Conheça a Favela do Moinho, única do centro de São Paulo, que deve virar parque
Comunidade tem mais de 30 anos e está localizada onde governo estadual pretende construir um Centro Administrativo
A Favela do Moinho enfrenta remoções em meio a conflitos para dar lugar a um parque e ao novo Centro Administrativo do governo estadual, com famílias aceitando propostas de moradia, e outras não.
A favela do Moinho começou a se formar no final dos anos 1980, quando uma fábrica de ração e farinha, que possuía um moinho, foi desativada no local. Encravada entre linhas de trem, sua localização central facilitou a vida dos moradores por décadas. No entanto, a remoção das famílias transformou completamente essa realidade.
A comunidade ganhou notoriedade em maio deste ano, devido a conflitos envolvendo moradores, policiais militares, o governo federal — proprietário do terreno — e o governo estadual, que pretende construir um parque na área como parte do futuro Centro Administrativo, que transferirá a sede do governo para o bairro Campos Elísios.
Com a intensificação dos conflitos entre moradores e a Polícia Militar (PM), um acordo foi anunciado pelo ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), para a oferta de moradia. Segundo o governo paulista, mais de 87% das famílias aderiram à proposta de deixar a favela do Moinho.
Fatos marcantes da história da favela do Moinho
A Favela do Moinho tem mais de três décadas e, desde sua formação, enfrenta conflitos com o poder público. A área ocupada pela comunidade pertencia a duas empresas privadas e foi leiloada em 1999 para o pagamento de dívidas de IPTU.
Em 2007, o governo municipal entrou com uma ação judicial para adquirir o terreno da Favela do Moinho e remover mais de mil famílias que ocupavam o local (segundo o IBGE, a comunidade abriga cerca de 1.827 moradores).
A batalha jurídica teve continuidade em 2008, quando a associação de moradores, a Defensoria Pública do Estado e o Escritório Modelo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) entraram com um pedido de usucapião coletivo.
O pedido foi aceito, permitindo que as famílias continuassem vivendo na Favela do Moinho. No entanto, entre 2011 e 2012, dois grandes incêndios destruíram cerca de dois terços da comunidade, resultando em mortes e deixando centenas de pessoas desabrigadas.
Dois incêndios históricos e a derrubada dos muros
Antes das ações recentes para remover os moradores e desarticular o tráfico, a Favela do Moinho sofreu dois grandes incêndios que destruíram centenas de moradias e causaram mortes. O muro que dificultou a fuga foi derrubado pela própria comunidade e se tornou tema de um documentário.
Em 2011, cerca de 1.200 pessoas ficaram desabrigadas devido a um incêndio, que também resultou em duas mortes. No ano seguinte, em 2012, pelo menos uma morte foi registrada e mais de 300 pessoas perderam suas casas. Em ambos os casos, o muro que cercava a comunidade dificultou a evacuação, conforme apontado em laudo do Corpo de Bombeiros.
Isso levou a comunidade a tomar uma atitude drástica: derrubar o muro a marretadas, por conta própria. A ação se tornou um capítulo marcante da história da Favela do Moinho, tanto que, uma década depois, em 2023, foi realizada uma festa para relembrar a derrubada.
O convite afirmava que, desde a derrubada do muro, “retomamos a metade do terreno que nos foi usurpado, centenas de famílias construíram seus lares, fizemos um cineclube, capinamos e assentamos as vielas por onde nossas crianças correm e brincam”.