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Inovação brasileira pode evitar amputação de pacientes com diabetes

Aparelho utiliza luz LED e látex para restaurar tecidos e cicatrizar lesões relacionadas à doença

12 dez 2025 - 20h12
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Pesquisadores brasileiros desenvolveram um dispositivo feito com látex natural e luzes LED para reduzir os casos de amputações decorrentes de complicações do diabetes.

Batizado de Rapha, o aparelho é indicado para pacientes com feridas diabéticas, uma das complicações mais comuns da falta de cuidado adequado com a doença. Ele reúne curativos de látex natural que, acoplados à pele e combinados com a emissão de luz LED, estimulam a cicatrização e a regeneração dos tecidos.

O dispositivo é uma alternativa aos curativos tradicionais, que geralmente são trocados em ambiente hospitalar e exigem acompanhamento especializado.

Entre janeiro de 2012 e maio de 2023, mais de 282 mil cirurgias de amputação de membros inferiores — como pernas e pés — foram realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de complicações do diabetes, segundo dados levantados pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV).

Como surgiu a ideia

Pesquisadora em engenharia biomédica e professora associada da Universidade de Brasília (UnB), Suélia Fleury Rosa começou a desenvolver o Rapha em 2005, quando descobriu que o látex brasileiro tinha característica de angiogênese, ou seja, é capaz de estimular o crescimento de novos vasos sanguíneos.

"Sabendo do tratamento convencional das feridas causadas pelo diabetes, percebi que a taxa de cura era baixa porque o paciente normalmente não tem condição de comprar os materiais adicionais necessários para o cuidado em casa", explica Suélia. A partir dessa observação, ela quis desenvolver algo que permitisse a continuidade do tratamento em domicílio.

A lâmina de látex funciona como o curativo, enquanto o equipamento, semelhante a uma tornozeleira eletrônica, mantém a folha no lugar e emite luz LED por 35 minutos diários, em horário programado, sobre a região a ser cicatrizada.

Equipamento Rapha, utilizado em feridas diabéticas.
Equipamento Rapha, utilizado em feridas diabéticas.
Foto: Divulgação / Estadão

Após os 35 minutos de exposição ao LED, o paciente deve seguir o protocolo de higienização indicado pelo médico e substituir a lâmina — a troca da folha de látex deve ser feita diariamente. Todos os itens vêm reunidos em um kit que acompanha o dispositivo.

Segundo a pesquisadora, o dispositivo pode facilitar especialmente tratamentos longos, nos quais as feridas são maiores, e seu uso não dispensa o acompanhamento médico.

"Se um paciente faz o tratamento com o Rapha por 90 dias, ele não ficará esse período todo sozinho. Continuará visitando o médico para avaliar o funcionamento do dispositivo e a cicatrização da ferida", afirma.

Desenvolvimento

A proposta foi apresentada em artigos publicados em revistas científicas como Annals of Biomedical Engineering, Research on Biomedical Engineering e American Journal of Translational Research.

Neste ano, o Rapha também foi empregado em uma pesquisa para avaliar se haveria benefícios em combinar à terapia o uso de curcumina. O estudo foi publicado em junho, na revista Pharmaceutics.

Segundo Suélia, mais de 300 pacientes já participaram dos diferentes ensaios clínicos com o dispositivo, que foi certificado pelo Inmetro e está em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), etapa final antes que possa ser comercializado.

Quais as causas da ferida diabética?

As feridas podem surgir em decorrência da neuropatia diabética, condição que pode começar com dor, queimação ou formigamento, evoluindo para a perda de sensibilidade nas extremidades, como os pés. Também podem ser causadas pela doença vascular periférica, caracterizada pela má circulação, que dificulta a cicatrização e o combate a infecções.

Essas condições podem evoluir porque o paciente, ao se machucar, nem sempre percebe o ferimento. Quando nota, a lesão já está maior e demanda cuidados médicos e curativos. Os casos podem progredir para amputação devido à necrose provocada pela perda de vasos na região e pela dificuldade de cicatrização.

De acordo com a endocrinologista Geisa Macedo, coordenadora do Departamento de Neuropatias e Complicações nos Pés da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), as duas condições são mais frequentes em pessoas com diabetes que não controlam a glicemia e outras doenças associadas, como pressão arterial elevada e colesterol alto.

"Esse descontrole vai lesionando os nervos e a pessoa pode perder a sensibilidade. Mas, inicialmente, os sintomas são queimação e formigamento", explica.

A neuropatia costuma surgir após cerca de dez anos de diagnóstico do diabetes em casos mal controlados, mas pacientes com obesidade ou em estágio pré-diabético também podem desenvolver a condição, segundo Geisa.

"Entre 10% e 20% dos pacientes têm neuropatia antes mesmo de receber o diagnóstico de diabetes. Pessoas com obesidade, mesmo sem diabetes, também podem apresentar risco metabólico de neuropatia por conta da gordura abdominal elevada", afirma a médica.

A condição é monitorada de acordo com dois níveis de risco. Quando a sensibilidade e a circulação estão preservadas, a avaliação anual das extremidades é suficiente. Já quando há perda de sensibilidade ou problemas de circulação, o acompanhamento dos pés deve ocorrer duas vezes por ano.

Pacientes que já passaram por amputações decorrentes do diabetes ou que têm condições associadas, como doença renal, também devem ser avaliados com mais cautela, segundo a especialista.

Estadão
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