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'Minha empresa pagou para eu congelar óvulos': benefício ou disfarce para manter produtividade?

Medida proporciona autonomia de escolha, mas deve ser acompanhada de plano de inclusão, dizem especialistas

10 mai 2024 - 05h00
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A vontade de ser mãe só bateu à porta de Claúdia Alves, 35, quando ela tinha entre 27 e 28 anos de idade. Até então a produtora de desenvolvimento nunca tinha sido tão atraída pela possibilidade de ter filhos. "No entanto, após uma experiência em que morei fora, alguns pensamentos sobre maternidade começaram a surgir", conta. 

A ideia inicial era adotar. Mas aos 32 anos, Cláudia passou a cogitar a possibilidade de gestar uma criança. Um ano depois, ainda em meio a dúvidas sobre seu futuro como mãe, recebeu uma oferta para trabalhar em uma empresa que subsidia o congelamento de óvulos. 

Cláudia diz que uma das primeiras coisas que escutou de colegas foi como a empresa apoiava o procedimento e auxiliava com outros benefícios, como a Fertilização in vitro (FIV). "Fiquei dois anos maturando a ideia de congelar. Muito porque já tinha amigas que estavam pensando em fazer o procedimento e dividiam comigo todo o processo e o investimento alto", diz. 

A produtora decidiu realizar o procedimento. Por enquanto fez apenas um ciclo. Mesmo assim, Cláudia reforça que isso não significa que ela queira seguir com um plano de ser mãe. "Ainda não tenho 100% de que quero concretizar. São muitas variáveis. Ter feito é um espaço na minha consciência de que quando eu estiver pronta, meus óvulos estarão lá para serem usados", conta. 

Histórias como a de Cláudia têm sido cada vez mais comuns no mundo corporativo. Oferecer assistência ou subsídio para congelar óvulos, além de outros procedimentos relacionados à formação de famílias, se tornou um atrativo forte no mercado.

Mas ao passo em que as companhias se vendem como mais inclusivas, críticos afirmam que as medidas podem ser apenas uma maneira de adiar a gravidez, em uma sociedade que prioriza os homens do que mulheres com filhos no mercado de trabalho. 

Segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicado em 2021, a taxa de ocupação profissional das mulheres com idades entre 25 e 49 anos que viviam com crianças de até três anos era de 54,6%, enquanto para os homens na mesma situação, o índice era de 89,2%. 

Para Cláudia, a visão sobre os benefícios oferecidos pelas companhias depende muito de cada funcionária. "No final do dia, o capital é o que rege a sociedade, e nenhuma empresa está livre desse objetivo final. Considero que é muito mais como a colaboradora recebe essa oportunidade de benefício e como lida com isso", comenta. 

Empresas oferecem benefícios de congelamento de óvulos
Empresas oferecem benefícios de congelamento de óvulos
Foto: PhonlamaiPhoto

Acesso ampliado

Alguns anos atrás, o acesso a procedimentos como congelamento de óvulos e a FIV era mais difícil, principalmente por causa dos preços. "A possibilidade de ter o procedimento incluso na lista de benefícios corporativos faz com que mais pessoas possam ter acesso ao congelamento de óvulos. Enxergo esse benefício de forma positiva porque ele significa mais autonomia para essas mulheres", diz a ginecologista Natália Ramos. 

Mas mesmo com os benefícios oferecidos por algumas empresas, a médica lembra que o tratamento ainda não está à disposição de todos. "É frustrante saber que o congelamento ainda é inacessível para muitas pessoas". 

Para a especialista, o benefício deve fazer parte de um plano ampliado de inclusão para mulheres no meio corporativo. "É importante também que essa iniciativa seja acompanhada de outras políticas que tornem o mercado de trabalho menos hostil para as mulheres, como licenças parentais estendidas, auxílio creche e uma visão de equidade de gênero por parte das empresas". 

Planejamento reprodutivo

O congelamento de óvulos pago por empresas pode ser um passo importante no planejamento reprodutivo, segundo o ginecologista e especialista em reprodução humana e FIV, Dr Waldemar Carvalho. "A empresa que paga isso respeita mais o desejo da mulher sem ela se sentir pressionada. Isso é muito benéfico", diz.

Mas o planejamento reprodutivo não é algo costumeiro no Brasil. A ginecologista Natália Ramos diz que mulheres têm adiado seus planos de maternidade sem informações suficientes sobre a fertilização ou se é seguro para elas, de forma individualizada, atrasar esse movimento com segurança.

"Como especialista em reprodução humana, me dói e me frustra muito quando ouço coisas como “queria que alguém tivesse me contado isso antes”, quando descobrimos uma reserva ovariana baixa e há pouco a se fazer", diz. 

A médica considera o congelamento de óvulos como uma alternativa para ganhar mais autonomia no processo do planejamento familiar, mas defende que a medida deva fazer parte de um programa maior. "O ideal é que venha acompanhado de um plano de vida reprodutivo, ou seja, uma linha do tempo traçada de acordo com a realidade de cada uma, com demandas individualizadas, para que ela possa adiar a maternidade de forma consciente e informada". 

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Acompanhamento preventivo

Mesmo que o congelamento de óvulos dê mais liberdade para as mulheres decidirem quando querem ter filhos, especialistas defendem que haja um acompanhamento periódico com especialistas para avaliar caso a caso.

"Existem mulheres que vão ter uma reserva ovariana, ou seja, uma quantidade de óvulos boa acima dos 40 anos, mas a qualidade de óvulos já está ruim. E vai ter mulher com menos de 35 anos que vai ter uma quantidade de óvulos diminuída, mas a qualidade de óvulos por conta da idade está boa", explica o ginecologista Dr. Waldemar Carvalho. 

Em média, a idade ideal para congelar os óvulos é entre os 30 e 34 anos, mas há situações que fogem do padrão. "Médias são úteis para fazer políticas públicas, mas quando falamos da vida fértil, esse olhar deve ser individualizado. Algumas pessoas vão se deparar com uma reserva baixa aos 30 anos, outras podem chegar aos 38 com uma reserva mais alta. Por isso bato na tecla do acompanhamento preventivo, periódico e individualizado", diz a ginecologista Natália Ramos. 

Fonte: Redação Terra Você
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