Sentados nus na cama, de frente um para o outro, Gerluce (Sophie Charlotte) e Paulinho (Rômulo Estrela) trocam declaração de amor.
A trilha-sonora é à moda antiga, ‘Proposta’, clássica de Roberto Carlos em versão gravada pelo cantor e a própria atriz.
Apresentada com delicadeza e sutileza, a cena de ‘Três Graças’ recuperou o antigo romantismo das novelas. Valorizou algo quase esquecido na teledramaturgia contemporânea: o sexo feito por amor.
E não houve pressa: o começo da primeira vez do casal principal da novela demorou 38 capítulos, uma eternidade diante da ansiedade do público, agora acostumado à velocidade das séries do streaming.
Os autores acertaram em construir calmamente o romance da cuidadora e do policial: o despertar do interesse, as trocas de olhares, os encontros sem contato físico, o primeiro beijo, o crescimento do tesão, a conexão sentimental cada vez mais evidente.
Antes do clímax, houve um saboroso momento cômico, quando Gerluce, se preparando para o encontro, revelou nervosismo. “Tanto tempo sem ver um homem pelado!”
Historicamente, o romantismo funcionou como a espinha dorsal das grandes novelas pela capacidade de criar vínculo com o telespectador: a torcida pelo momento especial estimulava a fidelização da audiência. O afeto no centro da trama dava sentido às provações, tornava as injustiças mais dolorosas e fazia a vitória ser ainda mais valiosa.
Mas a teledramaturgia contemporânea passou a priorizar histórias de crimes e vinganças, deixando as paixões em segundo plano, refletindo a impressão de que o relacionamento baseado no romantismo perdeu importância na sociedade — não são poucos que o consideram cafona e impraticável na rotina dinâmica.
Em um tempo de roteiros com excesso de violência e relacionamentos superficiais, a conexão convincente entre Gerluce e Paulinho nos lembra da vocação clássica da ficção na TV: contar histórias sobre desejo e amor. ‘Três Graças’ mostra que ainda vale a pena passar meses torcendo por um final feliz.