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Conheça Andarilho Cha, multiartista de Osasco

Música “Meteu o Louco” faz parte do trabalho com cinco novas faixas e já está disponível em plataformas digitais

25 jul 2023 - 05h00
(atualizado em 25/7/2023 às 17h47)
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Andarilho Cha e sua banda cênica Os Arquitetos Sonoros
Andarilho Cha e sua banda cênica Os Arquitetos Sonoros
Foto: Marcos Bacon/Divulgação

Com uma carreira marcada por passagens no teatro, musical, séries e cinema, o multiartista Andarilho Cha, 30, cria da periferia de Osasco, na Grande São Paulo, prepara o lançamento de um novo EP, além de participações especiais em outras duas produções audiovisuais.  

O EP autoral “Sem Armas, Com Ideias” trará cinco faixas inéditas previstas para serem lançadas ainda neste ano. Músicas interpretadas com técnicas do teatro e da poesia, marcas do trabalho de Andarilho Cha, não vão ficar de fora das canções "Cinco Motivos", "Sem Armas, Com Ideias", "Meteu o Louco", "Neguinho de Osasco" e "Manda Esses Feio Sair do Camarote".  

 A versão de estúdio de "Meteu o Louco", som que mescla o pop funk experimental e o MPB eletrônico, já está disponível em plataformas digitais e em seu canal do YouTube.   

“‘Meteu o Louco’ tem um refrão divertido para cantar com os amiguinhos “metedores de louco” que causam na vida. Ela tem muito de funk, é uma das que mais defendem o funk norte-americano”, descreve.  

Andarilho conta que o EP está recheado de emoções, como a faixa "Neguinho de Osasco", que traz ironias e sarcasmo típicos do personagem. “Ela conta a história de um neguinho que fica rico vendendo cachorro-quente e tem o lance de trazer o lúdico de Osasco. Acho muito importante falar de que periferia esse artista vem, e ela fala de Osasco o tempo todo, com orgulho mesmo de falar. Gosto disso de preservar e descentralizar”, reflete.     

Além do EP, o multiartista está participando de "Respeito é pra quem tem", primeiro clipe a ser lançado da homenagem aos 50 anos do Sabotage, rapper paulistano. O especial conta com outros nove vídeos de diferentes artistas da atualidade.  

Neste ano, ele também irá estrelar o curta-metragem “Iboru”, que conta a história do samba trazendo as referências dos orixás, com produção do rapper Marcelo D2. 

“Existem vários sistemas que enfraquecem a periferia, fazendo com que às vezes a gente não se enxergue como coletivo. Quero mostrar o quanto somos plurais e potência na minha arte”, conta.  

O início de um sonho  

Carlos Alberto, 30, nome do multiartista Andarilho Cha, cresceu no bairro Jardim Umuarama, periferia de Osasco, na Grande São Paulo. Na infância, tinha como referências artísticas programas de TV, como Xuxa e Chiquititas, e videoclipes de artistas internacionais, como Michael Jackson e Madonna.  

“Você nasce uma criança preta numa periferia com todas essas referências, você naturalmente já canta, dança e faz uma cena. Você coloca a toalha na cabeça e faz o seu show. Meus pais nunca me proibiram, mas era um sonho distante”, conta. 

Seu pai, Antônio Carlos, também é cantor, mas não teve oportunidades para seguir na carreira e costumava repetir: “Seja livre, mas sempre trabalhe para trazer o dinheiro pra casa”.  

Com a música popular, se apaixonou por Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Racionais MC's. Na adolescência, conheceu o movimento clubber, que nasceu nos anos 90 nas casas noturnas voltadas apenas para música eletrônica. 

O colorido e a ideia de anarquismo fizeram com que Cha passasse a se questionar e sentir o desejo de se libertar. “Meu corpo periférico de bicha preta sempre buscou pela afirmação e queria se assumir de uma forma que não podia, até então por ter crescido em uma família evangélica”, pontua.  

A responsabilidade por parte do sustento da casa fez com que Cha trabalhasse na administração da Universidade do Hambúrguer do McDonalds, em Alphaville, ao longo de 10 anos. Com o salário, se matriculou no Teatro Macunaíma em 2010, onde trabalhou o autoconhecimento.  

Na primeira aula, ao ser perguntado onde gostaria de chegar como artista, respondeu: “Quero criar um espetáculo que unisse música, circo, dança e todas as manifestações artísticas em um lugar só”. 

Em 2014, estrela o musical Hair, interpretando o personagem Hud que diz também ter sido essencial no processo de aceitação.  

“Não me encarava no espelho, não olhava para as pessoas cara a cara e tinha vergonha do meu corpo. Com o teatro, fui obrigado a encarar a pessoa de frente, porque estava emprestando meu corpo e mente para a construção de um personagem”, relata.  

Em paralelo às aulas e o trabalho, voltava para casa compondo músicas nas linhas de trem e metrô como uma tentativa de ter um respiro.  

Em 2016, lançou o primeiro álbum “Não Esqueça de Sobreviver Para Continuar Nos Ouvindo”. Com a capa vermelha e a escrita em preto, Cha queria que as pessoas se aproximassem do seu pensamento para além da imagem. 

A Música Preta Brasileira Teatral  

Com a experiência entre o teatro e a música, Cha se dá conta que tem duas ferramentas poderosas para expressar suas manifestações artísticas. 

Inspirado principalmente por Abdias do Nascimento, Solano Trindade e Itamar Assunção, cria o conceito da “Música Preta Brasileira Teatral”.  

Segundo ele, ao contrário da música preta, o teatro preto não sofre com a apropriação. “Geralmente, a música preta não é legitimada de onde sai e os artistas não ganham o reconhecimento que merecem. Com o teatro, não tem como disfarçar, pois é diretamente de denúncia”, observa.  

Nas performances ao vivo, ele é acompanhado pela banda Arquitetos Sonoros. Ao contrário do personagem, que confronta e procura estimular o público, a banda toca no mesmo lugar no palco sem demonstrar expressões. 

Para a construção do Andarilho Cha, o artista se baseou no espírito hippie do personagem Hud, de Hair, e também no Máscara, personagem do filme de 1994 estrelado por Jim Carrey.  

“Todos nós, artistas independentes, somos meio que andarilhos. Fui me alimentando da palavra e entendendo que o andarilho vai além. Quero que ele esteja acima de uma questão de esquerda e direita, branco ou preto. Ele é um anti-herói: antes de ajudar, ele bagunça”. 

O chapéu na cabeça é a marca registrada do personagem. Se no primeiro álbum, ele descrevia a urgência em sobreviver de arte, para o segundo trabalho quis mostrar versatilidade e outras facetas.  

Além da música, Cha também se dedicou ao cinema e séries. No curta-metragem “Goma” (2020), dirigido por Igor Vasco e Vitor Romenior, foi um dos protagonistas. O filme, sobre slam e homofobia, foi exibido no Festival de Cannes, um dos maiores festivais de cinema mundial. 

Também participou da série “Coisa Mais Linda”, da Netflix. A princípio, fez o teste para o Capitão, interpretado por Ícaro Silva, mas não foi aprovado. Três meses depois, foi chamado como figurante e acabou estrelando uma cena de uma roda de samba com sua canção autoral.  

“A gente sofre um apagamento dos nossos corpos artísticos o tempo todo, por isso a gente tem que se orgulhar dos nossos feitos, bater o pé e firmar que existimos”, conclui. 

Agência Mural
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