taylor, da City St George's, Universidade de Londres.
Especialistas dizem que a natureza do furto em lojas está mudando, com uma gama maior de criminosos visando uma variedade mais ampla de mercadorias.
Afinal, quem são esses ladrões de lojas e o que pode ser feito para combatê-los?
'Aparentemente não há consequências'
As estatísticas sobre furtos em lojas são difíceis de se analisar. Mesmo especialistas em varejo e lojistas concordam que elas não refletem a verdadeira dimensão do crime.
Um estudo deste ano da associação varejista British Retail Consortium (BRC) "estimou em 20 milhões de incidentes [anualmente], o que sugere que menos de 3% dos furtos em lojas são relatados", destaca Taylor.
De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas do Reino Unido (ONS, na sigla em inglês), as estatísticas mais recentes mostram que o aumento nos furtos em lojas parece estar diminuindo em ritmo.
Mas para as lojas em Stockton, a sensação é diferente. Especialistas em varejo também destacaram que, após os furtos serem denunciados à polícia, os lojistas muitas vezes sentem que nenhuma providência é tomada.
E há evidências que corroboram isso. Quase 290 mil investigações de furto em lojas, de um total de cerca de 520 mil, foram encerradas sem que nenhum suspeito fosse identificado entre 2024 e 2025, de acordo com uma pesquisa do Parlamento britânico.
Enquanto isso, dados obtidos pela BBC mostram que o tempo médio que um caso de furto em loja leva para ser resolvido — desde a ocorrência do crime até sua conclusão, em um tribunal de magistrados na Inglaterra e no País de Gales — aumentou de 32 dias em 2014 para 59 dias em 2024.
Taylor afirma que esses números revelam o "cerne" do problema: "Aparentemente não há consequências se você rouba e se é violento. E se você é um infrator contumaz, leva muito tempo para que qualquer ação seja tomada."
O ex-inspetor-chefe da polícia David Spencer, que agora trabalha para o think tank Policy Exchange, afirma que as consequências do furto em lojas são sentidas de forma muito mais ampla: "Esse tipo de crime tem o potencial de acabar completamente com a viabilidade econômica de pequenas cidades", diz ele.
Como as lojas estão reagindo
Muitos dos que trabalham no setor varejista apontam para o fato de que o furto em lojas evoluiu nos últimos anos, com o surgimento de diferentes categorias de ladrões.
Uma das maiores novidades, segundo especialistas e varejistas, foi o aumento de quadrilhas criminosas organizadas.
"Recebemos grupos de três ou quatro pessoas que usam técnicas de distração", diz um funcionário de supermercado de Teesside que entrou em contato com a BBC.
Em 2024, a National Business Crime Solution (NBCS) — uma organização que trabalha com 100 empresas para combater o crime no varejo — afirmou estar monitorando 63 grupos criminosos organizados em todo o Reino Unido que roubaram pelo menos 2,4 milhões de libras (R$ 17 milhões) em mercadorias em cinco anos.
Destes 63, segundo a organização, 26 grupos são originários do Reino Unido e da Irlanda, e o restante, predominantemente, de países do Leste Europeu.
Lucy Whing, assessora de políticas de segurança da British Retail Consortium, afirma que isso é uma grande preocupação para seus membros: "Ouvimos falar dessas gangues atacando sistematicamente loja após loja em todo o país."
Essa tendência parece ter se tornado um problema em áreas mais abastadas de Cleveland, como Yarm, uma bela cidade a uma curta distância de carro de Stockton.
Quando a visitei, a rua principal estava cheia de consumidores fazendo compras de Natal e aproveitando pubs, restaurantes e lojas independentes.
Abigail Donaldson, proprietária da loja de roupas streetwear de luxo Triad, acredita que os itens relativamente caros que vende tornaram sua loja um alvo para criminosos organizados que vêm de outras cidades para roubar.
"Não percebemos tantos jovens vindo roubar aqui, são todos homens de meia-idade que sabem o que estão fazendo", diz ela. "Eles são muito bem preparados."
David Spencer acredita que os criminosos organizados entraram no mercado de furtos em lojas porque isso é altamente lucrativo. "Eles podem literalmente levar enormes quantidades de estoque muito rapidamente."
Nova geração de 'empreendedores' de furtos
Numa era em que os sites de revenda online permitem que muitas pessoas se aventurem no empreendedorismo, talvez não seja surpresa que exista também uma nova geração do Taylor chama de "empreendedores do furto em lojas".
"Eles podem não ter se envolvido com o crime antes, mas por algum motivo, se apegaram a um produto específico que sabem ser fácil de roubar, de alto valor e que podem revender rapidamente", diz Taylor.
Um item popular que, segundo as lojas, é roubado regularmente para venda online são os bichinhos de pelúcia colecionáveis Jellycats. Outros itens que estão no topo da lista de desejos dos ladrões de lojas para revenda incluem perfumes e roupas de grife.
Ruth Lund, gerente do Cherry Hill Garden Centre, na cidade vizinha de Middlesbrough, afirma que esse tipo de ladrão de lojas se tornou um problema para seu negócio. Ela acaba de instalar novas barreiras antifurto para combater o problema.
Ela disse que eles sabem "exatamente o que querem levar" — incluindo móveis de jardim e decorações de Natal. Talvez ainda mais surpreendente, sacos de cascalho e até latas de refrigerante também são alvos — e "eles saem pela porta antes mesmo de percebermos que estavam na loja".
O furto sob encomenda também é feito por pessoas que um relatório de 2018 do think tank Centre for Social Justice (CSJ) identificou como um ladrão tradicional: alguém que usa o furto para bancar seu vício em drogas.
Mesmo antes do aumento dos furtos em lojas desde a pandemia, o CSJ afirmou que 70% dos incidentes de furto em lojas eram cometidos por essas pessoas.
Uma ex-ladra de lojas, Keeley Knowles, de Telford, Shropshire, diz que roubava em lojas para sustentar seu vício.
"Eu ia direto para bolsas de grife, cintos de grife, óculos de sol, sabe, aquelas coisas com preços absurdos", diz Keeley, que está sóbria há dois anos e realiza trabalho de apoio a usuários de drogas.
"E, obviamente, minha renda aumentou cada vez mais e, com ela, meu vício também."
Em Stockton, funcionários de lojas apontaram o vício em drogas e álcool como o principal fator que alimenta o crime, e uma rua em particular é mencionada como o epicentro do problema: Hartington Road, uma fileira de grandes casas, muitas divididas em apartamentos, onde muitas pessoas com problemas de dependência se reúnem.
O gerente nos contou que, quando as pessoas entram na loja sob o efeito de drogas, "elas não sabem o que estão fazendo", simplesmente pegam coisas e saem.
"É muito assustador, porque você não sabe se elas têm agulhas ou o que mais podem estar carregando", acrescentou.
A Polícia de Cleveland afirma que sua taxa detecção de crimes está acima da média nacional e que adota uma abordagem "proativa" para combater o furto em lojas.
Jamie Bell, líder da força policial no combate ao crime no varejo, disse: "Embora ainda haja trabalho a ser feito no combate ao crime no varejo, nossos policiais trabalham incansavelmente para resolver o problema e, apesar do grande volume de delitos, continuam apresentando resultados expressivos."
Sem solução rápida
Um dos grandes problemas no combate ao furto em lojas é que não existe uma solução rápida. Há uma grande variedade de opiniões sobre como combater o problema.
Um relatório de 2024 do Comitê de Justiça e Assuntos Internos da Câmara dos Lordes fez 15 recomendações sobre como combater o problema, incluindo a melhoria dos sistemas de denúncia, mais regulamentações sobre o mercado de revenda online e mais financiamento para reabilitação.
A ex-ladra de lojas Keeley acredita que enviar ladrões de lojas com vícios para a prisão é um "desperdício de recursos", pois não trata a causa raiz do delito.
Ela acredita que são necessários mais programas de recuperação direcionados para os infratores. Taylor afirma que sentenças de menos de 12 meses são "realmente ineficazes e a maioria das pessoas sai pior do que entrou".
David Spencer acredita que a polícia precisa responder mais rapidamente e encaminhar os infratores para o sistema de justiça criminal.
Ele afirmou que criminosos organizados que cometem furtos em lojas no valor de milhares de libras não deveriam receber penas suspensas ou alternativas à prisão, mas sim serem enviados para a cadeia por "longos períodos de tempo".
Medidas foram tomadas para tentar combater o problema e há indícios de que estão obtendo algum sucesso.
Em outubro de 2023, a polícia e o governo lançaram o Plano de Ação contra Crimes no Varejo, em que a polícia se comprometeu a priorizar o atendimento imediato em casos de violência, detenção de infratores reincidentes ou prolíficos e a necessidade de obtenção rápida de provas.
No mesmo ano, um grupo de grandes varejistas concordou em pagar cerca de 600 mil libras (R$ 4,3 milhões) para uma operação policial chamada Projeto Pegasus, que utilizou câmeras de segurança e dados compartilhados entre as lojas e a polícia para entender as táticas dos ladrões de lojas.
A operação resultou na prisão de infratores responsáveis por furtos no valor de 8 milhões de libras (R$ 57 milhões) em seu primeiro ano, de acordo com o Conselho Nacional de Chefes de Polícia.
Os varejistas também aumentaram seus investimentos em medidas como câmeras de circuito interno e seguranças, com um valor recorde de 1,8 bilhão de libras (quase R$ 13 bilhões) gasto em prevenção ao crime no ano até junho de 2024, de acordo com o BRC.
Lucy Whing, da associação comercial, diz que está "ouvindo relatos informais de que, para alguns membros, as coisas estão um pouco melhores e talvez isso seja resultado desses grandes investimentos".
O Ministério do Interior afirma que o roubo em lojas "é completamente inaceitável e está prejudicando nossas ruas comerciais".
Um porta-voz diz que foi anunciada uma "Operação de Inverno" para combater o crime que prevê 3 mil policiais adicionais em funções de policiamento de vizinhança até a primavera de 2026.
No ano passado, o governo anunciou que estava apresentando um novo projeto de lei sobre crimes para atingir pessoas que roubam mercadorias no valor de menos de 200 libras (R$ 1,4 mil).
A política seria uma reversão da legislação de 2014, que previa punições menos severas para roubos de "baixo valor", inferiores a 200 libras. O governo também prometeu criar um crime específico para agressão a um funcionário do comércio varejista. Ambas as medidas foram bem recebidas pelo BRC.
Apesar disso, alguns varejistas têm pouca confiança de que algo mudará em breve.
Em Stockton, Muhammed diz que não denunciou a agressão sofrida porque "achava que nada seria feito".
Apesar de todo debate, ele sente que o crime ainda não é tratado com a seriedade necessária. Confrontar ladrões de lojas, diz ele, é "apenas parte do meu trabalho".
Reportagem adicional de Florence Freeman