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Panamá teve 78 mortes por xarope para tosse contaminado por dietilenoglicol

No país, caso levou ao recolhimento de 60 mil frascos do remédio. Substância foi encontrada na cervejas contaminadas em Minas, onde já há registro de quatro mortes e 14 pessoas estão internadas em estado grave

17 jan 2020 - 14h58
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SOROCABA - A contaminação de um xarope para tosse com dietilenoglicol, a mesma substância química encontrada na cerveja Belorizontina, causou a morte de 78 pessoas e levou à retirada de 60 mil frascos do remédio dos pontos de venda, a partir de 2007, no Panamá. Ao menos 100 pacientes afetados passaram por tratamento, mas o número total dos atingidos ainda é desconhecido. O caso foi objeto de um vasto estudo, publicado em 2014, em boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A investigação começou depois que, em setembro de 2006, um médico panamenho relatou um número incomum de pacientes com insuficiência renal aguda inexplicada, frequentemente acompanhada por disfunção neurológica grave. Doze (57%) dos 21 pacientes morreram da doença. Um grupo de médicos decidiu iniciar a pesquisa sobre a causa da doença e a fonte do surto. Caso-controle e investigações laboratoriais foram adotados. Os pacientes do caso foram comparados individualmente aos controles hospitalizados por idade, sexo e data de internação.

Após o controle de hipertensão preexistente e doença renal, foi encontrada uma associação significativa entre a ingestão do xarope para tosse prescrito e o início da doença. Análises laboratoriais confirmaram a presença de dietilenoglicol (DEG) em amostras biológicas de pacientes com casos, contaminação com 8% de DEG em amostras de xarope e 22% de contaminação na glicerina usada para preparar o xarope. A fonte do surto foi o xarope para tosse contaminado com a substância.

A presença de dietilenoglicol foi finalmente confirmada em um único lote de um produto rotulado como glicerina e que foi importado para o Panamá da China, através de uma corretora europeia. A glicerina contaminada, identificada no xarope, também foi usada na produção de outro medicamento líquido prescrito e dois cremes tópicos. Esses achados levaram ao recall de mais de 60 mil medicamentos possivelmente contaminados pelo dietilenoglicol e a uma ampla seleção de disfunções renais em consumidores potencialmente expostos.

Em abril de 2007, foram identificados 119 pacientes de casos oficiais, dos quais 78 morreram apesar de hemodiálise e cuidados de suporte (taxa de mortalidade de casos de 65,5%). Parada cardíaca, choque e arritmia cardíaca foram causas mais comuns listadas para esses óbitos.

Ainda não se conseguiu determinar a magnitude desse surto. Existe a preocupação de que possa ter havido um número de indivíduos gravemente doentes ou expostos que não entraram em contato com o sistema médico. Também é proposto que algumas mortes relacionadas ao dietilenoglicol podem ter ocorrido antes do reconhecimento do surto.

Para resolver esse problema, o governo panamenho está realizando estudos retrospectivos para identificar indivíduos diagnosticados com síndrome de Guillain-Barré ou insuficiência renal aguda dentro de um prazo coincidente com a distribuição do lote contaminado de xarope para tosse. Outra consideração é que a dose mínima tóxica de dietilenoglicol não está bem estabelecida. Portanto, pode haver milhares de pessoas que foram expostas ao xarope contaminado, mas que apresentaram apenas sintomas leves.

Estadão
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