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'Quando parei de menstruar, achei que estava grávida': como é entrar na menopausa aos 30

Nicole Evans foi diagnosticada com menopausa prematura com apenas 30 anos. Neste texto, ela fala sobre o choque que foi lidar com a infertilidade e sobre como descobriu a condição.

29 nov 2018 - 12h01
(atualizado às 12h38)
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A neozelandesa Nicole Evans foi diagnosticada com menopausa prematura quando tinha apenas 30 anos. Abaixo, ela escreve para a série #100Mulheres da BBC (100 Women) sobre o choque que teve a respeito da infertilidade e sobre como descobriu o diagnóstico.

Nicole, agora na casa dos 40 anos, reflete sobre a sua experiência com a menopausa prematura
Nicole, agora na casa dos 40 anos, reflete sobre a sua experiência com a menopausa prematura
Foto: Nicole Evans

"A minha menstruação vinha ficando mais leve havia alguns anos. Mas, quando eu mencionei este fato para profissionais de saúde do meu país, a Nova Zelândia, eles consideraram que isso era um efeito natural da pílula anticoncepcional. Certo mês, quando eu não menstruei absolutamente nada, fui ao médico empolgada com a possibilidade de estar grávida. Eu estava casada havia um ano e nós estávamos começando a falar sobre bebês.

Mas o teste de gravidez deu negativo. Minha médica pediu que eu fizesse um exame de sangue e, com o resultado em mãos, me explicou que meus níveis hormonais não estavam normais. Então, me encaminhou para um especialista hormonal. E eu fui diagnosticada com menopausa prematura. Eu não sabia que os ovários poderiam parar de trabalhar nessa altura — então, a notícia chegou como um grande choque.

As feministas de hoje nos dizem que podemos ter tudo e desejar tudo, da nossa maneira e no nosso próprio tempo. Mas essa mentira nos custa caro quando as circunstâncias interferem no caminho que nós havíamos planejado.

Quando a fertilidade da mulher é retratada — de forma errônea — como algo possível de atingir até os 50 anos, é fácil deixar os sinais de problemas de lado caso eles apareçam. Eu não tinha ideia de que, de forma geral, a fertilidade femina começa a cair por volta dos 30 anos.

Nós decidimos buscar uma doação de óvulo de uma amiga maravilhosa e nos sentimos muito esperançosos. Esperávamos que isso seria a solução dos nossos problemas. Mas acabamos tendo apenas um embrião viável para transferir — e ele não resultou em gravidez. Foi muito traumático para todos que estavam envolvidos.

Um ano depois, outra amiga se ofereceu para nos ajudar. Mas, dessa vez, eu estava hesitante. Seria a última tentativa possível na rede pública de saúde. E eu, psicologicamente, estava me sentindo mais segura sem fazer o tratamento. Estar no meio de um tratamento de fertilidade pode exigir muita coragem.

Mas nós demos uma segunda chance ao tratamento, porque eu estava com 32 anos. O tempo estava correndo.

O que é a menopausa?

Fonte: NHS UK (serviço de saúde pública do Reino Unido)

Infelizmente, duas transferências de embriões que nós fizemos nessa segunda tentativa também não resultaram em gravidez. E nós não tínhamos os recursos financeiros e emocionais para investir em uma terceira tentativa.

Eu não conseguiria enfrentar um processo de adoção. Tendo recém passado por um processo físico intenso, eu teria que ingressar em uma nova jornada desgastante — no relacionamento, emprego, vida doméstica, finanças — no exaustivo processo de adoção. Claro que eu entendo porque o processo de adoção é rígido, mas eu simplesmente não conseguiria passar por isso logo após o trauma que eu havia vivido.

Foto de Nicole Evans e seu marido no dia do casamento
Foto de Nicole Evans e seu marido no dia do casamento
Foto: Arquivo pessoal Nicole Evans

Eu atingi o fundo do poço. A dor emocional pela perda de um potencial filho estava lá, não importa o quanto nós tentássemos racionalizar sobre isso. E essa dor permaneceu comigo, até que algo ocorreu. Em uma certa noite, depois de passar um tempo com uma amiga e seu filho recém nascido, eu percebi que a vontade de ter um filho havia passado. Simplemente não existia mais.

Eu não consigo explicar isso de outra maneira que não a minha crença de que Deus retirou de mim aquela dor profunda. E olhando para trás, eu vejo que isso ocorreu porque Deus tinha algo melhor planejado para mim — uma relação mais próxima com ele.

Um grande número de médicos parecem desconhecer a menopausa prematura. No grupo de apoio que eu coordeno, conversei com muitas mulheres que, ao relatarem aos seus médicos que a menstruação estava irregular, só foram encaminhadas para um especialista após um longo tempo — isso quando foram enviadas.

Desde o meu diagnóstico, tenho feito terapia de reposição hormonal. Eu me sinto muito agradecida por esse tratamento porque, mesmo no início dos 40 anos, é muito difícil discutir sobre as ondas de calor da menopausa, mau humor e dificuldade de concentração.

É uma grande vantagem não ter que comprar, todos os meses, produtos de higiene para a menstruação. Mas levou um tempo até que eu reconhecesse os aspectos positivos.

Eu acredito que a cultura ocidental avessa ao envelhecimento e às dificuldades nos impede de lidar com os processos naturais da vida. Nós nos tornamos tão bons em encontrar maneiras de nos distrairmos da nossa dura realidade, nos alimentando com mentiras reconfortantes, que não temos ideia sobre o que pode tornar a vida verdadeiramente satisfatória.

A menopausa prematura pode ter me trazido muita dor de cabeça. Mas também desmascarou a mentira de que a satisfação pode ser encontrada na saúde, na juventude e na perfeição. A nossa jornada de infertilidade foi uma crise em nossas vidas. E nosso mundo precisou ser reconstruído a partir das bases. Mas isso certamente nos tornou mais fortes, tanto individualmente como em casal.

Nos ensinou muitas lições: que nossa identidade verdadeira transcende as circunstâncias; que precisamos ter consciência das bençãos que recebemos; a ter mais compaixão com os outros; e a ter uma abordagem mais aberta em relação a vida. Nós podemos não ter tudo o que queremos, mas temos tudo o que precisamos.

Logotipo 100 Women
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Foto: BBC News Brasil

O que é o #100Mulheres?

A série #100Mulheres da BBC (100 Women) indica anualmente 100 mulheres influentes e inspiradoras de todo o mundo — contando suas histórias.

Refletindo o ano de 2018 para os direitos das mulheres, o #100Mulheres apresenta pioneiras que estão usando a paixão, indignação e raiva para provocar mudanças reais no mundo ao seu redor.

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