Boni, 90 anos, ainda faz falta à Globo quase três décadas após ter sido demitido

Canal da família Marinho continua líder de audiência, mas perdeu parte de sua relevância cultural

2 dez 2025 - 11h12
(atualizado às 11h12)

Lenda viva da televisão brasileira, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, completou 90 anos em 30 de novembro.

Demitido em 1997 do cargo de vice-presidente de Operações da TV Globo, ele segue tendo sua imagem profundamente associada à emissora. Deixou um vazio nunca preenchido.

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Nenhum outro executivo conseguiu igualar seu legado. Desde então, apesar de ainda ostentar relevância, a Globo parece ter perdido parte de sua essência.

É verdade que a televisão aberta enfrenta um contexto globalmente adverso, mas persiste a sensação de que, sem Boni, a emissora saiu do rumo e não conseguiu se reencontrar completamente — nem mesmo com grandes fenômenos populares como ‘Terra Nostra’ (1999/2000) e ‘Avenida Brasil’ (2012).

O cenário se agravou com a morte ou aposentadoria de autores fundamentais para a teledramaturgia nacional, como Gilberto Braga, Manoel Carlos e Benedito Ruy Barbosa.

A isso se somam a diluição do chamado ‘padrão Globo de qualidade’, conceito estruturado durante a gestão de Boni, e o enfraquecimento das relações com atores, hoje mais atraídos pela liberdade criativa e os formatos curtos das plataformas de streaming do que pelas longas e previsíveis novelas tradicionais.

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Boni trabalhou na Globo de 1967 a 1997, período em que conduziu a emissora à liderança e criou uma identidade cultura valiosa
Boni trabalhou na Globo de 1967 a 1997, período em que conduziu a emissora à liderança e criou uma identidade cultura valiosa
Foto: Reprodução/Globoplay

Boni jamais foi um burocrata sentado em cima do poder. Conhecia como poucos os talentos da casa, o chão de fábrica da emissora e, sobretudo, o público. 

Sua visão estratégica permitia antecipar tendências, apontar caminhos e integrar teledramaturgia, jornalismo e marketing em um mesmo projeto. Foi assim que a Globo alcançou a mais sólida identidade cultural já vista na mídia brasileira.

Atualmente, o canal parece menos protagonista e mais reativo. Em vez de liderar transformações, passa a responder a movimentos do digital — como novelas rápidas pensadas para celulares — enquanto enfrenta uma contínua erosão de audiência. Seus números ainda o colocam no topo do Ibope, mas essa liderança também se explica pela estagnação de concorrentes como Record e SBT.

Boni jamais escondeu o ressentimento da maneira como foi dispensado. “Merecia um obrigado, recebi um pontapé na bunda”, afirmou certa vez. Gigante na condução da emissora, talvez ele tenha incomodado os donos do negócio. Seus sucessores optaram por uma gestão mais administrativa (e discreta) do que criativa. 

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Aos 60 anos, a Globo sobreviveu sem o melhor executivo de sua história, mas perdeu parte considerável da potência simbólica e se vê diante de um futuro incerto. O passado glorioso não se repete, mas pode servir de inspiração para a necessária reinvenção do canal.

Boni com o fundador da Globo, Roberto Marinho, na inauguração do Projac (hoje Estúdios Globo) em 2 de outubro de 1995
Foto: Acervo/TV Globo
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